O que antes era descartado na natureza, agora, é renda extra para 40 piscicultores cearenses do município de Jaguaretama, a 241 km de Fortaleza. O óleo das vísceras de tilápia é vendido para a Petrobras, para a produção de biodiesel. A cada três meses, a cooperativa comercializa 15 mil litros de óleo residual de peixe. “O valor bruto do litro está R$ 2,20. Para nós, é uma ótima renda extra”, afirma o presidente da Cooperativa Curupati Peixes, Hernesto Góes, de 38 anos. Os piscicultores ganharam mercado garantido para a matéria-prima a partir do Selo Combustível Social, do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), do Governo Federal.

A recente regulamentação da inclusão de materiais de origem animal na produção de biodiesel permitiu a inclusão de mais produtores familiares nos arranjos do Selo Combustível Social. “Temos agricultores familiares que são pescadores artesanais ou piscicultores. Essa é uma inovação que nos ajuda a trabalhar a diversificação de matéria-prima que a agricultura familiar produz”, esclarece o coordenador-geral de Biocombustíveis da Secretaria Especial, Marco Pavarino.

A cooperativa de piscicultores cria as tilápias em gaiolas no açude Castanhão. Os resíduos são processados em caldeiras e encaminhados para a usina da Petrobras, em Quixadá (CE), onde é transformado em combustível. A cooperativa vai contar também com uma máquina desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC), a partir de convênio entre a Petrobras e Governo do Estado. “Vamos poder processar 120 kg de vísceras por hora”, explica Hernesto.

Qualidade é o diferencial

O óleo residual de pescado tem se apresentado uma boa alternativa na produção de biodiesel. “No refino nos chamou a atenção a capacidade que o óleo de peixe tem de limpeza dos equipamentos como trocadores de calor e tubulações. Constatamos uma melhoria na eficiência operacional o que possibilitou o adiamento nas paradas para a limpeza na unidade”, afirma o engenheiro de processamento da Unidade de Biodiesel da Petrobras de Quixadá Antonio Carlos Almeida.

O rendimento também é apontado como fator de qualidade da matéria-prima. “Na unidade de produção de Biodiesel, o uso de óleo de peixe manteve os mesmos rendimentos esperados para a soja que é algo em torno de 1 kg de óleo para a produção de 1 kg de biodiesel. Como também os subprodutos, a glicerina e o ácido graxo gerados na produção do biodiesel e no refino não apresentaram nenhuma dificuldade na comercialização”, finaliza Almeida.