Cerca de 50 mil pessoas morrem por ano no Brasil em razão da poluição atmosférica, e o diesel comum, também conhecido como diesel S500, por conter 500 (PPM) partes por milhão de enxofre, sendo um dos principais responsáveis por esta tragédia.

Este é um dos grandes desafios na saúde pública no país, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado em 2018.

O enxofre, como sabemos, é um produto químico mortal, e que acaba sendo lançado na atmosfera das cidades brasileiras pelos escapamentos de ônibus, caminhões, máquinas agrícolas, motores estacionários e até usinas termelétricas, usadas para gerar energia.

Para se ter uma dimensão do estrago, para cada mil litros de diesel fóssil S500 queimado é lançado meio quilo de enxofre no meio ambiente.

Os óxidos de enxofre, produzidos no processo de queima do enxofre, como no caso da combustão dos veículos a diesel, também são irritantes e tóxicos para os seres humanos.

Em função do alto teor de enxofre neste combustível, há grandes gastos do governo com o sistema de saúde pública, sobretudo nos grandes centros urbanos, onde há maior concentração de poluição atmosférica.

Estudos têm demonstrado que a poluição é responsável não só pelo impacto na saúde, mas também no setor econômico, por maior procura no Sistema Único de Saúde (SUS), aumento na demanda por consultas médicas, exames, hospitalizações e necessidade de usos de medicamentos, além da diminuição produtiva no trabalho e no rendimento escolar (1).

Conforme publicação da Confederação Nacional do Transporte (CNT), “as crianças, os idosos e os portadores de doenças respiratórias formam a população mais suscetível aos efeitos da poluição”.

De acordo com a publicação, a estimativa é de que na cidade São Paulo, por exemplo, para cada aumento de 10 microgramas/metro cúbico (µg/m3) na concentração de material particulado (MP) inalável no ar (fumaça, fuligem), existe um aumento de 1,5% nas internações por doença isquêmica do coração em idosos e mais de 4% por doenças pulmonares em crianças e idosos, população mais suscetível aos efeitos da poluição (2).

Apesar de todo o conhecimento sobre os malefícios deste combustível, o Brasil é um dos países que ainda permite o consumo do diesel S500, enquanto em países do hemisfério norte, o nível máximo permitido desse combustível é de apenas 10 ppm, o diesel S10.

O S500, além de gerar 50 vezes mais óxidos de enxofre como SO2 e SO3, poluindo as cidades e prejudicando por acidulação de pH um número incalculável de ambientes, gera mais particulados e monóxido de carbono, por conter, invariavelmente, maior teor de Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA) que o diesel S10.

Se não bastasse o teor dos compostos aromáticos, que são cancerígenos, existem ainda os poliaromáticos, que são diretamente responsáveis por inflamação sucessiva nos pulmões, um dos principais mecanismos de geração de câncer de pulmão, mesmo em não fumantes.

Revisão de regras na ANP

A própria Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em sua consulta pública 11/2022, aponta que os “elevados teores de HPAs no combustível tendem a prejudicar sobremaneira os níveis de emissão de poluentes atmosféricos. Além disso, HPAs são compostos cancerígenos.”

A emissão destes poluentes, além de subtrair a qualidade de vida, gera um número significativo de óbitos diretos, principalmente por problemas pulmonares e nas vias respiratórias.

Portanto, é imperativo que o Brasil siga o exemplo de outros países e continue a substituir os combustíveis fósseis por outros sustentáveis. Sabemos que não é um caminho simples, mas se não avançarmos, nunca chegaremos aonde gostaríamos como país e nação. E, para chegar lá, podemos substituir o diesel S500 pelo S10, que é menos poluente.

Paralelamente, devemos aumentar o uso do biodiesel, por ser um biocombustível produzido a partir de fontes renováveis, tais como óleos vegetais, principalmente o de soja, e outras matérias-primas, como gorduras animais e óleos residuais, como o óleo de cozinha já utilizado.

Os benefícios dessa substituição são enormes para a saúde das pessoas e o bem-estar do meio ambiente, pois o biodiesel reduz de 70% a 90% as emissões de dióxido de carbono (CO2) comparado à queima de diesel fóssil.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), braço de estudos do Ministério de Minas e Energia (MME), publicou uma nota técnica dedicada às mortes evitadas na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) com o uso de biodiesel. (3)

O estudo mostrou que, por ano, evita-se a morte de 244 pessoas na RMSP. Isso com o uso de B10, apenas. Caso o percentual de biodiesel no diesel B atingisse 15%, haveria uma redução de dezenas de bilhões de reais por ano, no Brasil, provocados por internações (enfermaria e UTI) e afastamentos do trabalho (de paciente e familiares).

Vantagens econômicas

Além das vantagens econômicas, o uso do biodiesel proporciona ganhos ambientais e sociais. Sendo, portanto, uma alternativa promissora para mitigar os impactos ambientais causados pelos combustíveis fósseis, pois o seu uso reduz significativamente as emissões de gases de efeito estufa e poluentes atmosféricos.

Isso é comprovado pelas diversas certificações concedidas pelo Programa RenovaBio à maioria das usinas de biodiesel.

É momento de o governo e a sociedade escolherem o combustível que viabiliza, além de benefícios à qualidade de vida, vantagens ambientais, distribuição de renda e desenvolvimento da agricultura familiar.

Ou seja, trazer à discussão todos estes benefícios que o biodiesel proporciona. Outro exemplo é reduzir a dependência de importação de diesel fóssil, atualmente em 25% do que consumimos no Brasil. Essa demanda pode ser suprida pelo biodiesel, desde que se tenha uma escala de progressão e uma agenda contínua para melhorar este fluxo.

Portanto, estamos diante de um desafio urgente: continuar utilizando um combustível veneno e gastando mais com saúde pública ou investir em fontes renováveis para criar um ambiente sustentável em que se possa gerar mais empregos e renda e melhor qualidade de vida. A escolha é de todos nós. Mas o tempo de decisão é agora.

Donizete Tokarski é engenheiro, CEO da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) e presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Oleaginosas e Biodiesel do Ministério da Agricultura (MAPA).

Referências
¹Santos UP, Arbex MA, Braga ALF, Mizutani RF, Cançado JED, Teresa-Filho M, Chatkin JM. Environmental air pollution: respiratory effect. J Bras Pneumol. 2021 Feb 8:47(1)

²Os impactos da má qualidade do óleo diesel brasileiro. – Brasília: CNT, 2012

³Nota Técnica EPE 2020: “Impacto na Saúde humana pelo uso de biocombustíveis na Região Metropolitana de São Paulo”

Artigo publicado orginalmente no site da Epbr.