Divulgado na última semana, o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, órgão das Nações Unidas para o assunto) traz um alerta: a lista dos impactos que serão causados pelo aumento da temperatura global é extensa, e estamos no momento decisivo para evitar boa parte deles.
Baseado em mais de seis mil estudos, o documento de 400 páginas lista os numerosos impactos a serem enfrentados pelo planeta caso a temperatura suba mais de 1,5°C, considerando os níveis pré-industriais, e traz sugestões de medidas capazes de evitá-los ou amenizá-los. Entre elas, estão as mudanças ligadas à energia, como o aumento da eficiência energética e o uso de combustíveis de baixo carbono no setor de transportes.
Neste sentido, os biocombustíveis representam uma janela de oportunidade para o Brasil. Foi o que explicou o diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, nesta quarta-feira (10/10), durante o V Encontro de Pesquisa e Inovação da Embrapa Agroenergia (EnPI).
Com a palestra “Perspectivas para o biodiesel no Brasil e no mundo”, Tokarski apresentou um panorama do setor, as principais demandas e como o biocombustível pode colaborar para a descarbonização do setor de transportes no Brasil, reduzindo o uso do diesel fóssil – combustível mais usado no país e considerado causador de câncer pela Organização Mundial de Saúde.
“O Brasil é um país privilegiado em termos de vocação agrícola no mundo para produção de alimentos, fibras, bioenergia e bioprodutos, apesar de não incorporarmos a biodiversidade na atividade econômica”, provocou. Segundo o representante da Ubrabio, com políticas públicas capazes de dar previsibilidade para o setor produtivo, será possível investir na diversificação de matérias-primas, aproveitando as potencialidades regionais e a eficiência de cada matéria-prima.
Tokarski citou como exemplo o Renovabio, que, ao privilegiar a eficiência e a sustentabilidade, pode ser o caminho para alcançar essa diversificação e incorporação da biodiversidade na economia nacional.
Bioquerosene
A partir de 2020, a aviação internacional deverá neutralizar suas emissões de carbono. Para isso, o setor tem investido em eficiência tecnológica, mas, para o diretor de Biocombustíveis de Aviação da Ubrabio e assessor para Combustíveis Renováveis da GOL Linhas Aéreas, Pedro Scorza, esses investimentos sozinhos não são suficientes para alcançar o objetivo. Será necessário incorporar os combustíveis renováveis.
“Até 2028, se o Brasil quiser neutralizar suas emissões sem precisar comprar créditos de carbono teria que ter no mercado 3 bilhões de litros de bioquerosene. O programa de biodiesel no Brasil fez 6 bilhões de litros em nove anos. Então é exequível. Temos matérias-primas, expertise e tecnologia. O que precisamos é de política pública”, projetou.