O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, recebeu, nesta quarta-feira (12.03), representantes da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) para a discussão da proposta de implementação do B20 Metropolitano – combustível com a mistura de 20% de biodiesel adicionado ao diesel fóssil – nos veículos de transporte público das 12 cidades-sede da Copa do Mundo FIFA 2014. Rebelo pediu uma avaliação interministerial da viabilidade da proposta para o Mundial.

“O ministro solicitou uma avaliação técnica conjunta por parte do Ministério do Meio Ambiente, do Ministério de Minas e Energia e do próprio Ministério do Esporte para propor mecanismos institucionais que viabilizem a ideia e sejam analisados pelo Grupo Executivo da Copa (Gecopa)”, disse o consultor do ministério para assuntos de meio ambiente e sustentabilidade, Cláudio Langone.

Aldo Rebelo elogiou o caráter sustentável da proposta que, segundo ele, encaixa-se no esforço de mitigação e compensação da emissão de gases do efeito estufa relativas ao Mundial, um dos eixos de trabalho da Câmara Temática de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Copa.

“Recebo muito bem a proposta, que é muito positiva e traz benefícios para o meio ambiente. O tema deve ser levado ao Gecopa para que a ideia possa ser viabilizada da forma mais eficaz possível para a Copa”, disse Rebelo.

Biodiesel

O biodiesel é um combustível renovável e biodegradável obtido a partir de óleos vegetais ou de gordura animal. O Brasil é um dos maiores produtores do mundo. Dezenas de espécies vegetais presentes no país podem ser usadas para a obtenção do biodiesel, como a soja – que representou, em 2013, 73% da matéria-prima da produção nacional –, dendê, girassol, babaçu, amendoim, mamona e pinhão-manso.

Juan Diego Ferrés, presidente do Conselho Superior da Ubrabio, explica que os métodos de venda da mistura B20 poderiam ser os mesmos já utilizados para a mistura obrigatória por lei, o B5. Desde janeiro de 2010, o óleo diesel comercializado em todo o Brasil contém 5% de biodiesel. A regra foi estabelecida pela Resolução 6/2009 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

“Podem ser usados exatamente os mesmos mecanismos que a ANP [Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis] adota para a comercialização do biodiesel para a mistura obrigatória. Existe um leilão bimestral em que todo o biodiesel que vai ser adicionado ao óleo diesel é adquirido pelas distribuidoras”, explicou Ferrés.

De acordo com ele, a implementação do B20 durante o Mundial seria um importante passo para a ampliação do uso no Brasil. “O significado é enorme pela visibilidade global do evento. Penso que, uma vez que se adote para a Copa, não haverá argumentos para que o uso regrida depois. Seria um passo gigantesco que poderia demorar anos para ser dado”, disse.

Ferrés acrescentou que a produção atual de biodiesel no Brasil é de quase oito bilhões de litros por ano, o que já é suficiente para suprir um possível uso de uma mistura maior, o B7 (com 7% de biodiesel), de forma geral no país ao mesmo tempo em que a mistura B20 fosse implementada nas cidades com mais de um milhão de habitantes. O consumo do biodiesel com a mistura obrigatória atual, o B5, é de três milhões de litros por ano.

Vantagens

De acordo com estudos do National Biodiesel Board (associação que representa a indústria de biodiesel nos Estados Unidos), a queima de biodiesel pode emitir em média 48% menos monóxido de carbono, 47% menos material particulado (que penetra nos pulmões) e 67% menos hidrocarbonetos.

Além do benefício ambiental, com a redução da emissão de gases de efeito estufa, o representante da Ubrabio destacou outas vantagens do uso do biodiesel. “Há benefícios econômicos e sociais, como o estímulo da indústria nacional de biocombustíveis e a redução dos custos com importação de diesel, além da geração de emprego e renda no campo”, disse. Segundo a entidade, 34% da matéria-prima do biodiesel brasileiro vêm da agricultura familiar, envolvendo mais de 105 mil famílias no país.

Experiência

O uso do B20 já é realizado de maneira pontual em cidades como Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Cuiabá, Goiânia e São Paulo. Segundo Ferrés, o exemplo mais significativo é o da capital paulista. Atualmente, dois mil ônibus que usam o B20 circulam na Zona Leste de São Paulo, levando cerca de dois milhões de passageiros por dia.

“Começamos em 2003 as pesquisas em laboratório, em parceria com Instituto Nacional de Tecnologia, para chegar a um tipo de combustível que pudesse eliminar a fumaça preta. Os testes iniciaram com o B36 e chegamos ao B20, porque queríamos uma mistura que pudesse ser usada nos motores já existentes, sem mexer na frota e nos equipamentos”, disse Paulo Mendes, vice-presidente da empresa que gerencia o uso do combustível neste grupo de transporte público.

Ele explicou que foi desenvolvida uma metodologia de armazenamento e manutenção preventiva para o uso do combustível. “Foi um sucesso. Antes os ônibus quebravam e ficavam na oficina. Atualmente eles não estão mais parando. Aumentamos o faturamento , eliminamos a fumaça preta que incomoda os usuários e acabamos com as multas ambientais. O preço do biodiesel tem uma sazonalidade, mas conseguimos compensar com essa metodologia”, disse.