Um detalhado estudo apresentado na II Biodiesel Week nesta quarta-feira (11) pela diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Heloisa Borges, mostra que a utilização de biodiesel na Região Metropolitana de São Paulo teria um impacto econômico de R$ 24,6 bilhões se o percentual de mistura deste biocombustível ao diesel de petróleo fosse de 15%, quando comparado ao uso somente do diesel fóssil (B0). Hoje o percentual de mistura do biodiesel no diesel fóssil é de 10% e passará a ser de 12% a partir de primeiro de setembro.

Os cálculos feitos pela EPE e divulgados durante os debates sobre o tema “Biodiesel, o valor além do preço – aspectos sociais, ambientais e de saúde pública”, calculou o impacto em mortes que seriam evitadas em razão da poluição veicular com a adição de 15% de biodiesel ao diesel, o aumento da expectativa de vida de quem vive na região e o alongamento na atividade produtiva.

Para realizar o trabalho, a EPE utilizou o inventário de emissões realizado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) realizado nos 39 municípios da RMSP. O estudo da estatal ligada ao ministério de Minas e Energia também revela que, se o percentual de biodiesel no diesel fóssil fosse de 12%, o impacto econômico seria de R$ 18,93 bilhões, quando comparado a 0%, pelo aumento da expectativa de vida da população.

“Este impacto tem que ser considerado no cálculo do valor do biodiesel. O biodiesel apresenta vantagens ambientais e sócio econômicas, contribuindo para a geração de emprego e aumento da renda”, disse Heloísa Borges. “O programa de biodiesel vai além da produção de energia, que por si só já é importante, mas também descarboniza a matriz de transportes”, acrescentou a diretora da EPE.

Os debates do terceiro dia da II Biodiesel Week foram mediados pelo diretor da União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, e também contaram com a participação dos presidentes da Associação Brasileira de Reciclagem Animal (ABRA), Pedro Bittar, da União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidaria de Alagoas, Antonino Cardozo, do presidente da Associação Brasileira de Asmáticos (ABRA), Cláudio Abraão do Amaral, e da diretora do Departamento de Alergia da entidade, Yara Mello.

Cláudio Abraão disse que estatísticas da associação dos asmáticos mostram que mais de 5 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo devido a doenças respiratórios causadas pela poluição. A médica Yara Mello lembrou que a poluição ambiental é a maior causa de mortes no Mundo. “Os produtos químicos poluentes são causas de doenças graves e até problemas genéticos”, disse ela.

Presente aos debates, o presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, disse que as consequências para a saúde pública da poluição causada pelo diesel de petróleo são extremamente graves. “Estamos em uma guerra silenciosa”, alertou o industrial que é um dos pioneiros na produção de biodiesel. Segundo ele, é possível o Brasil fazer grandes avanços, principalmente na sua frota de veículos para que estes equipamentos sejam mais adequados aos biocombustíveis. “Nossa plataforma automotiva está atrasada”, lembrou.

EMPREGO E RENDA 

O presidente da UNICAFES lembrou na sua participação nos debates da II Biodiesel Week que este ano mais duas mil famílias foram inseridas no programa selo social como fornecedoras de matéria prima para o biodiesel. “Em 2020 o programa selo social permitiu o um investimento de R$ 67 milhões em assistência técnica”, comemorou Cardozo.

Responsável pela coleta de resíduos de produtos de origem animal em açougues, frigoríficos e supermercados de todo o país, o setor de reciclagem animal passou a ter no biodiesel um cliente importante e que viabiliza economicamente o segmento. “Sem o setor do biodiesel não existiria a indústria de reciclagem animal e o Brasil viveria os graves problemas ambientais de anos atrás”, disse o presidente da ABRA, Pedro Bittar.

O deputado federal Alexis Fonteyne (Novo-SP), ex-presidente da Frente Parlamentar da Bioeconomia, participou dos debates e sugeriu que o Congresso Nacional deve discutir a taxação de produtos poluentes, como o diesel fóssil. “Como congressista, creio ser necessário um sistema tributário melhor para a cadeia do biodiesel, para atrair mais investimentos”, afirmou.