Por Juan Diego Ferrés, presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene – Ubrabio

O comportamento moderado das curvas de aumento de contaminação e de óbitos em decorrência do coronavírus reflete o sucesso das políticas de isolamento adotadas em março, e acentuadas na última semana.

Devemos insistir no mantra da importância dessa estratégia de isolamento, que deve ser continuada com previsibilidade. Do ponto de vista econômico, o momento é de aprendizado, para que possamos pensar no Brasil pós-pandemia e construir caminhos sustentáveis para a recuperação da economia.

AGREGAÇÃO DE VALOR

A dependência das autoridades dos fornecimentos chineses para obter os insumos de primeira necessidade no controle da crise evidencia a precariedade do Brasil com relação à agregação de valor local.

São inúmeros os itens que poderiam estar sendo fabricados com sucesso e competitividade pelos mais de 12 milhões de brasileiros endemicamente desempregados – ora em direção a uma nova arrancada para 14 milhões por efeitos da crise.

A viabilização da agregação de valor local pode ser tanto para promover a industrialização das matérias-primas produzidas pelo País, para exportar os produtos resultantes, quanto para aproveitamento dos diferentes mercados de bens de consumo e duráveis necessários à segurança do abastecimento do mercado interno, entre os quais os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).

A questão que lançamos é: o que falta para o Brasil ser competitivo na fabricação de produtos com valor agregado?

POLÍTICAS DE EQUALIZAÇÃO

Apenas uma entre as muitas constatações: há falta generalizada de gestão quando o assunto é agregação de valor localmente.

O foco da Ubrabio em políticas de equalização para o complexo soja é da mesma natureza da gestão que o País precisa para adotar, de forma ampla e generalizada, políticas de agregação de valor localmente. A solução pode perpassar por políticas intra-setoriais nas grandes cadeias de valor nacionais e pela produtividade nacional na agregação de valor, assim como pela exclusão dos custos de produção ineficientes que inviabilizam a industrialização de bens destinados à exportação.

Entendemos que o momento agora exige priorizar exclusivamente os problemas gravíssimos decorrentes da Covid-19, confiantes que o Brasil superará essa crise.

Superada essa fase, chegará o momento de voltar nossa atenção às questões que enfraquecem a industrialização e deixam a economia brasileira vulnerável e dependente dos mercados externos, em especial, a crescente concentração de exportações de commodities com destino à China.