O pontífice recebeu cerca de 65 gestores de vários lugares do mundo para afirmar compromisso contra o aquecimento global

CIDADE DO VATICANO. Um grupo de 65 gestores de diversos países, entre os quais os prefeitos de São Paulo, Fernando Haddad (PT), de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), e de Salvador, Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM), se reuniram ontem no Vaticano, a convite do papa Francisco, para afirmar o compromisso com a luta contra o aquecimento global e a escravidão moderna.

O papa exortou a Organização das Nações Unidas (ONU) a adotar uma “postura firme” contra a mudança climática. “Tenho grandes esperanças na cúpula de Paris”, declarou o pontífice sobre Conferência sobre o Clima (COP21), que ocorrerá na França, em dezembro.

“Tenho grandes esperanças de que um acordo fundamental seja alcançado. A Organização das Nações Unidas precisa adotar uma postura muito firme nisso”, disse. A conferência no Vaticano ligou a mudança climática à escravidão moderna porque, segundo um documento de apresentação, “o aquecimento global é uma das causas da pobreza e da migração forçada”.

Francisco, que falou de improviso em espanhol a um grupo no fim do primeiro dia do evento, declarou esperar que a reunião parisiense trate “particularmente de como ela (mudança climática) afeta o tráfico de pessoas”.

Ao fim do encontro, todos os prefeitos e representantes do Vaticano assinaram documento em que pedem que autoridades nacionais coloquem a questão ambiental no centro dos debates. Ressaltando a questão social, o documento cobra uma atitude de governos contra os grandes exploradores de recursos naturais e diz que a economia baseada em combustíveis fósseis “destrói a Terra e explora todos os pobres”.

Líderes mundiais, como Bill de Blasio (Nova York), Karin Wanngard (Estocolmo), Anne Hidalgo (Paris) e Jerry Brown (Califórnia), estiveram presentes. O prefeito de Roma, Ignazio Marino, também compareceu.

Durante apresentação no Vaticano, o prefeito Fernando Haddad cobrou que a agenda social carece da mesma atenção dedicada à agenda ambiental na comunidade internacional. “Sem o enfrentamento dos problemas da fome, da miséria e da escravidão moderna, não há como tratar da preservação do planeta”. Haddad cobrou a criação de uma agência internacional de desenvolvimento humano, com o mesmo destaque e recursos dos países desenvolvidos. Ressaltou que o papa Francisco, com a Encíclica Laudato Si, religou duas agendas que estavam afastadas mas que são indissociáveis.

“Muitas vezes a agenda de meio ambiente contradita com a agenda social. Nem sempre estas duas agendas eram vistas como conciliáveis”.

Segundo ele, o Brasil viveu nos últimos anos um momento muito auspicioso na agenda ambiental. “Temos liderado discussões importantes, como o biodiesel, o metanol, a energia eólica e solar. Na agenda social, retiramos 40 milhões de brasileiros da miséria e outros 30 milhões tiveram acesso a cultura, saúde e educação públicas”.

O prefeito de São Paulo disse ainda que a agenda ambiental leva vantagem no debate mundial. “Pois afeta pobres e ricos e todos os moradores do planeta. Todos serão afetados se o planeta se tornar mais aquecido. Mas os pobres serão mais afetados. Daí a relevância da universalidade, porque sabemos que a ação de cada um se revela na ação de todos”, avaliou.

Escravidão moderna

Os prefeitos denunciaram, ainda, a persistência da escravidão nas sociedades modernas. “A escravidão ainda existe em nossas cidades, incluindo aqui em Roma”, disse o prefeito da capital italiana Ignazio Marino.

O prefeito de Roma denunciou o tráfico de órgãos, que ele garante que deve crescer, dada a demanda crescente. Segundo ele, cerca de 10.000 operações são realizadas por ano para extrair órgãos para beneficiar pacientes ricos em todo o mundo.