O Brasil investe há anos no aproveitamento de combustíveis de baixo carbono e seu grande desafio é manter essa característica na matriz. A análise é do diretor de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), José Mauro Coelho. Para ele, o mercado de biocombustíveis ainda tem elevado potencial de crescimento. “O esforço na matriz de combustíveis é reduzir as emissões a partir de alternativas custo-efetivas e que promovam o desenvolvimento econômico do país. Isto, aliás, é a base das negociações do clima: responsabilidade comum, mas diferenciada”, destaca.
José Mauro estará na mesa de abertura do seminário “Bioquerosene e RenovaBio”, no dia 7 de maio, onde o setor se reunirá para discutir e apresentar encaminhamentos para a consulta pública das metas do RenovaBio.
Confira a entrevista:
Ubrabio – Como é a matriz de combustíveis brasileira em relação aos outros países?
José Mauro – A matriz energética brasileira é historicamente muito menos intensiva em carbono do que a mundial por causa de aproveitamento das fontes renováveis. No Brasil, tais fontes representam cerca de 44% da matriz, enquanto que, no mundo, esse valor é de 13,5%.
Tratando-se especificamente da matriz veicular, dados do Balanço Energético Nacional, publicado pela EPE, indicam que, em 2016, a matriz veicular foi composta por 10% de etanol hidratado, 7% de etanol anidro e 3% de biodiesel. A gasolina A corresponde a 29% e o diesel A, 44%. Assim, os biocombustíveis compõem 20% do consumo nacional no setor de transportes, enquanto no mundo, essa participação foi de apenas 3% em 2015 (IEA, 2017).
Dessa forma, pode-se observar que o Brasil já se destaca quanto a renovabilidade de sua matriz de combustíveis, e espera-se que isso torne-se ainda mais relevante com o RenovaBio.
Ubrabio – Há alguma projeção de como o RenovaBio pode mudar a matriz energética brasileira?
JM – A matriz energética brasileira já se destaca mundialmente pela expressiva participação das fontes renováveis, com elevado grau de aproveitamento de biomassa, recursos hidráulicos e, mais recentemente, energia eólica.
Com o RenovaBio, vislumbra-se que a maior previsibilidade da participação dos biocombustíveis no mercado nacional permitirá um aumento dos investimentos no setor, o que contribuirá para o desenvolvimento do país. Existem ainda outros efeitos positivos, que estão relacionados com a redução das emissões de gases de efeito estufa.
Dessa forma, a expectativa é que a matriz veicular nacional amplie o seu alto grau de renovabilidade, com maior participação do etanol hidratado, do biodiesel e, futuramente, do bioquerosene de aviação.
Ubrabio – Como a EPE enxerga essa política?
JM – A EPE considera que o RenovaBio seja uma política moderna de internalização das externalidades ambientais dos biocombustíveis, na qual o benefício ambiental será valorado pela própria sociedade no mercado de certificação que será criado. Avalia-se que os recursos financeiros daí provenientes serão direcionados para as alternativas mais eficientes na descarbonização da matriz de combustíveis. Adicionalmente, essa política poderá contribuir para promover a inserção de novos biocombustíveis na matriz de combustíveis, como o biogás/biometano e o bioquerose.
Nesse sentido, o RenovaBio mostra-se como uma política pública bastante promissora, já que trará inúmeros benefícios para o país, permitindo o fortalecimento do setor de biocombustíveis, além de segurança do abastecimento e da redução das emissões de gases de efeito estufa.
Bioquerosene e Renovabio
O seminário Bioquerosene e RenovaBio será no auditório do CNPq e é organizado pela Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene), Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Embraer e Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Renováveis de Aviação, com apoio do Ministério de Minas e Energia, Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Embrapa, CNPq, Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas) e GOL Linhas Aéreas.
Confira a programação aqui e adicione ao seu calendário.
Seminário Bioquerosene e RenovaBio
Quando: 07 de maio de 2018 (segunda-feira), das 9h às 17h
Onde: Auditório do CNPq, Brasília-DF (SHIS QI 01, Conjunto B, Edifício Santos Dumont, Lago Sul Brasília/DF. Telefones: (61) 3211-9818/9244/9642)
Vagas limitadas.