A pressão de grandes multinacionais deu resultado: ameaçada com a suspensão das importações, a agroindústria brasileira se comprometeu, por mais um ano, a não comprar soja de produtores que plantam em áreas desmatadas em três Estados da região Amazônica: Mato Grosso, Rondônia e Pará. Em reunião no dia 13 de outubro, em Brasília, empresas processadoras de soja, exportadores, ONGs ambientalistas e representantes do governo assinaram o compromisso de continuar monitorando, até janeiro de 2013, as áreas de plantio de soja para garantir que o grão não seja plantado em regiões que eram cobertas por florestas. “O setor privado está mostrando que não precisa desmatar a Amazônia”, disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

O movimento começou há cinco anos, quando as filiais europeias de empresas como McDonald’s, Walmart e Carrefour ameaçaram boicotar a compra de soja brasileira, caso não recebessem a garantia de que não era cultivada em regiões desmatadas. A proposta de um grupo de 25 produtores e exportadores de óleo de soja, entre eles Bunge, Cargill e Grupo Amaggi, que juntos respondem por 90% do mercado do grão no País, foi chamada Moratória da Soja. O passo seguinte foi definir quem produzia a soja “verde”. Com o acompanhamento de ONGs como Greenpeace, WWF e TNC, e do Ministério do Meio Ambiente, o Grupo de Trabalho da Soja vem conseguindo, com a ajuda de fotos de satélite, mapear as plantações no bioma Amazônia. Nos últimos três anos, desde que começou a moratória, a eficácia vem aumentando. O número de produtores catalogados como “fornecedores ilegais” aumentou de 12 na safra 2008/2009 para 120 na safra atual. Além de perder negócios, esses agricultores também deixam de contar com o financiamento do Banco do Brasil.

O maior argumento do Grupo de Trabalho da Soja para reconquistar a confiança de compradores internacionais está nos resultados obtidos ao longo dos anos de monitoramento: eles mostram que houve um avanço da área plantada de soja – 85,8% entre as duas últimas safras –, ao passo que o desmatamento total vem caindo – quase 52% desde 2008. Com o maior monitoramento, indústria e exportadores acreditam que conseguirão mostrar que o plantio do grão ocupou uma parte muito pequena do terreno desflorestado. “A soja não é o principal vetor de desmatamento na Amazônia”, diz o presidente da Associação Brasileira de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli. Na safra 2010/2011, a área ocupada pelo plantio de soja representou apenas 0,39% do total desmatado.

A estratégia de lustrar cada vez mais a imagem da soja brasileira no mercado internacional parece ter dado certo. Uma semana antes de a Abiove e a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) prorrogarem a moratória por mais um ano, um poderoso time de grandes empresas do setor de alimentação, intitulado Grupo Europeu de Compradores de Soja, que incluiu grupos de supermercados britânicos como Sainsbury´s Waitrose, Asda e Tesco e o francês Carrefour, enviou ao Grupo de Trabalho da Soja no Brasil um comunicado em que aplaude o movimento e o considera “um sucesso por adotar critérios mais ambiciosos que a Lei”. “A imagem do nosso agronegócio ficou melhor depois desse pacto”, diz Bernardo Pires, gerente de sustentabilidade da Abiove. Ele afirma que hoje há total confiança na procedência da soja amazônica por parte da União Europeia e da China.

Até os ambientalistas já reconhecem o esforço do Brasil. “Ficou claro para os estrangeiros que, se houver novos desmatamentos, a indústria para de comprar soja”, diz Paulo Adário, diretor da Campanha da Amazônia do Greenpeace. O ativista lembra que, para um maior sucesso da moratória, no entanto, é preciso que mais produtores sejam incentivados a entrar no Cadastro Ambiental Rural (CAR), espécie de censo das propriedades rurais. Adário conta que as secretarias estaduais de meio ambiente têm enfrentado resistência por parte de vários produtores. Já os produtores argumentam que seguem a lei, que permite desflorestar até 20% das propriedades. Glauber Silveira, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), diz que a entidade nunca aprovará a moratória por considerá-la radical e ilegal. “Esse acordo vai além da legislação”, afirma Silveira. “Por isso é ilegal, além de barrar o direito do livre comércio.” A moratória impede que os produtores abram áreas em suas fazendas, plantem nos polígonos ilegais detectados por satélite e obriga os produtores a aderir ao CAR.