O Brasil tem matéria prima diversificada, tecnologia conhecida e logística para se tornar o líder mundial na produção e uso de biocombustíveis.

Este foi o entendimento comum entre os palestrantes que participaram da última mesa de debates da II Biodiesel Week, promovida pela União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio), em parceria com a Embrapa Agroenergia e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que durante cinco dias debateu o papel dos biocombustíveis no desenvolvimento sustentável do Brasil e do Mundo.

Durante os debates foram analisadas as vantagens comparativas que o país tem para produzir matérias primas diversificadas e de forma regionalizada para a produção de biocombustíveis, inclusive o bioquerosene de aviação.

Um dos palestrantes do evento, o CEO da EnP Energy, Márcio Felix, definiu como “sincretismo energético” a convivência futura entre os vários combustíveis, assim como a diversificação no fornecimento e utilização de matérias primas para os biocombustíveis.

“Este sincretismo possibilita a utilização de toda nossa diversidade. O Brasil precisa incluir esta característica na sua equação para vender melhor a nossa imagem mundial de uma economia de baixo carbono”, disse Felix.
Ele lembrou que hoje o Brasil já produz e convive com vários tipos de motores flex para veículos e precisa harmonizar essas soluções no lado da oferta dos biocombustíveis.

Na sua palestra, o diretor geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, ressaltou que o Brasil já tem produtividade, tecnologia, matéria prima diversificada e condições de aumentar a oferta de produtos de origem vegetal para a produção de biocombustíveis.

“Temos matérias-primas consolidadas, como a soja, e outras não consolidadas, como a macaúba, com potencial gigantesco para a indústria. E temos ainda as matérias-primas residuais, que podem, com a tecnologia adequada, serem usadas no biodiesel e outros biocombustíveis”, observou Alonso.

O dirigente da Embrapa Agroenergia, entidade parceira da II Biodiesel Week, acrescentou que o Brasil precisa buscar o aumento de produtividade investindo em ciência e tecnologia, em novas cultiváveis, novos sistemas de produção insumos.
Comandante da Gol Linhas Aéreas e diretor de Biocombustíveis de Aviação da Ubrabio, Pedro Scorza, citou na sua palestra os estudos da IATA que prevê custos iguais para a produção de combustível de aviação em 2037. Segundo ele, as pressões para que isto ocorra vão crescer rapidamente.

“A sociedade como um todo vai fazer pressão e provavelmente virão políticas públicas onde, não só a indústria da aviação, como todos os demais setores, vão ter que reduzir as emissões”, previu Scorza.

O presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, ressaltou na sua mensagem a importância estratégica do Brasil de adotar práticas de produção de energia que tenham sustentabilidade global, e os biocombustíveis são um instrumento para isto.

“Estou muito otimista em relação ao equilíbrio global à retomada da trajetória sustentável globalmente, e também ao futuro do Brasil e dos biocombustíveis de forma ampla que nós defendemos para que eles sejam equilibrados e sustentáveis e com carbono neutro”, disse.

Na sua participação durante a mesa de debates, o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania –SP) comemorou a necessidade da ampla adesão da sociedade aos biocombustíveis. Mas salientou que o Congresso precisa adotar medidas mais concretas e se aprofundar mais nos temas que tratam da sustentabilidade. “O Brasil precisa se apresentar como vanguarda da bioeconomia e da economia verde”, disse Jardim.

Também debateu o tema o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Rogério Benevides. Ele observou que o setor da aviação é um drive internacional e cada vez mais precisa analisar as exigências ambientais do Mundo para o segmento. “O meio ambiente é um dos pilares para a aviação civil, incluindo o tema mudanças climáticas. A descarbonização do setor é um caminho sem volta”, ressaltou.

Moderado pelo diretor da Potencial Biodiesel, Carlos Eduardo Hammerschmidt, o debate sobre biocombustíveis do futuro teve a participação do diretor do Departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Pietro Mendes. Segundo ele, o comitê técnico criado para tratar dos biocombustíveis futuro definiu um cronograma de atuação que prevê ações governamentais para orientar investimentos em biocombustíveis no Brasil.

A coordenadora da Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Renováveis para Aviação, Amanda Gondim, foi uma das convidadas para o evento e ressaltou a capacidade que o Brasil tem de adotar uma produção regionalizada de biocombustíveis. “A descentralização da produção dessa energia é vantajosa para um melhor aproveitamento das nossas matérias primas de cada localidade”, concluiu.
O diretor-superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, conclamou a sociedade brasileira a se envolver no debate sobre a importância dos biocombustíveis.

“O Brasil está pronto para avançar, mais rapidamente, no mundo da Bioeconomia. Temos matéria prima, tecnologia, pessoal qualificado, mas as políticas públicas precisam, cada vez mais, estar em sintonia com a sustentabilidade social, econômica e ambiental”, disse Tokarski. O dirigente da entidade convidou a todos para a próxima biodiesel week em agosto do próximo ano.