Palmeira nativa do Brasil, a macaúba pode ser uma alternativa para suprir a necessidade maior de biodiesel adicionado ao óleo diesel, que será de 10% em 2019, o que elevará em 2020 para 7 bilhões de litros o volume necessário no país.

Diante do aumento da demanda por biodiesel – que no Brasil é basicamente fornecido pela soja (76,5%), pesquisadores paulistas testam novas matérias-primas. A mais recente, objeto de estudo de várias instituições de pesquisa brasileiras, é o óleo do fruto da macaúba, uma palmeira encontrada em quase todo Brasil, do norte de Minas Gerais até o norte da Argentina.

A macaúba se converteu na nova promessa para a produção de biodiesel em razão da quantidade de óleo que essa cultura sem nenhum melhoramento agronômico produz num espaço um hectare até quatro mil litros. A título de comparação, a soja rende 500 litros por hectares.

A planta (Acrocomia aculeata) é uma palmácea nativa presente no Cerrado, na região Centro-Oeste, Pantanal e até na parte oeste e sul da região amazônica. “Não existe na história brasileira uma planta nativa que tenha atraído tantos pesquisadores em tão pouco tempo”, avalia o engenheiro agrônomo Carlos Augusto Colombo, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). “São mais de 100 pesquisadores no Brasil estudando o melhoramento genético da macaúba e as características químicas do óleo”.

O trabalho no IAC começou em 2006, quando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outros órgãos de fomento incentivaram por meio de editais a pesquisa com oleaginosas para a produção de biodiesel.

Colombo teve um projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo, no qual levantou e identificou plantas de macaúba em vários locais do estado de São Paulo. “Foi uma coleta de sementes dos frutos para que pudéssemos estudar a variabilidade genética na população e fazer cruzamentos entre elas para uma futura formação de cultivares para plantio”.

Depois de 10 anos, Colombo anuncia que em mais quatro anos o IAC poderá lançar no mercado agrícola uma variedade para plantio voltada à produção de óleo.

Lembrança do pinhão

“O óleo de macaúba é muito estável e tem ácido láurico, um importante ingrediente para a indústria de cosméticos. Na natureza, a planta gera de três a quatro mil litros de óleo por hectare. Com o nosso melhoramento, atingiremos de oito a nove mil litros por hectare”, afirma Colombo.

Entre os projetos em que participa está um do Banco Mundial, junto com a Universidade Leuphana, da Alemanha, que financia a plantação de macaúba em 2.000 ha em Patos de Minas (MG) com apoio do IAC e que funciona em consórcio com a criação de gado. Esse tipo de associação contribui para recuperar pastagens.

Colombo diz que toma todos os cuidados para que não ocorra com a macaúba o que aconteceu há alguns anos com o pinhão-manso (Jathopha curcas): um excesso de otimismo entre produtores de biodiesel antes mesmo de existirem pesquisas e o estabelecimento de dados agronômicos sobre a cultura.

“O pinhão-manso não apresentava plantas de porte baixo, o que dificulta a colheita. Tem frutos grandes, pequenos e amadurecimento em épocas distintas em pés diferentes na mesma plantação”, lembra.

Para evitar essa situação, os pesquisadores estão identificando as melhores plantas de macaúba, com porte baixo, mais produtivas e com maiores teores de óleo. A macaúba pode produzir por mais de 20 anos.