Incrustada no extremo norte do Piauí, a fazenda Carnaúba virou um grande campo de testes. Com o apoio de técnicos da Embrapa e de empresas privadas de tecnologia, os investidores tentam “domar” o pinhão-manso, planta rústica produtora de pequenos frutos em geral inapropriados para o consumo humano. Domar significa aumentar sua -capacidade de produção e resistência, controlar o teor tóxico das sobras e adaptar a cultura ao plantio em larga escala. Em estágio avançado, as experiências em Carnaúba simbolizam uma nova fase na exploração do vegetal após resultados desanimadores na década passada.

O pinhão é uma das tantas apostas para a produção de biodiesel e bioquerosene que ainda não deslancharam. De acordo com Mike Lu, presidente da associação nacional dos produtores, a ABPPM, problemas no manejo das plantas, espécimes de origem inadequada e a ausência de mercado consumidor estruturado explicam o frustrante desempenho inicial da cultura. No Espírito Santo, por exemplo, pequenos produtores locais amargam prejuízos após um programa estadual fracassar por causa da desistência de uma empresa italiana que havia se comprometido a comprar a produção. Por isso, as pesquisas no Piauí e em outras -áreas do Brasil alimentam a esperança de um recomeço muito mais promissor. “Há um mercado enorme de bioquerosene para aviação. E o pinhão-manso é uma das opções mais competitivas à disposição no planeta”, afirma Lu, sem exagero.

As companhias aéreas consomem por ano perto de 260 bilhões de litros de querosene e respondem por 2% das emissões totais de poluentes. Não é uma estatística confortável, o que coloca a aviação na mira dos países empenhados em reduzir os gases de efeito estufa lançados na atmosfera. A União Europeia decidiu multar as empresas que operem em aeroportos europeus e não controlem seus índices. Os Estados Unidos caminham para adotar regras parecidas. A Iata, associação internacional do setor, sugere às companhias uma adição de no mínimo 10% de bioquerosene ao combustível tradicional a partir de 2017 e estabeleceu uma meta de 50% de corte nas emissões até 2050. Se todas as aéreas acatassem a sugestão ao mesmo tempo, em quatro anos o mercado do produto renovável seria equivalente a 26 bilhões de litros anuais.