Sexta-feira, 22 de outubro de 2021.

A mistura do biodiesel e os impactos no meio ambiente. Este foi o tema dos debates durante a live organizada pela Brasil Agro Society Environmentmediada (BASE), realizada nesta quinta-feira (21.10), para discutir as consequências danosas da redução do percentual do biodiesel ao diesel fóssil para o meio ambiente e a saúde pública.

Mediado pelo engenheiro Adriano Barauna, dirigente da BASE e presidente do Grupo Cereal, filiado à Ubrabio, o evento contou com a participação do diretor superintendente da União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski.

O CEO da Ubrabio ressaltou que o biodiesel é um dos principais instrumentos para que o país cumpra as metas de descarbonização da matriz brasileira de transporte e previstas nos acordos internacionais assinados pelo Brasil para a redução de emissões de gases do efeito estufa que provocam o aquecimento global.

“O biodiesel reduz em até 90% as emissões de carbono e de outros poluentes lançados na atmosfera por veículos movidos a diesel fóssil. Com isto, evita mortes causadas por doenças cardiovasculares e os gastos do governo com a rede hospitalar para cuidar dos doentes, vítimas da poluição”, ressaltou Donizete.

O dirigente da Ubrabio lamentou que governo, a cada bimestre, altere o percentual de mistura do biodiesel ao diesel. Segundo ele, a medida, além de aprofundar os problemas ambientais e de saúde pública, desestrutura o setor e ocasiona prejuízos econômicos para o país.

A mistura de biodiesel começou o ano com um percentual de 12% e em março aumentou para 13% como previa a lei. Caiu para 10% entre maio e agosto, subiu para 12% em setembro e a partir de novembro será de 10%, segundo decisão deste mês do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE).

“Isso é um despreparo governamental. Quando o mundo todo está migrando para biocombustíveis, evoluindo a mistura para combustíveis limpos, sustentáveis, nós estamos aqui diante de diversas possibilidades de ampliar esse processo de produção, mas o país está regredindo nessa mistura”, criticou Doinizete.

Nos EUA, o Estado de Minesota que chega a utilizar até 20% mistura de biodiesel durante os seis meses mais quentes do ano. Na Indonésia já se utiliza 30% de biodiesel.

O CEO da Ubrabio destacou ainda que a qualidade do biodiesel brasileiro, igual ou superior ao similar produzido na Europa e Estados Unidos. E criticou alguns setores da indústria automobilística que depreciam a qualidade do biodiesel brasileiro alegando problemas de funcionamento dos motores que não são verificados em veículos de outros países.

LEILÕES

Os debates promovidos pela BASE também discutiram a decisão do CNPE de acabar com os leilões para aquisição de biodiesel a partir de janeiro. Donizete lembrou que no período dos últimos 15 anos os leilões garantiram a transparência nessas transações, mas a mudança abrupta no modelo de comercialização vai causar sérios prejuízos ao setor por causa da indefinição tributária na venda do biodiesel.

“Nós estamos agora diante de um cenário que não tem uma regulamentação nem um ordenamento jurídico capaz de dar essa segurança da mistura e também de reduzir os impactos relativos à sonegação”, disse Donizete.

INDUSTRIALIZAÇÃO INTERNA

O dirigente da Ubrabio ressaltou que a redução do percentual de mistura do biodiesel faz com que o país continue a importar mais de 20% do diesel fóssil que consome, quando poderia incentivar a produção interna de biodiesel, aquecer a economia do setor com a geração de emprego e renda.
Donizete registrou que a indústria do biodiesel opera com 50% de ociosidade na sua capacidade instalada, o que mostra o potencial do país para substituir a importação de diesel fóssil – principalmente o S 500 que emite uma excessiva quantidade de enxofre na atmosfera – e aquecer a economia interna com a interiorização da industrialização.

Adriano Baraúna lembrou durante os debates a capacidade da indústria nacional de produzir um biodiesel alinhado com as exigências ambientais e, ao mesmo tempo, incentivador da economia local. Ele citou o exemplo da cidade de Rio Verde, onde se esmaga 25% da soja produzida em Goiás, que gera mais de 30 mil empregos diretos na região, oferta farelo para a produção de proteína animal, além do biodiesel.

“Por isso a cidade é tão pujante, tão promissora. Já pensou se tivéssemos várias Rio Verde no Brasil, como seria importante isso? ”, questionou Barauna.

Organização não-governamental, a BASE é uma instituição técnica, apartidária e focada em promover o diálogo e o entendimento para a sociedade civil sobre a agricultura brasileira sustentável e o setor do meio ambiente.

O link para quem quiser assistir está aqui.