O debate sobre sustentabilidade no Brasil precisa ir além das boas intenções. Nosso país detém ativos irreplicáveis, como florestas tropicais, biomas de escala continental, biodiversidade única e uma matriz energética majoritariamente renovável, que nos colocam em posição estratégica para liderar a economia de baixo carbono. Mas transformar esse potencial em valor econômico e geopolítico depende de escolhas ousadas e consistentes.
Entre esses ativos, os biocombustíveis ocupam lugar de destaque. Desde o Proálcool até a atual corrida pelo Sustainable Aviation Fuel (SAF), o Brasil demonstrou capacidade ímpar de inovar em soluções energéticas renováveis. O que antes parecia uma política experimental hoje é reconhecido como diferencial competitivo global. O etanol de segunda geração, o biometano, o biodiesel e agora o SAF se tornaram vetores de descarbonização, desenvolvimento regional e inserção internacional.
O biodiesel além da descarbonização
O biodiesel é frequentemente lembrado por seu papel em reduzir emissões do setor de transportes, mas sua relevância vai muito além da pauta climática. Trata-se de um setor que mobiliza cadeias agrícolas inteiras, gera emprego e renda em escala nacional e atrai bilhões em investimentos.
Cada nova planta de biodiesel representa centenas de empregos diretos e milhares de indiretos na construção civil, fornecimento de insumos, transporte e manutenção industrial. Para se ter uma ideia, uma unidade de médio porte pode exigir investimentos da ordem de R$ 300 a R$ 500 milhões, com impacto direto nas economias locais. Se somarmos os projetos em estudo ou em fase de licenciamento no Brasil, o potencial de aporte ultrapassa facilmente a casa dos bilhões de reais nos próximos cinco anos.
Essa capacidade de alavancar recursos e ativar economias regionais torna o biodiesel um dos setores mais estratégicos do país. Além de absorver produção agrícola de oleaginosas e gordura animal, ele cria oportunidades para pequenos e médios produtores integrarem cadeias de alto valor agregado.
SAF: a nova fronteira da bioenergia brasileira
Se o biodiesel consolidou o Brasil como referência em mobilidade terrestre sustentável, o SAF (Sustainable Aviation Fuel) representa a nova fronteira de inovação e competitividade. A aviação é um dos setores mais difíceis de descarbonizar, mas também um dos que mais pressiona por soluções rápidas, já que compromissos internacionais exigem reduções de emissões agressivas até 2030.
Nesse contexto, o Brasil tem tudo para ser protagonista global na produção de SAF. Nossos diferenciais incluem:
- Disponibilidade de matéria-prima diversificada, como óleos vegetais, resíduos agrícolas, óleos usados, gorduras animais e até etanol.
- Tecnologias já em desenvolvimento, incluindo plantas-piloto e estudos avançados de rotas como HEFA, ATJ e Gasification-FT.
- Potencial de escala e competitividade. Com as condições adequadas de regulação e financiamento, o país pode fornecer SAF não apenas para o mercado interno, mas também para companhias aéreas internacionais.
Cada planta de SAF exige investimentos que podem variar de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão, dependendo da tecnologia. Além de gerar empregos altamente qualificados, esses projetos têm capacidade de atrair capital estrangeiro, consolidando o Brasil como hub de bioenergia para o setor aéreo.
O SAF conecta o Brasil a cadeias globais de valor de forma inédita. Ao mesmo tempo em que atende à demanda crescente das companhias aéreas, cria condições para que o país negocie melhor em acordos internacionais de comércio e clima.
Plataforma de soluções climáticas e sociais
Mais do que uma alternativa ao petróleo, os biocombustíveis representam um ecossistema de inovação, inclusão e geração de valor. Quando combinamos o etanol, o biodiesel, o biogás e o SAF, o Brasil se apresenta não apenas como fornecedor de commodities, mas como plataforma global de soluções climáticas.
Ativos irreplicáveis é uma das principais mensagens do livro Visão ESG — Negócios Resilientes, escrito por Filipe Alvarez, Gustavo Loiola, Orlando Nastri e Onara Lima. A obra reúne entrevistas com CEOs e líderes empresariais e mostra que ativos irreplicáveis não são apenas símbolos de orgulho nacional, mas instrumentos concretos de competitividade e atração de capital. No coração dessa narrativa, os biocombustíveis, com destaque para o biodiesel e o SAF, se apresentam como chave para reposicionar o Brasil no mapa estratégico da transição energética.
Hora de acelerar
Em um mundo em que investidores e consumidores penalizam a inércia e recompensam a inovação, o recado é claro: a bioenergia brasileira pode e deve ser protagonista. Cabe a nós criarmos a governança, os incentivos e as narrativas certas para que esse potencial se traduza em valor de mercado, segurança energética e liderança global.
O Brasil tem diante de si uma oportunidade única de transformar seus ativos irreplicáveis em motores de desenvolvimento. O biodiesel, por sua força econômica e social, e o SAF, por seu impacto global no setor aéreo, devem estar no centro dessa estratégia.
O livro Visão ESG — Negócios Resilientes será lançado oficialmente no dia 21 de outubro de 2025, na Livraria da Vila do Shopping JK Iguatemi em São Paulo, às 19h.
