Em investida inédita, a Irlanda é o primeiro país do mundo a dar adeus aoscombustíveis fósseis. Na tarde de ontem (12), o parlamento irlandês aprovou por unanimidade uma lei de desinvestimento em fontes de energia poluentes que contribuem para as mudanças climáticas.

A lei determina que, dentro de cinco anos, o Fundo de Investimento Estratégico Irlandês (ISIF), fundo soberano daquele país, terá que se livrar de todos os investimentos diretos em carvão, petróleo e gás natural, e não poderá mais investir nessas fontes no futuro. Na ponta do lápis, a investida vai liberar 300 milhões de euros atualmente aplicados em 150 empresas do setor.

Segundo a lei, o fundo soberano, que atualmente vale 8,9 bilhões de euros, cessará todas as relações com empresas “cujas atividades estão atualmente envolvidas na exploração, extração ou refino de combustível fóssil onde esta atividade representa 20% ou mais do volume de negócios da empresa”.

As regras também exigem que a Agência Nacional de Administração do Tesouro da Irlanda, que administra o Fundo, abandone os investimentos indiretos, a menos que esse investimento esteja abaixo de 15% de seus ativos ou em uma porcentagem inferior a ser estabelecida posteriormente pelo Ministério da Fazenda do país.

Essas margens de flexibilidade permitidas, contudo, não diminuem o caráter histórico da decisão irlandesa, que ocorre no contexto dos objetivos que o país estabeleceu nos últimos anos para transição a um modelo de desenvolvimento de baixas emissões de CO2 (baixo carbono), em conformidade com o histórico Acordo de Paris de combate às mudanças climáticas, assinado em 2015.

“Os governos não cumprirão suas obrigações sob o Acordo de Paris sobre Mudança Climática se continuarem a sustentar financeiramente a indústria de combustíveis fósseis. Países de todo o mundo devem agora seguir com urgência a liderança e o desinvestimento da Irlanda”, declarou ao The Guardian Gerry Liston, diretor jurídico da Rede Global de Ação Legal (GLAN), que redigiu o projeto.

No Twitter, o Partido Verde da Irlanda chamou o dia de ontem de “histórico”.

O projeto agora vai para o Senado irlandês, que pode atrasar, mas não reverter a decisão.

Fonte: Exame