Com uma ociosidade acima de 50% e novos investimentos interrompidos, a indústria do biodiesel sofre com a falta de cumprimento por parte do governo do mandato do biodiesel previsto em 2018. Se a resolução do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tivesse sido cumprida, a mistura do biodiesel ao diesel mineral deveria ser hoje de 14%. Mas em novembro do ano passado, diante da alta do combustível, a área econômica decretou o retorno da mistura aos atuais 10%, causando prejuízos para produtores e trazendo risco de perda de empregos para mais de 300 mil agricultores familiares que dependem da produção para seu sustento.

Se nada for feito para retomar a produção do combustível renovável, há risco de quebradeira no setor, alerta o diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e do Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski. Em entrevista ao programa CB.Agro, parceria entre o jornal Correio Braziliense e a TV Brasília, o dirigente lembrou que o aumento da mistura para 14%, em cumprimento à resolução do CNPE, além de gerar investimentos no setor e mais empregos, contribuiria também para a redução da emissão dos gases tóxicos na atmosfera, melhorando o meio ambiente e evitando milhares de mortes anuais. “O governo brasileiro firmou o compromisso de redução de gases de efeito estufa na COP-26. Entre esses compromissos, está a redução do uso de combustíveis fósseis”, diz.

O não cumprimento da resolução do CNPE de 2018, lembra Tokarski, vai na contramão do que o Brasil se comprometeu na conferência do clima. “A manutenção da mistura de biodiesel em 10% no ano passado e este ano (2021), quando era para estarmos em 14%, tem também essa questão climática”, pontua.

O diretor superintendente da Ubrabio recorda ainda que a decisão do mandato do biodiesel data de 2018, e que a política previa acréscimos anuais de 1 ponto percentual na mistura do biodiesel ao diesel mineral. Se a política tivesse sido cumprida, em março de 2021 esse percentual deveria ter sido de 13%, passando para 14% neste ano e chegando a 15% em 2023.

Para Donizete Tokarski, a redução no percentual gera impacto não somente na indústria do biodiesel como em todo setor do agronegócio que forma a cadeia. “Essa redução de aproximadamente 40 pontos percentuais na indústria de biodiesel pode gerar, nesse primeiro semestre, o fechamento de várias industrias”, prevê Tokarski.

Recentemente, o governo federal aventou a possibilidade de importar biodiesel de outros países para tentar reduzir o preço dos combustíveis no mercado interno, o que gerou um aumento vertiginoso, acompanhado das cotações internacionais do petróleo. Para o setor de biodiesel, a proposta do governo é uma afronta que fará com que as atividades desenvolvidas no país fiquem inviáveis.

Segundo Tokarski, o Brasil tem capacidade suficiente para produzir combustíveis não necessitando importar de outros países. “Enquanto o Brasil ameaça importar combustível de fora, mais da metade das nossas indústrias está ociosa, sendo que elas dão conta de produzir todo o combustível necessário, não sendo necessário importar”, pontuou.

Confira no link abaixo a íntegra da entrevista: