O biodiesel é uma fonte de energia menos poluente que os de origem fóssil, produzido de óleos vegetais e gorduras animais, como soja, canola e outros. Um professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) desenvolveu o biocombustível através de microalgas de água doce.

Em cinco anos de pesquisa, a equipe coordenada pelo Laboratório de Métodos de Extração e Separação (Lames) do Instituto de Química (IQ) da Universidade Federal de Goiás (UFG), formada por mais de 100 alunos de outras nove instituições de ensino – UFPR, TECPAR, UFSCar, UFLA, UFES, UFSC, INT, UFRJ e UFPB – testou 150 microalgas dulcícolas e marinhas para avaliar se elas seriam uma alternativa viável para a produção de biodiesel. O Projeto Microalgas é apoiado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

Das espécies analisadas, três apresentaram critérios técnicos aceitos para a produção de biocombustível, como maior quantidade de biomassa e ácidos graxos. Os nomes das espécies são mantidos em sigilo. O professor do Instituto de Química da UFG, Nelson Roberto Antoniosi Filho explica que as microalgas possuem uma produção de biocombustível muito superior à soja – principal fonte de biocombustível no Brasil.

“De acordo com a espécie, a microalga produz de vinte a 100 vezes mais por hectare em comparação com a soja”, explica o professor. Outra vantagem da microalga em relação a soja é o reduzido consumo de água. Dependendo da espécie, o consumo de água é de até 200 vezes inferior em comparação a soja. Devido a essas características, a microalga pode ser produzida em áreas devastadas ou até mesmo em regiões semiáridas ou em conjunto com outras culturas, como a piscicultura.

Outro benefício das microalgas é o ciclo que é reduzido. Em média, de 15 dias, possibilitando produção de biocombustível o ano inteiro, diferentemente da soja, que tem apenas dois picos de produção anuais.

Assim, o custo de produção é menor e deve chegar ao consumidor com preço mais baixo que o atual. As espécies também são uma aposta de investimento nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos, como a produção de antioxidantes, pigmentos e até mesmo para doenças mais graves, como a mácula.

Testes

Para verificar a qualidade do biocombustível produzido em laboratório, uma das camionetes da Universidade há seis meses é abastecida com biocombustível de microalgas. O veículo não recebeu nenhuma modificação no motor e não apresentou nenhuma alteração em comparação com o outro carro que foi abastecido com o combustível tradicional. “O projeto de extensão confirmou que o biocombustível de microalgas é válido”, conclui o pesquisador.

O próximo passo é produzir o biocombustível em escala maior que a de laboratório. “As universidades e desenvolvem muitos trabalhos, mas um grande gargalo atual é o ritmo lento do mercado”, explica o professor. Mas, devido à importância da pesquisa, ele acredita que o uso das microalgas para produção do biocombustível em grande escala pode vir a ser uma realidade em futuro próximo e aumentar a competitividade do biodiesel brasileiro.