24/06/2019 – Batizada de “o novo ouro brasileiro”, a macaúba, uma espécie de palmeira nativa na região, ganha status de protagonista em Juiz de Fora, encabeçando um projeto visionário e ousado, de médio e longo prazos, de utilizar o fruto para produzir combustível verde para a aviação civil, servir de vetor econômico e contribuir para a recuperação, principalmente, de pastagens degradadas e também de reserva legal e áreas de proteção permanente (APP).

Lançado oficialmente no ano passado, o projeto da Plataforma de Bioquerosene e Renováveis da Zona da Mata está na fase de engajamento e começa a ganhar contornos mais concretos este ano, com a perspectiva de implantação das primeiras Unidades Técnicas de Demonstração (UTDs) do plantio, uma espécie de modelo do que se pretende fazer em escala, além da primeira biorrefinaria, também em Juiz de Fora, ainda no segundo semestre. Também está programado, para este ano, o lançamento do edital para adesão de produtores interessados em plantar macaúba, consorciada com outros gêneros alimentícios. Se tudo der certo e o projeto vingar, a expectativa é que, em 2031, a Zona da Mata esteja produzindo cerca de 230 milhões de litros de bioquerosene de aviação, a partir do plantio inicial de 66 mil hectares do fruto.

O secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agropecuária, Rômulo Veiga, não esconde o entusiasmo e o engajamento com o projeto, que, no curto prazo, começa a contar com duas UTDs em Juiz de Fora, uma na Represa João Penido e outra, provavelmente, na área da Remonta, em uma possível parceria com o Exército. A ideia, comenta, é comprovar o mercado e o plantio, com o cultivo inicial de três hectares no total. Além da macaúba, a meta é consorciar o plantio com cultivos sazonais, como o feijão e a banana, seguindo a diretriz de aproveitamento do terreno também para produção alimentar. Nas unidades técnicas, além de se criar uma metodologia de plantio, a intenção é formar multiplicadores capazes de prestar assistência técnica aos produtores interessados. As UTDs começam na cidade, mas o objetivo é que mais de 40 municípios contem com os núcleos. O projeto contempla a bacia hidrográfica que atende Juiz de Fora, área de competência da PJF para reflorestar as áreas das quais o Município se beneficia. “Os projetos de agricultura precisam ser muito controlados. Se saem um pouco do padrão, não conseguem gerar a produção necessária.”

Também está previsto para o segundo semestre o lançamento de edital de chamamento público para interessados na empreitada. A Prefeitura pretende subsidiar o plantio da macaúba. Há, ainda, a meta de captar apoiadores para auxiliar no custeio do alimento consorciado, seja no plantio ou na compra futura. “Inicialmente, nossa verba é só para o reflorestamento, que é feito pela macaubeira.” Serão investidos na iniciativa R$ 3 milhões, mais R$ 1,5 milhão por ano, em recursos vinculados ao pagamento de serviços ambientais pela Cesama.

Produtores cadastrados

Nessa primeira etapa, comenta o secretário, serão priorizadas áreas de recarga hídrica e pastagens degradadas. Pelas contas do secretário, há 600 produtores cadastrados em 40 municípios, que estariam interessados na iniciativa. Não é possível afirmar, porém, que a adesão oficial será nesse percentual. Um problema real, avalia, é que a produção regional não garante o mínimo de segurança alimentar para o Município, representando, hoje, menos de 1% da cesta de consumo de hortifrutigranjeiro. Outra meta é cruzar o mapa de consumo das escolas públicas, de forma a produzir alimento consorciado para melhorar o abastecimento de produtos da agricultura familiar nas salas de aula. O percentual de participação da agricultura familiar na merenda é considerado muito baixo. O ideal seria de 30%. “O máximo que chegamos foi 4,5%.”

Durante o mapeamento de áreas possíveis, foram identificados 130 mil hectares só na Zona da Mata. No estado, levantamento apontou a existência de seis milhões de hectares de áreas degradadas. Tendo por base os 66 mil hectares que devem ser trabalhados, inicialmente, na Zona da Mata, a expectativa é que, em dez anos, seja possível produzir 230 milhões de litros de combustível. Com target price de 60 centavos de dólar, Rômulo estima que, na próxima década, é possível movimentar uma economia na ordem de R$ 500 milhões. “Estamos criando um processo de economia circular, com o máximo de eficiência possível de uso de território.”

Safra da macaúba é de cinco anos

A primeira safra da macaúba, capaz de produzir óleo para biorrefino ou matéria-prima para as indústrias de alimentação e cosméticos, é de cinco anos. Em dois anos, no entanto, é possível contar com os créditos de carbono, quando a planta começa a sequestrar os carbonos do ambiente. Por isso, a importância do consorciamento. No caso do feijão, por exemplo, a espera para colheita cai para 90 dias. “Para muitos produtores, a espera é impossível. Eles não têm reserva financeira que permita fazer um investimento e depois obter o retorno.” Rômulo explica que algumas fazendas da região já iniciaram o plantio. Na sua opinião, a macaúba é um ganho futuro.

Fonte: Tribuna de Minas