Biodiesel e bioquerosene se destacam como importantes alternativas energéticas sustentáveis, capazes de impulsionar o desenvolvimento do Brasil em direção a uma economia mais verde e resiliente. Representam soluções inovadoras para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a diversificação da matriz energética do país. Neste contexto, compreender a importância desses biocombustíveis para o Brasil é fundamental para saber explorar os benefícios ambientais, econômicos e tecnológicos que podem ser alcançados através de sua produção e utilização.

Além de contribuir no devido cuidado com o meio ambiente, esses combustíveis são um passaporte para o futuro, com imenso poder de impulsionar a economia brasileira. Com a demanda e produção em alta, mais empregos são criados e a indústria se expande, gerando mais riqueza e oportunidades para todos. É o famoso “ganha-ganha” verde e amarelo!

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o valor do PIB agregado das cadeias produtivas da soja e do biodiesel chega a R$ 691 bilhões apenas em 2023, representando 28,5% do PIB associado ao agronegócio brasileiro e 6,3% do PIB total do país. Cenário esse que deverá continuar em expansão, uma vez que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) já aprovou a elevação do percentual de mistura, e com o B15, o consumo anual deverá atingir 10 bilhões de litros até 2026 .

O potencial é imenso e, se tratado com a devida prioridade, fará do Brasil não apenas autossuficiente e menos vulnerável às variações de preços e instabilidades do mercado energético, mas um líder global na geração de energia renovável. Será como dar um grito sustentável de independência energética!

Contudo, o caminho para a consolidação desse projeto é longo e desafiador. A produção em larga escala e a logística de distribuição ainda enfrentam desafios tecnológicos e de infraestrutura, que apenas podem ser superados com a construção de políticas que assegurem o crescente aumento da demanda com a elevação dos percentuais de mistura de biocombustíveis nos combustíveis fósseis (caminho já adotado pelo governo do presidente Lula), volumosos recursos para pesquisa e inovação, estruturação de novas plantas para o refino de diferentes biomassas, além da construção de instrumentos e normas de certificação dos processos,  abrindo um caminho seguro para um futuro mais verde.

Os desafios incluem a garantia de suprimento sustentável de matérias-primas, bem como a garantia de competitividade em relação aos combustíveis fósseis. Para tal, é necessário acelerar medidas para o crescimento do mercado de biocombustíveis, com a expansão do mercado interno, das exportações e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras para ampliar a eficiência e a sustentabilidade da nossa indústria.

Apenas no caso do SAF (Sustainable Aviation Fuels ou Combustível Sustentável de Aviação), rota para descarbonizar a aviação, observamos um grande mercado à conquistar atualmente, uma vez que hoje representa menos de 0,1% dos combustíveis de aviação utilizados, sendo o restante QAV de origem fóssil (IEA, 2023).

Conectar a produção dos nossos biocombustíveis com o fortalecimento da indústria nacional é uma condição indispensável, se quisermos transformar esse potencial em geração de riqueza. Contudo, alguns passos são obrigatórios: Investir em infraestrutura de transporte, estimular a produção e o consumo local, ampliar o investimento em desenvolvimento tecnológico e integrar as cadeias produtivas construindo parcerias estratégicas.

Muitas questões ajudam a entender o entusiasmo com a janela de oportunidades diante nós, uma delas é a grande variedade de biomassas encontradas em todas às regiões do nosso país e que podem derivar biocombustíveis. Essas principais fontes de matérias-primas incluem: Óleos vegetais (como os extraídos da soja, dendê, girassol, algodão, amendoim, pinhão-manso, canola e abacate); Gordura animal (proveniente do sebo de boi, banha de porco, óleo de aves e óleo de peixes); Óleos e gorduras residuais (que podem ser recolhidos de restaurantes, bares, lanchonetes, residências e águas residuais da indústria de alimentos).

Essas matérias-primas são transformadas em biocombustíveis através de processos como a transesterificação, que é uma reação química entre a matéria-prima lipídica e um álcool, geralmente metanol ou etanol. O biodiesel produzido é um éster monoalquílico de ácidos graxos, que pode ser utilizado como combustível em motores a diesel, enquanto o bioquerosene é utilizado como combustível para aviões.

A escolha da matéria-prima pode variar de acordo com a região, disponibilidade e viabilidade econômica. No Brasil, o óleo de soja e o sebo bovino são destacados como importantes fontes para a produção de biodiesel devido à grande disponibilidade e ao baixo custo. O óleo de soja, por exemplo, é hoje a principal matéria-prima utilizada, representando entre 65% e 70% da produção nacional de biodiesel. Quando falamos do sebo bovino, os números também impressionam, uma vez que o Brasil produz por ano mais de 1,5 milhão de toneladas, e de cada quilo são produzidos aproximadamente 800 ml de biodiesel, o que mostra o quão viável é produzir biocombustível com rejeitos bovinos.

Quando falamos de modo mais amplo sobre os cinco tipos de matérias-primas mais vantajosas economicamente e já em uso para a produção de biodiesel no Brasil, encontramos: Óleo de Soja; Gordura bovina; Óleo de algodão; Óleo de dendê (palma); Óleo de cozinha usado.

Fazendo o recorte por região, identificamos o seguinte mapa: Região Norte: 1º Óleo de soja e 2º Gordura bovina; Região Nordeste: 1º Óleo de algodão, 2º Óleo de soja e 3º Óleo de dendê; Região Centro-Oeste: 1º Óleo de soja, 2º Gordura bovina, 3º Óleo de algodão e 4º Óleo de fritura; Região Sudeste: 1º Gordura bovina, 2º Óleo de soja, 3º Óleo de algodão e 4º Óleo de dendê; Região Sul: 1º Óleo de soja, 2º Gordura bovina, 3º Óleo de algodão e 4º Gordura de porco.

Ao mesmo tempo em que buscamos evoluir no manejo e beneficiamento das biomassas citadas acima, adotando medidas que assegurem o aumento de produção e ganho de competitividade, temos visto avançar pesquisas que identificam novas matérias-primas, das quais, destaco a macaúba.

Palmeira nativa do Brasil, tem se destacado nas pesquisas para a produção de biocombustíveis devido a várias características promissoras, como: Produtividade; Adaptabilidade; Sequestro de Carbono; Atração de Investimentos.

Em um breve comparativo, identifica-se que a macaúba pode produzir de sete a oito vezes mais óleo por hectare/ano do que a soja, tornando-a uma fonte muito eficiente de óleo vegetal para biocombustíveis. Ela cresce naturalmente em uma ampla gama de ambientes, tendo capacidade de se desenvolver em regiões secas.

A macaúba também contribui para a captura de carbono, com cada hectare de macaúba sequestrando cerca de 20 toneladas de carbono por ano, o que é benéfico para o meio ambiente.

Outro ponto a se destacar, é a capacidade de investimento que essa rota tem despertado. Por exemplo, a Acelen anunciou um investimento de mais de R$ 12 bilhões em combustíveis renováveis, com R$ 8,5 bilhões destinados especificamente para o desenvolvimento da cultura da macaúba.

O óleo extraído do fruto da macaúba pode ser usado para muitos derivados rentáveis, dentre os quais destaco a produção de diesel verde (HVO) e querosene sustentável de aviação (SAF), ambos com mercados já estabelecidos no exterior.

Esses esforços refletem o potencial da macaúba como uma cultura estratégica para a bioeconomia de baixo carbono, alta rentabilidade e inclusão social. A planta está se tornando uma ferramenta importante para atender aos desafios de desenvolvimento sustentável e produção mais limpa.

Conectada com a agenda da transição energética, e ciente da centralidade dos biocombustíveis nessa construção, a ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, criou o Projeto RePlantar Energia.

A iniciativa, desenvolvida em parceria com o Governo do Estado da Bahia, tem como objetivo a adoção de medidas que resultem na melhora do beneficiamento do Agave, e tem como base, pesquisa desenvolvida pela Unicamp – Universidade de Campinas, em parceria com a UFRB – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, que estudou o potencial do Agave -planta típica do semiárido- para produção de biocombustíveis. O estudo, tem como coordenador o professor/doutor Gonçalo Pereira, do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coordenador do Laboratório de Genômica e Bioenergia (LGE).

Assim como a macaúba, o Agave é uma biomassa de grande potencial na produção de biocombustíveis por várias razões: Alta produtividade; Adaptabilidade; Abundância; e Baixo custo de produção.

Planta de crescimento rápido e alta produtividade, ela gera uma quantidade significativa de biomassa em um curto período, e cresce em condições climáticas e de solo adversas, como as encontradas no semiárido brasileiro, podendo ser utilizado na fabricação de uma variedade de produtos, como fibras, alimentos, produtos químicos e farmacêuticos, o que aumenta sua versatilidade e valor econômico.

Portanto, o Agave é uma biomassa promissora para a produção de biocombustíveis devido à sua produtividade, adaptabilidade, diversidade de produtos, custo de produção e sustentabilidade ambiental. Dela, é possível derivar diversos biocombustíveis, incluindo: Bioetanol de 1ª geração; Bioetanol de 2ª geração; Biometano; Biohidrogênio; e Biochar.

No estado da Bahia, especificamente na região conhecida como território do sisal, uma área de 20.454 km², que representa cerca de 3,6% do território do estado, há um grande potencial de produção local para a extração e beneficiamento dos derivados do Agave.

A região possui condições climáticas e edáficas favoráveis para o cultivo do Agave, com uma temperatura média adequada entre 23,6º C e 24,9º C e uma precipitação anual que varia de 485,7 mm a 942,4 mm, o que favorece o cultivo na região.

O território tem uma longa tradição na produção de sisal (fibra extraída do Agave), o que demonstra a experiência e o conhecimento dos agricultores locais. Essa expertise pode ser aproveitada na transição para a produção de outros derivados.

E esse é um dos objetivos do projeto Replantar Energia – Ampliar e diversificar o beneficiamento do Agave. Hoje, o único modo de beneficiamento existente na região garante um aproveitamento de apenas 4% de toda a planta, através da extração da fibra, o que provoca um desperdício de 96% do Agave.

Os estudos coordenados pela Unicamp e a UFRB, mostram que é possível saltar dos atuais 4% para 95% de aproveitamento. Diante desses dados, a missão da ABDI, junto com o Governo do Estado da Bahia, é levantar informações e desenvolver modelo que ateste a viabilidade econômica para uma produção em larga escala, envolvendo os pequenos produtores rurais e explorando de forma sustentável a produção de derivados do Agave, contribuindo para o desenvolvimento econômico e a promoção de uma matriz energética mais limpa e renovável.

Por fim, à medida que o Brasil avança em direção a um futuro energético mais sustentável, os biocombustíveis em seus múltiplos derivados, emergem como pilares fundamentais dessa transição. Com a rica biodiversidade e o compromisso com a inovação, o país está bem-posicionado para liderar a revolução verde na economia global.

A adoção desses biocombustíveis não apenas reduzirá a dependência de fontes de energia fósseis, mas também impulsionará a economia local, criará empregos e promoverá uma sociedade mais limpa e saudável. O sucesso dessa jornada dependerá da colaboração contínua entre governos, indústrias e comunidades, garantindo que o Brasil continue a ser um exemplo de progresso e sustentabilidade no palco mundial

 

Marcelo Gavião

Graduado em Gestão Pública

Especialista em Energias Renováveis

Gerente de Nova Economia e Indústria Verde da ABDI

ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.

 

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