154/05/2020 – Os custos das empresas do setor de energia renovável estão crescendo diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mas a baixa incidência de casos de contaminação entre os trabalhadores provam que o esforço vale a pena. Associações que reúnem as principais empresas dos setores solar, eólico e de biodiesel atestam que poucos casos estão sendo reportados, ao contrário do que ocorre na indústria de energia fóssil, mesmo levando em conta a linha de produção destas fontes, que reúne um número maior de trabalhadores.

Em levantamento feito pela Ubrabio, associação que reúne as produtoras de biodiesel, nenhum caso de contaminação entre os empregados das associadas foi registrado. Na energia solar, entre centenas de empresas pesquisadas pela associação do setor, Absolar, poucos casos foram relatados. No segmento eólico, apesar de não haver uma contabilização oficial, não houve comunicação de casos até o momento, de acordo com a Abeeólica.

Em comum, medidas rígidas desde os primeiros sinais da pandemia, que chegam a aumentar em até 30% os custos para algumas empresas. Entre as ações tomadas como padrão estão triplicar o número de veículos de transporte para garantir a distância entre os empregados; reembolsar combustíveis para estimular o transporte individual; medir a temperatura na entrada, durante a operação e saída; higienização constante e até aluguéis de casas para isolar casos suspeitos. A execução destas medidas estão sendo utilizadas para manter o vírus sob controle, e, como consequência, prosseguir com as operações de maneira segura e evitar demissões em massa.

“O setor de energia solar vende saúde. A gente percebeu nessa pandemia uma preocupação muito grande em toda a cadeia com a questão da sua imagem, então muita gente mesmo sem obrigação do isolamento acabou se isolando”, avalia Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da Absolar. “Contaminação é praticamente zero”, afirma.

Para ele, a preocupação que está havendo com toda a cadeia da atividade será fundamental para o momento da retomada da economia, previsto por ele para começar no 3º trimestre e acelerar no 4º trimestre. O otimismo se deve às perspectivas do aumento da conta de luz, que deve ocorrer com o iminente socorro ao setor elétrico, aliado à disponibilidade de crédito e queda dos juros. Apesar disso, o setor que esperava crescer 170% este ano deve ficar abaixo de 10%, segundo Koloszuk.

Os setores solar e eólico são beneficiados no controle do coronavírus, em parte, pela menor quantidade de pessoas nas operações, além da localização geográfica dos empreendimentos, geralmente no interior do País, o que torna os trabalhadores menos expostos. No caso da energia solar, principalmente na Geração Distribuída, a queda de vendas da ordem de 80% também reduziu o número de trabalhadores em campo e nas fábricas de equipamentos, o que facilita a implantação de medidas preventivas. Mas, mesmo com o isolamento social, as instalações continuam, com maior procura por vendas online e todo um protocolo de atendimento, que reduzem o contato físico com os clientes a praticamente zero.

Já no setor de biodiesel, que emprega 400 mil pessoas e depende de lavouras e operação de usinas, a situação é mais complexa. Mesmo assim, o presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrés, afirma que entre as suas associadas não foi registrado nenhum caso de Covid-19 até o momento, porque todas adotaram medidas padrão desde fevereiro, quando começaram os primeiros sinais da pandemia.

“Está sendo um esforço das empresas mas também dos trabalhadores, que tiveram uma forçosa adaptação ao isolamento, assepsia, novos costumes”, diz Ferrés, diretor da produtora de biodiesel Granol. “Temos dois mil empregados e nenhuma contaminação por coronavírus”, confirma.

Ferrés triplicou o número de coletivos que levam os trabalhadores para a usina, inundou as unidades da empresa de informações, palestras, panfletos, máscaras e álcool gel. Determinou a medição de temperatura três vezes ao dia em todos os empregados, e, ao menor sinal de suspeita da pandemia, isola o empregado até que seja afastada a possibilidade de contaminação. Para ele, desta forma é possível continuar operando sem interromper a produção, para que ao fim da pandemia tudo volte ao normal.

Na Alubar Energia, que fornece soluções para o setor de energia renovável para sistemas de transmissão e distribuição, o maior cuidado foi blindar as operações da empresa para não levar o vírus aos lugares ermos onde estão os empreendimentos de geração eólica e solar, explica o presidente da empresa, Afonso Aguillar. Os custos da companhia subiram entre 30% e 35%, mas, em alguns casos, estão sendo compensados pelos contratantes. Além das medidas de higiene, cuidados como triplicar o número de transporte e de refeitórios foram fundamentais, aponta, além de adaptar banheiros químicos à nova realidade com instalação de torneiras para manter a higiene ao longo da obra.

“Ainda não tivemos que aplicar nenhum motivo de força maior, mesmo que alguns clientes não tenham reconhecido o nosso aumento de custos, mas a gente está insistindo”, afirma Aguillar, que costuma contratar trabalhadores nas comunidades próximas aos empreendimentos que vai atuar. Com a pandemia, se viu na obrigação de cuidar também de esclarecimentos e da proteção dessas comunidades para evitar o contágio nas obras.

A empresa teve até hoje apenas um caso de empregado próprio confirmado com Covid-19, na área administrativa, e dois terceirizados no canteiro de obras. Nas três ocorrências, todos os cuidados foram tomados para evitar a disseminação. “A gente sempre procura vender saúde, nosso negócio tem relação com o meio ambiente. Desde o primeiro momento que começamos a ver essa situação no exterior, na China, a gente se envolveu no assunto. Seguimos todos os protocolos do Ministério da Saúde, dos estados e municípios, e muitas empresas seguem a nossa metodologia”, disse Aguillar.

Assim como ao resto da indústria, Aguillar aguarda o momento em que novos contratos vão surgir para dar continuidade às suas operações. Até lá, avalia que o melhor é cuidar para que nem empresas ou os trabalhadores fiquem pelo caminho. “Não é querer ser piegas, mas enquanto a gente estiver em situação confortável, estamos em um momento tão crítico que se não dermos as mãos um vai acabar matando o outro”, alerta. (Por Denise Luna)

Fonte: Agência Estado