O Brasil deve aproveitar a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável no Rio de Janeiro para se posicionar globalmente como referência em sustentabilidade.
A Rio+20 será realizada em junho de 2012, 20 anos após a conferência Rio 92, e deve avançar no debate sobre a construção de uma economia verde inclusiva, na qual o agro brasileiro deve contribuir. Pelo menos é assim que pensam as lideranças do setor, que trabalham para mostrar o setor agropecuário e agroindustrial como um dos caminhos para o desenvolvimento sustentável.
Nessa seara não se inclui apenas a preservação do meio ambiente, mesmo o Brasil tendo uma das maiores áreas florestais nativas do planeta. O desenvolvimento social e econômico também está na pauta da sustentabilidade. “O Brasil não gostaria de ver a Rio+20 confundida com uma conferência do clima da ONU”, explica a conselheira do Ministério de Relações Exteriores, Cláudia de Borba Maciel.
Por isso, o agro está se esforçando para aproveitar o protagonismo brasileiro na conferência para se posicionar mundialmente como referência em sustentabilidade. “Energia, por exemplo, é um tema chave na Rio+20 porque é fundamental para o desenvolvimento, e é uma área na qual o Brasil dá show”, diz Cláudia.
Os biocombustíveis brasileiros são, de fato, referência mundial. “Se o etanol vai ter futuro, é como produto de baixo carbono frente os combustíveis fósseis”, avalia o presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Marcos Jank.
Mas a indústria de cana deve se diversificar com as oportunidades abertas pela busca por uma economia de baixo carbono. “O futuro dessa indústria talvez nem seja o etanol, e sim outros produtos de baixo carbono, inclusive fora da área energética”, diz Jank. Ele se refere às portas abertas pela alcoolquímica, por exemplo, e da obtenção de hidrocarbonetos (moléculas idênticas às de petróleo) a partir da cana e seus derivados.
“Se ser sustentável é produzir mais com menos, o agro brasileiro é uma referência”, diz o diretor da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Arioli. Ele se refere ao ganho de produtividade da agropecuária brasileira. Se a produtividade da soja fosse a mesma de 20 anos atrás, o Brasil precisaria de incríveis 13 milhões de hectares a mais para atingir a produção atual. “Isso equivale a duas vezes o que o Mato Grosso planta de soja hoje”, compara Arioli.
Sustentabilidade completa
Além das práticas e produtos de baixo carbono, que diminuem os impactos do homem sobre o meio ambiente, o Brasil pode mostrar na Rio+20 exemplos completos de sustentabilidade em suas três esferas: econômica, social e ambiental
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A própria indústria de cana é um exemplo, com seus esforços para melhorar as condições de trabalho no campo e requalificar os cortadores de cana deslocados pela mecanização da colheita.
Mais de 4 mil trabalhadores foram requalificados desde o início do programa, em fevereiro de 2010, e 56% deles foram contratados imediatamente após a conclusão dos cursos. Além disso, mais de cem grupos de usinas associadas à Unica assinaram o Compromisso Nacional para Aperfeiçoar as Condições de Trabalho na Cana-de-Açúcar, criado em 2009 pelo presidente Lula.
Com empregos de mais qualidade e a redução do desmatamento, o agro se consolida como um agente de desenvolvimento sustentável. “Os avanços de governança que o agro obteve nos últimos 20 anos são muito grandes”, garante o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli.
Ele cita como exemplo dessa governança a chamada Moratória da Soja. Respondendo às preocupações dos importadores de soja e derivados com o desmatamento da Amazônia, as empresas associadas à Abiove e à Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) decidiram não comprar mais soja de áreas desmatadas na Amazônia após julho de 2006. Organizações não-governamentais de proteção do meio ambiente participam do acordo para garantir sua credibilidade.
No caso da pecuária, há um caso semelhante no Pará, com um termo de ajustamento de conduta (TAC) assinado entre os frigoríficos e o Ministério Público. “O TAC é uma moratória do boi, como a da soja”, diz o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio.
Assim como no caso da soja, também houve pressões externas sobre a pecuária pelo desmatamento. Em ambos os casos, o agro preferiu agir e responder às exigências, mesmo que elas superassem as normas legais. Isso porque o Código Florestal permite o desmatamento de até 20% das propriedades do bioma amazônico, mas a moratória da soja impede a compra dos grãos até mesmo onde o desmate foi legal.
No caso da carne bovina, a imagem do boi brasileiro foi fortemente associada ao desmatamento no exterior, segundo Sampaio. “O Brasil saiu do nada para virar o maior exportador mundial de carne bovina em só uma década, o que alimentou essa imagem de que só conseguimos isso desmatando”, explica ele.
Por isso, a Rio+20 é vista como uma oportunidade para que o Brasil mostre ao mundo o seu sistema produtivo e aproveite para derrubar alguns mitos – muitos deles com eco dentro do próprio País. “Vamos levar muita gente para conhecer as usinas e as fazendas de cana durante a conferência”, conta Jank, da Unica.