O diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, participou nesta segunda-feira (10/12) do painel “Ferramentas inovadoras para descarbonizar o setor de transporte” promovido no Espaço Brasil da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP24). Realizada em Katowice, Polônia, a conferência entra na segunda semana de programação com a missão de concretizar as negociações que podem definir as regras de implementação do Acordo de Paris.

Representando o setor de biodiesel e bioquerosene, a Ubrabio participa do encontro internacional desde 2016 (COP22), apresentando aos líderes internacionais as ações brasileiras para promover o uso de biocombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis.

Confira os temas abordados pelo diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, durante o painel realizado nesta manhã:

Biodiesel e o RenovaBio
A convivência entre a continuidade da evolução da mistura obrigatória de biodiesel ao diesel (gradativa e com previsibilidade) com o RenovaBio é extremamente virtuosa.

Com o mandato de mistura, dobraremos a produção anual de biodiesel que hoje é de cerca de 5,5 bilhões de litros por ano. Isso contribuirá para que o país deixe de ser um importador estrutural de diesel, independente de uma eventual ampliação da capacidade interna de refino. Um exemplo dessa necessidade é que terminaremos 2018 com cerca de 12 bilhões de litros de diesel importado para complementar o consumo nacional de diesel que será da ordem de 56 bilhões de litros.

Paralelamente a isso, a venda de Créditos de Descarbonização (CBIOS) no âmbito do RenovaBio, verdadeira remuneração pelo reconhecimento do serviço ambiental trazido pela redução de emissões de carbono resultado da substituição de combustíveis fósseis, agregará receita extra às usinas de biodiesel.

A combinação dessas duas alavancas de incremento de consumo de combustíveis renováveis propiciará nova onda de investimentos em toda a cadeia produtiva e, ainda, ampliará as incontáveis externalidades socioeconômicas e ambientais positivas, reafirmando a liderança global do Brasil como Economia Verde, com grande impacto geopolítico e protagonismo no esforço de descarbonização.

O que para os demais países é uma penalização, para o Brasil é uma oportunidade pela inigualável biodiversidade e vocação natural do país em agroenergia, o que nos credencia a trilhar uma trajetória sem paralelo de crescimento na produção e no consumo de biocombustíveis.

Oportunidades e desafios com o RenovaBio
Oportunidades: Para o biodiesel e para o bioquerosene, o RenovaBio traz maior previsibilidade de consumo (proporcional à meta de redução da pegada de carbono), o que permite projetos com ganho de escala, ponto fundamental para a competitividade. Outro ponto é trazer as vantagens desses biocombustíveis para a sociedade e educá-la com conceitos de sustentabilidade. Essa é uma grande oportunidade de demonstrar a amplitude dos serviços ambientais que os biocombustíveis representam, sem necessidade de tributação.

Desafios: O maior desafio para o biodiesel é a implementação de matérias-primas alternativas. Isso pode ser alcançado por meio da intensificação do uso de óleo de fritura, que possui um grande potencial de crescimento no Brasil e tem uma pegada de carbono muito menor que as demais matérias-primas.

Novas oleaginosas como a macaúba e as microalgas também possuem baixíssima pegada de carbono, promovem o reflorestamento e servem também para o bioquerosene.

O desafio da regionalização das matérias-primas é também uma oportunidade interessante para estender os benefícios sociais dos biocombustíveis nas diversas regiões do Brasil.

Outra questão para o biodiesel é a efetiva avaliação do poço à roda. Para chegar-se à roda, passa-se pelo motor. A maior eficiência do motor diesel com relação ao ciclo Otto é um fato científico e precisa ser contemplado.

Já o maior desafio do bioquerosene é produzi-lo a um preço igual ou inferior ao do querosene de aviação fóssil, condição imposta pelas empresas de aviação para sua utilização. Nesse ponto, faz-se necessária a criação de uma Política Pública específica. O bioquerosene necessita de recursos de P&D em escala piloto para melhor definição das inúmeras rotas já existentes e que melhor se alocam em cada Região do país.

Além disso, o RenovaBio está em linha com a Plataforma para o Biofuturo – Acordo internacional liderado pelo Brasil focado em acelerar o desenvolvimento e expansão sustentáveis dos biocombustíveis avançados de baixo carbono na matriz energética global, tendo como base a expansão do uso, em especial, do biodiesel, bioquerosene, etanol e biometano como forma de reduzir as emissões de GEE.

Vantagens ambientais do biodiesel não contempladas no RenovaBio
São muitas: Redução das emissões de material particulado, redução das emissões de hidrocarbonetos, redução das emissões de monóxido de carbono, redução das emissões de óxidos de enxofre. Nenhuma dessas vantagens é contemplada no RenovaBio e deveriam ser promovidas por beneficiarem diretamente a saúde pública.

A mitigação dessas emissões promovidas pelo biodiesel diminui casos de câncer, reduz problemas respiratórios, internações e mortes, sobretudo de idosos e crianças, além de reduzir a chuva ácida (óxidos de enxofre).

Estimativas mostram que o uso de B20 é capaz de reduzir, em 10 anos, mais de sete mil mortes e mais de 45 mil internações só na Região Metropolitana de São Paulo.

Portanto, é preciso ampliar a contabilidade dos benefícios trazidos pelo biodiesel incluindo-se índices de sustentabilidade, parâmetros sociais, geração de emprego e renda. Em todos esses itens, as vantagens do biodiesel são bem maiores do que do diesel fóssil.

O setor de biocombustíveis no Brasil já é capaz de gerar biodiesel e etanol a um preço competitivo com os combustíveis fósseis e ao mesmo tempo já gera mais empregos do que o setor de petróleo e gás natural somados.

A produção de biodiesel e bioquerosene no Brasil não concorre com a produção de alimentos
A evolução da utilização do biodiesel veio acompanhada da virtuosa convivência entre alimento e energia. Produzido a partir de óleos vegetais, especialmente o óleo de soja, e gorduras animais e residuais, o biodiesel estimula o processamento interno da soja, amplia a disponibilidade de farelo (proteína).

Com as sucessivas safras recorde de soja e a crescente necessidade de geração de proteína para a produção de rações animais e de conversão em carnes e lácteos para suprir a dieta humana, o Brasil precisa da produção de biodiesel para dar destinação ao óleo excedente do processamento de soja, já que o consumo interno de óleo não acompanha o crescimento vegetativo da população. Futuramente o bioquerosene também poderá ser um destino sustentável desse excedente de óleo e, ao lado do biodiesel, um vetor de redução dos preços das proteínas animais (bovina, avícola, suína e de peixes).

O óleo de soja, principal matéria-prima utilizada na produção de biodiesel (cerca de 75%) é um subproduto da soja, que após o esmagamento do grão gera, grosso modo, 80% de farelo e 20% de óleo. Essa relação de 4 para 1 derruba qualquer questionamento sobre a competição alimento versus energia. Pelo contrário, a produção de biodiesel aumenta a produção de alimentos.