Redução dos impactos ambientais através do uso de biocombustíveis é tema em debates governamentais em Brasília, ao mesmo tempo em que a COP 22 é discutida em Marrakesh, no Marrocos. Na última quarta-feira (07), aconteceu uma audiência pública, realizada pela Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas, com temática em biocombustíveis de aviação, e hoje (13), o workshop de etanol – RenovaBio 2030, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia.

Os dois eventos visam debater sobre as participações desses biocombustíveis na matriz energética brasileira para cumprir com as metas estabelecidas na COP 21. As metas acordadas pelo governo brasileiro têm como objetivo atenuar os efeitos nocivos causados pelas mudanças climáticas. Na ocasião ficou decidido, que 18% da matriz energética nacional deverá ser composta por biocombustíveis.

Para efetivamente cumprir a meta, durante a audiência pública, foram expostos os motivos para se investir em pesquisas sobre o bioquerosene.

A Embrapa tem contribuições fundamentais para essas ações, principalmente para aumentar a produtividade das culturas usadas na produção de biocombustíveis e também para ampliar desenvolver e otimizar os processos de conversão da biomassa em energia. “Ou seja, a Embrapa tem um papel muito importante para ajudar o Brasil a dar um salto tecnológico na produção de biocombustíveis”, disse o pesquisador da Embrapa Agroenergia Bruno Laviola.

Bioquerosene de aviação

Investir em bioquerosene para reduzir as emissões de carbono da indústria da aviação foi tema de audiência pública realizada pela Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas. No evento, que aconteceu na última quarta-feira (07), o senador Fernando Bezerra (PSB/PE) afirmou que se trata de criar uma nova economia, com baixo carbono, para atingir as metas de um desenvolvimento sustentável para o País.

O senador completou que o Brasil tem a obrigação de investir em pesquisas nessa área ou terá que comprar a tecnologia de outras nações.

“Ninguém sabe como fazer um avião se mover por eletricidade, desta forma existe um grande mercado para o bioquerosene de aviação. Nós temos um papel relevante nessa área e não podemos ser os últimos a desenvolver esta tecnologia. A Embrapa e outras instituições de pesquisa serão fundamentais nesse processo, assim como já tem feito”.

Para que a cadeia de produção do bioquerosene de aviação se estabeleça no País, o pesquisador da Embrapa Agroenergia Bruno Laviola citou os principais pontos que necessitam de atenção no que se refere a matérias-primas, que são: diversificação das fontes matérias-primas, desenvolvimento da escala de produção e logística de distribuição.

No que se refere à logística, é importante o mapeamento das matérias-primas presentes próximas aos principais aeroportos do Brasil, onde a indústria do bioquerosene provavelmente se instalará.

Laviola ressaltou que, para acelerar o desenvolvimento tecnológico do setor no país, são necessárias parcerias público-privadas, principalmente com investimento em pesquisa e inovação.

A simulação para um fundo público-privado de fomento à pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis de aviação foi apresentada pela Embrapa. Na simulação foi apontado que o recolhimento de 0,1% sobre o faturamento das empresas aéreas no Brasil (de R$ 35 bilhões em 2015) geraria R$ 35 milhões para investimento em pesquisa. Esse investimento teria um reflexo pequeno nos valores cobrados do consumidor, estimado em R$ 0,33 por passagem.

“Com o custo de apenas 33 centavos por passagem, poderemos fazer um mundo mais limpo”, ressaltou o pesquisador.

O Senador reforçou que o investimento em bioquerosene promoverá uma transformação na matriz energética nacional que beneficiará o setor privado, pois irá gerar lucros, e ainda, criará novos postos de trabalho. Bezerra destacou a importância de se criar um fundo de financiamento com recursos aportados também pelo setor privado.

“Será bom para o setor privado poder financiar essa transformação da matriz energética brasileira e vai ser bom por que todo mundo vai ganhar dinheiro. Ninguém vai financiar algo para poder perder, mas é para ganhar, gerar empregos, vai ser competitivo, vai ter tecnologia. E a Embrapa vai cumprir um papel central”, falou o Senador.

Bruno Laviola explicou que, para que esta transformação aconteça, a lógica de biorrefinaria tem que ser implantada. “Com a produção do bioquerosene realizada na lógica de biorrefinaria, com a diversificação de matérias-primas e de produtos, poderá ser produzido o bioquerosene a custos competitivos”.

Apesar do bioquerosene ser menos poluente, sem preços competitivos as empresas terão dificuldade em adotá-lo, já que o gasto com combustíveis representam 38% do custo total da aviação.

Estes temas foram só alguns dos assuntos que fizeram parte da audiência. Também participaram do evento:

– Miguel Ivan Lacerda de Oliveira – Diretor do Departamente de Biocombustíveis da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis do Ministério de Minas e Energia (MME);

– Pedro Scorza – Diretor de Biocumbustíveis de Aviação da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio);

– Amintas Eugênio de Souza Filho – Gestor de Meio Ambiente da ANAC;

– Daniel Bassani – Gerente de Relações Externas da EMBRAER;

– Airton Pereira – Diretor de Relações Institucionais da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (ABEAR); e

– Onofre Andrade – Coordenador Sênior de Pesquisas em Biocombustíveis da Boeing no Brasil.

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