O aumento da produção do biodiesel no país deve reduzir a inflação e aumentar vagas de empregos nos próximos anos, ao mesmo tempo em que reduzirá a importação de diesel no Brasil, afirmou o conselheiro da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) e empresário do setor, Carlos Eduardo Hammerschmidt. A declaração foi dada durante o painel “Neoindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas”, promovido pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), na tarde desta terça-feira (16).

De acordo com Hammerschmidt, hoje, 25% do diesel consumido no Brasil é comprado do exterior, enquanto cerca de 60% das indústrias de biodiesel estiveram ociosas no ano de 2023. “Deixamos de gerar emprego por não ter uma política pública previsível”, apontou.

O representante do setor destacou o aumento previsto para a mistura do biodiesel irá reduzir a importação de diesel primeiro para 18%, e posteriormente, 12%.

Dentre as vantagens citadas com o aumento do consumo do biodiesel, estão o crescimento das demandas por soja, a diversificação da renda, o desenvolvimento tecnológico, o apoio à agricultura sustentável e o fomento da agricultura familiar. Hammerschmidt também defendeu que o aumento da porcentagem de biodiesel na mistura do diesel fóssil deve abaixar os preços nas bombas. “Se tivéssemos uma mistura maior, teríamos um valor menor nas bombas, diminuição de juros, impacto na inflação”, disse.

Recentemente, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu aumentar o teor de biodiesel de 12% para 14% na mistura do diesel. A previsão é de chegar a 15% até 2025. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a medida pode evitar a emissão de cinco milhões de toneladas de CO2 na atmosfera e reduzir a importação do combustível fóssil.

Para além do potencial produtivo do setor no país, o empresário também reforçou a importância do planejamento tributário para a garantia do sucesso do segmento na implantação de futuros projetos. Segundo ele, ao se investir na neoindustrialização nacional, é possível aumentar e estimular a arrecadação do governo. “O Brasil, no ano que vem, vai produzir 174 milhões de toneladas de soja. E só 20% é processado no Brasil. O resto vai tudo pra exportação e sai sem tributo. Se tiver a industrialização do mercado interno, gera mais tributo para o governo brasileiro ”, justificou.

SAF

O “Sustainable Aviation Fuel” (SAF), termo em inglês para combustível de aviação sustentável, também é um potencial mercado a ser explorado pelo Brasil no futuro, segundo Hammerschmidt. Grupos empresariais da aviação internacional fecharam um acordo para, em 2050, abolirem o combustível fóssil e utilizarem apenas SAF para abastecer as aeronaves. “A gente tem que se posicionar como grande produtor de biocombustível para o mundo”, posicionou.

Para o professor emérito do departamento de química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Donato Aranda, o Brasil tem potencial para ser o principal ator na produção e exportação desse produto. Com demanda anual em torno de 7 bilhões de litros, a expectativa é que, com o acordo, o Brasil passe a ser demandado por 14 bilhões de litros de SAF por ano. “Embora não tenhamos muitas fábricas em operação no mundo, todas as empresas estão dedicadas a adquirir no futuro. Sem dúvida, é uma oportunidade para o Brasil ser um fornecedor, tanto para mercado interno, quanto para exportação”, argumentou.

A diversidade na rota de produção do combustível renovável também pode ser um diferencial competitivo para o Brasil, segundo o professor. O SAF pode ser produzido a partir de vegetais, mas também a partir do etanol, por exemplo. Ao se considerar que o Brasil ocupa o lugar de segundo maior produtor de etanol do mundo, há grande oportunidade para a produção de SAF. “É vocacional”, destacou.