17/06/2020 – O desafio da transição no pós-pandemia começa a ficar mais claro, na leitura da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), que antecipa uma retomada mais acelerada do crescimento da capacidade renovável (geração de energia), acompanhada de uma recuperação menor no consumo de óleo (transporte).

Em números: demanda por óleo deve cair 8,1 milhões de barris/dia (-8%) em 2020 e subir 5,7 milhões de baris/dia (+6%) em 2021. A capacidade de geração renovável, por sua vez, deve cair para 167 GW (-13%) este ano e voltar a subir para 196 GW em 2021 (+17%).

A demanda menor, por mais tempo, de combustível para aviação é apontada como o principal limitador do consumo de ­óleo – uma característica específica dessa crise causada pela covid-19 e seu impacto no setor de aviação comercial. Mas isso não afasta por completo o risco de repique na demanda por petróleo, estimulada por combustíveis mais baratos.

Desafio é não repetir 2008.

Variações anuais em emissões relacionadas ao setor de energia, entre 1900 e 2020 – após a crise de 2008, mundo registrou elevação recorde de emissões de CO2 (IEA

Com as emissões de CO2 projetadas para cair 2,6 bilhões de toneladas (-8%) em 2020, diante de um mundo mais pobre, com mais desemprego e enfrentando uma crise de saúde pública, que já matou 434 mil pessoas segundo os registros oficiais (OMS), não há motivos para comemorar, reforça a IEA.

A organização lembra que mesmo com o o achatamento das emissões de CO2 em 2019, o mundo ficou longe da meta de redução de 6% anual apontada no cenário de desenvolvimento sustentável, necessário para cumprir as metas do Acordo de Paris.

Reconstrução verde precisa partir dos governos, defende IEA

Além da queda na adição capacidade renovável, o relatório da IEA estima que produção de biocombustíveis deverá contrair 13% em 2020, na primeira queda em duas décadas. É reflexo direto dos baixos preços do petróleo, gás natural e derivados.

Para a agência, a crise é uma oportunidade para os governos incluírem em seus planos de recuperação exigências de investimentos em renováveis, algo que poderia incentivar ainda a criação de empregos.

Algumas iniciativas estão em curso: o governo de Emmanuel Macron confirmou na semana passada que vai injetar US$ 1,7 bilhão em três anos para antecipar em quinze, para 2035, o desenvolvimento da primeira aeronave com zero emissões de carbono…

…A França também está condicionando os empréstimos bilionários para socorrer às aéreas aos planos de redução de emissões.

Nos EUA, maior mercado ocidental para geração de energia renovável, essa ideia é rejeitada. Em busca da reeleição, Donald Trump vem, inclusive, sinalizando que a prioridade será uma retomada mais acelerada da atividade econômica, um claro motor da sua popularidade nestes quase quatro anos de governo.

Em 2020, IEA projeta 23,5 GW de nova capacidade de geração renovável no país, perdendo apenas para o conjunto da Europa (22,2 GW) e para a China (72,6 GW)

Com a crise, adição de nova capacidade de geração renovável cairá aos níveis de 2015, estima (IEA)

Antes da pandemia, o relatório anual da IEA sobre o futuro da energia limpa Tracking Clean Energy Progress indicava que apenas 6 das 46 tecnologias monitoradas estavam “no caminho certo” para atingir metas de sustentabilidade.

O relatório completo da IEA, em inglês, com gráficos e alta resolução e detalhamento dos comentários da agência, está disponível aqui.

Fonte: epbr