Gestor do Projeto B20 na empresa VIP (Viação Itaim Paulista) – parceira da Prefeitura Municipal de São Paulo no Programa Ecofrota -, Paulo Mendes falou à Ubrabio sobre a experiência do uso da mistura de 20% de biodiesel ao diesel fóssil na frota do transporte público urbano e comentou a notícia “SP paralisa projeto de frota ecológica de ônibus”, publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo no último sábado (12). “A empresa nunca se manifestou dizendo que tinha esse tipo de problema e não recebeu nenhuma notificação dizendo que o programa ia ser paralisado”, declarou.

Ubrabio: O Programa Ecofrota vigora em uma parceira estabelecida entre a Prefeitura, a Secretaria de Transporte e a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, a empresa VIP (Viação Itaim Paulista) e a empresa B100 Energy. O que motivou a criação da Ecofrota? Desde quando ela existe e quais os principais resultados alcançados com a utilização do B20?

Paulo Mendes: O Programa existe desde 2006, mas está junto com a Prefeitura desde fevereiro de 2011. A motivação para o Programa foi a questão dos impactos ambientais que a empresa causava e mais o índice de insatisfação do consumidor com relação a fumaça dos ônibus. Juntando isso, assinamos essa parceria com a prefeitura por conta da lei municipal 14.933, que foi colocada em vigor em meados de 2010, obrigando as frotas de transporte urbano a aumentar, por ano, em 10% a sua frota com combustíveis renováveis. Os resultados que a gente obteve foram os seguintes: o desempenho é semelhante ao de motores com o ciclo Otto normal, usando diesel comum. O consumo dele também é semelhante ao do diesel comum, e o ganho ambiental, em termos de material particulado, é da ordem de 25% e a diminuição do dióxido de carbono, 18%.

U: A Ecofrota foi notícia no último sábado (12) no jornal O Estado de S. Paulo. De acordo com a publicação, o Programa foi paralisado por dúvidas de engenheiros da SPTrans quanto à viabilidade técnica do uso do B20 no transporte urbano. Você concorda com esta afirmação?

PM: A reportagem fala sobre corrosão no motor. Nós temos aproximadamente 900 milhões de km rodados com a mistura B20 e até o momento não localizamos nenhum problema como esse em nossas inspeções.

A empresa nunca se manifestou dizendo que tinha esse tipo de problema e não recebeu nenhuma notificação dizendo que o programa ia ser paralisado. Só vi isso na notícia do O Estado de S. Paulo. Não existe entre a empresa e a SPTRans nenhum relatório de ocorrência com esses quesitos que eles estão falando.

U: Desde o início do uso da mistura de 20% de biodiesel ao diesel fóssil nos veículos da Ecofrota, algum dano no motor, redução no desempenho ou problemas semelhantes foram detectados? Como funciona esse controle?

PM: No início do nosso Programa, em 2006, nós trabalhávamos com uma mistura ternária que é álcool anidro, biodiesel e óleo diesel. Fizemos ali uma media de 150 milhões de km com essa mistura e a ideia inicial era que conforme a sazonalidade das safras a gente poderia alternar o teor da mistura para compensar o custo do combustível. Nós abandonamos essa fase dos testes por uma questão de que o álcool danificava alguns componentes do motor do carro, como a borracha, por exemplo. Começamos então uma série de testes com misturas de biocombustíveis de B1 até B100, e chegamos a conclusão que o B20 seria o combustível ideal por ter o melhor ganho, sem nenhum tipo de alteração na frota existente.

U: O que você destacaria como aspecto mais importante da Ecofrota para a cidade de São Paulo?

PM: No decorrer dos anos os motores foram se tornando mais eficientes tecnologicamente e com a mistura de biocombustível de 20%, em comparação com os veículos que rodavam em 2006, você tem um nível de diminuição de material particulado da ordem de 90%. Apesar de estarmos com 25% de material particulado menor, em comparação com as tecnologias mais antigas, o valor é da ordem de 90%.

U: No mês passado o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmou apoiar o uso do B20 nas cidades-sede da Copa do Mundo 2014 e que, inclusive, iria articular a questão com o Ministério do Meio Ambiente e o Ministério de Minas e Energia. No objetivo de realizar uma Copa sustentável e mostrar ao mundo seu compromisso com o meio ambiente, o que significa para a política de biocombustíveis do Brasil interromper um programa como esse?

PM: Eu não acredito na hipótese de interromper um Programa que só traz benefícios. Hoje você não consegue mais voltar àquela situação onde os carros soltavam alto nível de fumaça tóxica, não existe essa possibilidade. Agora, a paralisação da Ecofrota seria um retrocesso irreparável, nós iríamos na contramão de toda evolução do mundo.

Estamos vivendo um momento horrível onde usamos diesel fóssil para abastecer usinas termelétricas que vão gerar energia para abastecer até mesmo o ônibus elétrico. É um contracenso. O mundo está tentando melhorar o sistema de ar e nós vamos paralisar um Programa de sucesso como tem sido o nosso? O B20 é completamente aprovado, foi exaustivamente testado e aprovado por todos os órgãos competentes e fabricantes.

É preciso destacar que o Programa vai muito além da redução da emissão de gases poluentes. A Ecofrota está ligada à extensa cadeia produtiva do biodiesel brasileiro, que envolve geração de emprego e renda no campo, estímulo a agricultura familiar e ao desenvolvimento da indústria nacional, aproveitamento de matérias que eram passivos ambientais como o sebo animal e o óleo de fritura usado, impactos positivos na balança comercial do país e, principalmente, no bolso da saúde pública.