08/08/2019 – Uma usina hidrelétrica de Jupiá, no interior de São Paulo, está buscando outras fontes de energia além do que elas já são habituadas a produzir: o biocombustível. Para isso, a usina e pesquisadores do noroeste paulista estão transformando plantas aquáticas em biocombustível.

Além de viabilizar o aproveitamento energético de um resíduo, que é um problema para as usinas, o projeto vai realizar também um mapeamento e monitorar as plantas aquáticas.

Tudo começou quando pequenas ilhas verdes no meio do Rio Paraná começaram a chamar a atenção dos frequentadores pela beleza, mas escondiam um problema nos rios do sudeste e centro-oeste do país.

Estudos concluíram, então, que essas plantas recebiam uma carga grande de fertilizantes das lavouras e do esgoto de cidades próximas.

“São plantas naturais de rios e reservatórios que se proliferam onde elas encontram um ambiente favorável com luz e nutrientes”, afirma o biólogo Rogério Marchetto Antonio.

O resultado foi um crescimento desordenado das plantas e elas viraram uma ameaça para o funcionamento das usinas hidrelétricas da região noroeste paulista.

César Teodoro, diretor de operação e manutenção da CTG Brasil, segunda maior geradora privada de energia do país, diz que começou a afetar a produção.

“Eu preciso parar a produção de energia em função do volume que elas chegam e tapam a entrada de água para as turbinas”, diz.

De acordo com o diretor, em 2017, as plantas causaram um prejuízo de R$ 3,8 milhões na hidrelétrica de Jupiá, que fica na divisa de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Ao todo, 10 unidades geradoras de energia pararam de funcionar durante cinco meses.

Para que isso não aconteça de novo, a grade da usina, que fica a 33 metros de profundidade do rio, passa por uma limpeza diária. Em três anos, por exemplo, os funcionários retiraram mais de duas mil toneladas de algas.

E aí, segundo César, surgiu a pergunta: o que fazer com essa alga retirada? Foi então que a ideia de transformar plantas aquáticas em biocombustível.

“Queremos chegar, além do que enxergamos, buscar uma forma de controle que não apenas venha trazer o benefício para empresa, mas também para todo setor elétrico”, afirma César.

Parceria

A solução veio de uma parceria da hidrelétrica com o Instituto de Biomassa do Senai e a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial.

Os pesquisadores já haviam cogitado a possibilidade de transformar algas em biocombustível, mas essa é a primeira vez que um estudo ganha tal proporção.

Ainda que em pequena escala, já foi possível produzir bio-óleo a partir de plantas aquáticas. O desafio agora é a produção em larga escala.

O próximo passo é processar esse bio-óleo para que ele possa ser usado nos motores à diesel. Segundo os pesquisadores, esse biocombustível pode ser usado no futuro tanto para alimentar motores de carro, como pelas máquinas da usina.

“É um material que tem um impacto social, ambiental e dar uma destinação nobre para esse resíduo que é gerado e que tem associado a ele questões financeiras, sociais, econômicas, é muito interessante, é muito bacana”, afirma Hélio Mera de Assis, pesquisador industrial do biomassa.

Fonte: G1