Um acordo entre a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), e as fabricantes Boeing e Embraer, prevê a construção numa universidade paulista (ainda a ser escolhida) de um centro de pesquisa voltado ao desenvolvimento de biocombustíveis para aviões. A unidade seguirá o modelo dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da agência de fomento paulista, criados para a realização de pesquisas na fronteira do conhecimento.
A primeira parte do projeto, que vai durar de 9 a 12 meses, será liderada por Luís Augusto Barbosa Cortez, coordenador-adjunto de Programas Especiais da Fapesp e professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, que terá como pesquisador associado Francisco Nigro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
“Vamos realizar um estudo que chamamos de roadmap – um mapeamento das pesquisas relacionadas com a produção (tanto na fase agrícola como industrial) e também de aspectos ligados à distribuição. Pretendemos identificar possíveis rotas tecnológicas e também os desafios e barreiras à pesquisa”, disse Cortez.
É este estudo que pautará o edital para selecionar a sede do centro. O horizonte estabelecido para o projeto é de 11 anos, prazo que o pesquisador da Unicamp considera razoável, já que alguns desenvolvimentos serão demorados. “Estamos tratando de um assunto que interessa ao mundo todo e, se o Brasil conseguir dar uma contribuição significativa, vai ser estrategicamente importante para o País. Fico feliz que a Fapesp peça ajuda às universidades. Nesse período de nove a doze meses vamos abrir tecnologias, identificar os problemas, fazer visitações e montar workshops para coleta e avaliação de dados.”
Cortez explica que as empresas de aviação estão realmente interessadas na produção de um combustível com menor emissão de gás de efeito estufa, acima de possíveis vantagens econômicas. “Um litro de querosene resulta na mesma quantidade de CO2 emitida. A Boeing estima que a aviação (civil e militar) responde por 2% do combustível consumido no mundo, mas esse índice pode chegar a 5%, dependendo de como se faz o cálculo. Uma cifra de 5% de biocombustíveis o Brasil poderia atender praticamente sozinho.”
O coordenador-adjunto do projeto adianta que o etanol não seria muito adequado, por causa da baixa densidade energética, que representaria problemas de autonomia num voo de São Paulo a Nova York. “Já a cana-de-açúcar, em si, é uma boa candidata, sendo a cultura mais energética que possuímos, enquanto a soja não é tanto. Em termos de óleos vegetais, o melhor comportamento é do dendê, mas muitos desconhecem que sequer somos autossuficientes no produto – os maiores produtores são a Malásia e a Indonésia.”