24/04/2020 – Não é nenhuma novidade que a poluição do ar é uma grande vilã da saúde pública, que está ligada a várias doenças, não só nos pulmões – além de ser responsável por 8,8 milhões de mortes anualmente em todo o mundo.

Em 2018 – isto é, há dois anos! – a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou um estudo alertando que, no Brasil, a poluição do ar em ambientes externos provoca a morte de mais de 50 mil pessoas por ano.

Chegamos a 2020 com um novo e imenso desafio: superar a crise sanitária e econômica em decorrência da pandemia do coronavírus que, segundo um estudo liderado pelo Imperial College de Londres, pode causar mais de 1,15 milhão de mortes no mundo devido à Covid-19 (em caso de nenhuma estratégia de isolamento e de enfrentamento da pandemia), ou ter esse número reduzido para 44,2 mil, com estratégias de supressão rígidas para toda a população, que são aquelas que buscam bloquear a circulação do vírus. Em todos os cenários, muitas vidas serão perdidas.

Mas, enquanto a pandemia provocada por um vírus é um fenômeno isolado – isto é, não acontece com frequência todos os anos – a poluição do ar tem consequências tão graves quanto e costuma ser negligenciada quando se trata de políticas públicas ou decisões sobre consumo.

“Se fizermos uma estimativa em relação ao número de mortes decorrentes da poluição, e considerarmos que a cada 50 internações uma pessoa vem a óbito, o número de internações no Brasil, por ano, por conta da poluição chega a 2,5 milhões. Esse número pode ser muito maior”, calcula o diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski.

Tokarski ainda estima que, se considerarmos uma média de três dias de internação, são mais de 7 milhões de diárias de internações nos hospitais brasileiros, por conta de doenças causadas pelo ar contaminado.

Pandemia evitável

Em geral, a poluição por material particulado fino nas cidades está ligada a ações humanas, como a fuligem que sai do escapamento de ônibus e caminhões, por exemplo.

Segundo um estudo publicado em março/2020 na revista Cardiovascular Research, a poluição do ar é responsável por encurtar a vida das pessoas em todo o mundo em uma escala muito maior que guerras e outras formas de violência, HIV/Aids, doenças parasitárias e transmitidas por vetores e tabagismo.

Os professores Jos Lelieveld e Thomas Münzel, do Instituto Max Planck de Química e do Departamento de Cardiologia do University Medical Center Mainz, em Mainz, Alemanha, que lideraram a pesquisa, alertam que os resultados sugerem que o mundo está enfrentando uma “pandemia” de poluição atmosférica.

Os pesquisadores analisaram o efeito da poluição do ar em seis categorias de doenças: infecção do trato respiratório inferior, doença pulmonar obstrutiva crônica, câncer de pulmão, doenças cardíacas, doenças cerebrovasculares que causam acidente vascular cerebral e outras enfermidades não transmissíveis, que incluem condições como pressão alta e diabetes. Eles descobriram que os males cardiovasculares (doenças cardíacas e cerebrovasculares combinadas) são responsáveis pela maior proporção de vidas reduzidas devido às partículas tóxicas inaladas: 43% da perda de expectativa de vida em todo o mundo.

Os cientistas explicam que, no artigo, distinguiram entre poluição do ar evitável feita pelo homem e a causada por fontes naturais, como poeira do deserto e emissões de incêndios, que não podem ser evitadas. “Mostramos que cerca de dois terços das mortes prematuras são atribuíveis à poluição do ar causada pelo homem, principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, que chega a 80% nos países de alta renda. É possível evitar 5 milhões e meio de mortes em todo o mundo por ano”, diz Lelieveld.

Os pesquisadores estimam que, se a poluição do ar fosse reduzida com a remoção das emissões de combustíveis fósseis, como diesel e gasolina, a expectativa média de vida em todo o mundo aumentaria em pouco mais de um ano e em quase dois anos se todas as emissões antropogênicas fossem cessadas.

Crianças, idosos e usuários de transporte público sofrem mais

Apesar dos esforços de alguns países e empresas para substituir os combustíveis fósseis por alternativas mais limpas, como biodiesel e outros biocombustíveis, a queima de carvão, petróleo e gás causa problemas de saúde, levando a mortes prematuras em todo o mundo, com 40 mil crianças morrendo antes de 5 anos devido à exposição a partículas de poeira fina menores que 2,5 micrômetros, conhecidas como PM 2,5, ou material particulado.

As pessoas que passam mais tempo no trânsito, como os usuários de transporte público, são também as que ficam mais expostas à poluição urbana decorrente da queima de combustíveis derivados do petróleo e, consequentemente, correm mais riscos de adquirir doenças atreladas à má qualidade do ar.

Da mesma forma as pessoas idosas, o mesmo publico da zona de risco do Covid, são severamente afetadas pela poluição que agrava quaisquer fragilidades apresentadas.

“Estamos vivendo um momento crítico de saúde. Para sair dessa crise, precisaremos de políticas públicas que levem em consideração o custo x benefício de continuarmos usando esses combustíveis tóxicos, que causam efeitos nocivos e cumulativos às pessoas, em detrimento de alternativas mais limpas. Não podemos mais negligenciar com essa “pandemia silenciosa” que mata milhares de pessoas, anos após anos. O futuro é renovável e o Brasil é o país ideal para liderar essa transição”, destaca do diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski.

Biodiesel: remédio contra a poluição

Um estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicado em 2015 mostra que o uso de biodiesel em misturas com o diesel fóssil reduz em até 50% a emissão de material particulado. O levantamento considerou resultados de 57 testes e experiências com diferentes misturas de biodiesel ao diesel mineral, no Brasil e no Mundo e está disponível aqui.