12/08/2020 – Aproximadamente, 70% do biodiesel produzido no Brasil vem da soja, o que torna esse biocombustível extremamente vulnerável às oscilações de disponibilidade e, consequentemente, de preço do grão no mercado. Diante desse cenário, buscar alternativas para ampliar a oferta de matérias-primas, aproveitando a biodiversidade brasileira, é um desafio que une o governo, a indústria e a comunidade científica. Essa questão foi o ponto de partida para o webinar “Novas matérias-primas para o biodiesel”, realizado na tarde de 11 de agosto, dentro da programação da Biodiesel Week.

Para debater as alternativas para viabilizar essa diversificação, a Ubrabio e a Embrapa Agroenergia, promotoras do evento, convidaram os pesquisadores Bruno Laviola, da Embrapa Agroenergia; Juliana Espada Lichston, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Roberto Derner, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Também participaram do webinar o coordenador-geral de Estratégias e Negócios da Secretaria de Empreendedorismo e Inovação, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Rafael Menezes; e o diretor de Operação da usina produtora de biodiesel Biopar, Rômulo Morandin, associado da Ubrabio e a quem coube moderar os debates.

De acordo com Rafael Menezes, o biodiesel está entre as prioridades da estratégia de ciência, tecnologia e inovação do MCTI, que conta com um plano específico para atuar em pesquisa e desenvolvimento nessa área. Segundo o representante do Ministério, a diversificação de fontes de matéria-prima é, sem dúvida, o principal desafio para produção de biodiesel.

“A produção de biodiesel está na dependência de uma única fonte de matéria-prima, o que, de certa forma, contrapõe o que era o objetivo inicial do programa de biodiesel, que era sustentar a sua cadeia de produção e uso com base na diversidade das matérias-primas existentes nas cinco regiões do país”, lembrou Rafael Menezes.

Trabalhando há vários anos em busca de novas alternativas, o pesquisador Bruno Laviola iniciou sua apresentação fazendo um adendo sobre a importância do papel da soja na cadeia produtiva do biodiesel. “A soja foi, é e continuará sendo a principal matéria-prima para o biodiesel no Brasil. Isso devido, principalmente, ao desenvolvimento que essa cultura teve no país nos últimos anos”, afirmou.

A despeito da hegemonia da soja, o pesquisador defendeu a necessidade de o Brasil trabalhar pela diversificação. “É importante que a gente tenha outras opções para que o país não fique na dependência dos riscos inerentes a uma ou poucas fontes de matérias-primas”, defendeu Laviola. “Além disso, a diversificação traz um componente ambiental, social e econômico muito importante, principalmente nas diferentes regiões do Brasil gerando novas fontes de renda”, explicou o supervisor do Núcleo de Desenvolvimento Institucional da Embrapa Agroenergia.

Nesse sentido, o pesquisador destacou três apostas de oleaginosas com grande viabilidade para serem utilizadas como matéria-prima na produção de biodiesel no Brasil. Segundo Bruno Laviola, as alternativas mais promissoras são a palma de óleo (dendê), que é a oleaginosa responsável pela maior produção de óleo no mundo; a macaúba, que é nativa do Brasil e tem, entre suas vantagens, um grande potencial produtivo; e a canola, que é a terceira maior oleaginosa em termos de produção de óleo no mundo, ficando atrás apenas da palma e da soja.

Conhecido pela sua biodiversidade, o Brasil tem condições de produzir novas matérias-primas até mesmo em áreas climaticamente desfavoráveis à agricultura, como o Semiárido brasileiro. Os estudos para o cultivo de cártamo na região, realizados pela professora e pesquisadora Juliana Lichston, no Laboratório de Investigação de Matrizes Vegetais Energéticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, mostram que isso é perfeitamente possível.

“Temos uma parceria muito sólida há 4 anos, com a Ben-Gurion University, de Israel, que tem um know how incrível no cultivo de plantas em ambientes desérticos. Estamos buscando essa tecnologia. Não só importando, mas construindo uma metodologia juntos, que seja adaptada à região semiárida brasileira”, explicou Juliana Lichston, que coordena o laboratório.

A busca pela diversificação, entretanto, não se restringe apenas a pesquisas com vegetais. Professor do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, o pesquisador Roberto Derner vem estudando há vários anos a utilização de microalgas como matéria-prima para produção de biodiesel.

“Praticamente, de quase todas as microalgas é possível fazer biodiesel. Algumas delas são muito melhores, têm maior teor de lipídios de interesse. Além disso, as microalgas, quando comparadas a outras matérias-primas, têm maior produtividade, podem ser cultivadas em áreas impróprias para a agricultura convencional, com água e solo impróprios, ou seja, possuem uma série de vantagens”, explicou Roberto Derner, que é supervisor do Laboratório de Cultivo de Algas da UFSC.

Assistindo às apresentações dos pesquisadores, o presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, afirmou que falta uma política para viabilizar os diferentes estudos que têm sido realizados pelos grupos de pesquisa no Brasil e que otimizem os seus resultados.

“Algo está faltando para que se viabilize (essas iniciativas). Está faltando fomento e uma política transversal que envolva o Ministério da Agricultura e o Ministério do Desenvolvimento Regional, que tem um olhar mais vinculado ao Nordeste. Está faltando unir pontas que permitam que esse enorme potencial brasileiro ganhe uma velocidade maior”, afirmou Juan Diego Ferrés.

O webinar “Novas matérias-primas para o biodiesel” também foi acompanhado pelo chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, que destacou a importância das parcerias privadas para estimular os trabalhos que têm sido realizados.

“Precisamos organizar uma rede com objetivos bastante claros, que canalize recursos para os estudos, que traga a iniciativa privada para o estabelecimento de modelos de parcerias. Tenho certeza de que assim vamos conseguir fazer muito dessa ideia que o presidente da Ubrabio está propondo”, destacou Alexandre Alonso.

Webinar Novas Matérias-Primas para o Biodiesel

  • Vídeo sobre estudos para o cultivo de cártamo no semiárido, realizados pela professora e pesquisadora Juliana Lichston – Assistir