A consultoria INTL FCStone vê risco para o suprimento de diesel no Brasil no último trimestre deste ano, devido a problemas no pagamento e no cálculo de subsídios ao combustível, o que tem levado a Petrobras a elevar importações, enquanto concorrentes param operações.

Lançado em junho, o programa de subvenção foi uma resposta a uma histórica paralisação dos caminhoneiros, que protestaram em maio contra os altos preços do combustível. Por meio dele, Petrobras, pequenas refinarias e importadoras reduziram preços com a promessa de serem ressarcidas.

Importadores privados já alertaram anteriormente que, nos valores atuais do subsídio, não compensa importar e esperar o recebimento da subvenção, cujos montantes já pagos não passam de 200 mil reais, em um mercado que gira bilhões.

A FCStone também apontou que os valores adotados para o cálculo dos subsídios pela agência reguladora ANP, responsável pelos pagamentos, estão “muito abaixo do praticado pelo mercado” e que, até o momento, a grande maioria das empresas não foi paga.

Nesse cenário, muitas empresas estão sem liquidez para realizar novas operações e têm incertezas se a subvenção ocorrerá de fato, apontou a consultoria.

“A importação privada está paralisada e a Petrobras é praticamente o único agente a trazer produto para o Brasil, salvo raras exceções”, afirmou em nota representante da área de Petróleo, Gás e Derivados da INTL FCStone, Thadeu Silva.

Desde o lançamento do programa, a ANP liberou apenas 185.749 reais para poucas companhias. A Petrobras, por exemplo, ainda não recebeu e espera até 2,5 bilhões de reais dentro de duas semanas, informou a Reuters na véspera.

Ao ser procurada para falar sobre o assunto, a ANP tem afirmado que “não há qualquer risco de desabastecimento de diesel”.

As ações preferenciais da Petrobras operavam em alta de mais de 3 por cento, por volta das 15h, enquanto o petróleo Brent avançava quase 1 por cento no mesmo horário.

DEMANDA AGRÍCOLA

O ambiente poderá se agravar com o esperado aumento da demanda por diesel nos últimos meses do ano, devido ao maior consumo sazonal do setor agrícola, que está em expansão.

Em meio à evolução na safra de grãos, a FCStone prevê que o consumo anual de diesel no Brasil apresente alta de 0,32 por cento neste ano em relação ao volume total em 2017 e alcance 50,13 milhões de metros cúbicos (m³) neste ano.

“Caso não haja mudança na política de precificação de diesel por parte da ANP e o início do pagamento da subvenção, teremos desabastecimento de diesel nos últimos meses do ano ou a Petrobras terá que arcar sozinha com o prejuízo de suprir a totalidade do mercado brasileiro com arbitragem negativa”, disse Silva.

Procurada nesta terça-feira, a Petrobras não respondeu imediatamente aos pedidos de comentários.

Na véspera, a empresa informou em nota à Reuters que “as margens de lucro da Petrobras nas importações estão preservadas, na medida em que a companhia aplica preços para o diesel alinhados à paridade internacional, conforme dispõe sua política de preços para o derivado”.

Ao contrário de suas concorrentes, a petroleira defende que o programa de subsídio “gera resultados aderentes ao esperado pela política de preços da Petrobras vigente” e declarou que a empresa “possui infraestrutura logística eficiente, que permite ser mais competitiva que eventuais concorrentes”.

AGRAVAMENTO

A FCStone frisou que as condições domésticas da oferta de óleo diesel se agravaram após a explosão na Refinaria de Paulínia-SP (Replan) da Petrobras, no mês passado, que reduziu a capacidade de produção do combustível em 50 por cento.

A consultoria projeta que o Brasil precisará importar cerca de 5,5 milhões de m³ (130 navios com capacidade de 42 mil m³) durante os próximos quatro meses para equilibrar o balanço doméstico de oferta e demanda em 2018.

A necessidade de importar 1,37 milhão m³ ao mês pelos próximos quatro meses representaria um aumento de 22,6 por cento em relação a média das importações de diesel nos cinco primeiros meses do ano.

“Comparando com o volume importado no mesmo período de 2017, as aquisições de diesel no mercado internacional precisarão expandir 12,2 por cento, realçando que no passado, 24,2 por cento do diesel ofertado no mercado doméstico teve origem fora do Brasil, o maior ‘share’ já registrado para o produto”, frisou Silva.

Fonte: Reuters