A geração de energia nos sistemas isolados, no Norte do Brasil, sempre foi um negócio dominado por empresas estatais, seja pela complexidade do negócio ou pelos altos riscos envolvidos – que incluem o roubo do combustível usado para geração. A Brasil Bio Fuels (BBF) está tentando ganhar espaço nesse setor com um produto mais barato que os combustíveis tradicionais, o biodiesel produzido a partir do óleo de palma.
A companhia já venceu três leilões realizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para implementação de pequenas termelétricas capazes de gerar 171 megawatts (MW) de potência no Acre, Rondônia e Amazonas.
No último certame, no Amazonas a BBF entrou em uma parceria com a Aggreko, especializada em máquinas e geradores.
A ideia, daqui para a frente, é entrar sempre com essas parcerias, explica Milton Steagall, presidente e fundador da BBF. A companhia entra com o biodiesel, e os fornecedores de máquinas entram com a expertise nos geradores.
Os sistemas isolados são aquelas regiões do país em que a rede elétrica não foi conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A localização afastada de alguns municípios e regiões e a necessidade de preservação da região amazônica justificam a existência desses sistemas, que são abastecidos, principalmente, por pequenas unidades geradoras a diesel ou biodiesel.
Como há grande dificuldade na logística do abastecimento dessas unidades geradoras, e o número de consumidores é consideravelmente baixo, o preço da energia é muito superior ao da média nacional, e é subsidiado por todos os consumidores do país por meio do encargo setorial Conta de Consumo de Combustíveis (CCC).
Os projetos da BBF no Acre, que somam 13 MW, tem o preço de R$ 2.101 por megawatt-hora (MWh). Em Rondônia, os 8 MW da companhia saíram com o preço de R$ 1.750/MWh. Já os 150 MW do Amazonas tiveram o preço mais baixo, de R$ 1.152/MWh.
Segundo Steagall, a tendência é que o preço caia cada vez mais com o uso do biodiesel de palma, uma vez que a produção é local e envolve custos de logística menores do que os necessários para se levar o diesel convencional às geradoras.
Por enquanto, a companhia produz biodiesel a partir do sebo bovino disponível na região. A partir de 2018, a esmagadora de palma ficará pronta, e a BBF deve produzir de 15 mil a 20 mil litros de biodiesel por dia na planta localizada em Ji-Paraná, em Rondônia.
Os projetos contratados, porém, exigem cerca de 150 mil litros de biodiesel. “Eu vendi nos leilões projetos a diesel que vão me servir como base para financiamentos. E vamos substituindo ao longo do período o diesel por biodiesel, na medida em que a produção for crescendo”, disse Steagall.
Um dos desafios do óleo de palma é o fato de que, após o plantio, a planta demora cerca de sete anos para produzir o fruto. A BBF começou a plantar palma em Roraima em 2008, mas só começará a produzir o combustível em 2018. Isso dificulta na obtenção de financiamentos, explica Steagall.
Com a estratégia de usar os contratos nos leilões para obter os recursos, a BBF pretende investir nos próximos 15 anos – prazo das concessões que a companhia tem – na geração de óleo de palma e do biodiesel, sempre em áreas desmatadas da floresta amazônica, cumprindo o Zoneamento Agroecológico da Palma de Óleo.
A BBF hoje tem 5,5 mil hectares plantados em São João da Baliza (RR). A produção média é de 25 toneladas de palma por hectare. Além de ter áreas plantadas que ainda não começaram a produzir, a companhia também olha aquisições de localidades já em produção, aproveitando o excesso de oferta do óleo de palma para a indústria alimentícia do país.
Quanto mais biodiesel produzir, mais a BBF terá como subproduto uma matéria-prima para geração de energia, com um preço ainda menor: a biomassa. “Temos como subproduto uma biomassa rica para gerar energia”, disse Steagall. Quando essa biomassa estiver disponível, a companhia poderá entrar em leilões ofertando projetos ainda mais baratos de geração.
Como as plantas têm vida média de 30 a 35 anos, a BBF poderá, depois do fim dos 15 anos de concessão, entrar em novas disputas com esse mesmo biodiesel.
A introdução de novas tecnologias que ajudem a garantir o abastecimento de energia nos sistemas isolados é bem-vista por Steagall. Segundo ele, as baterias de armazenamento, por exemplo, precisam antes de tudo de uma fonte que gere a energia. Assim, as tecnologias podem ser usadas de forma “complementar”, reduzindo os custos – e a necessidade de interligação ao SIN no futuro.
Segundo ele, o processo normal de contratação de energia é cheio de amarras, ainda que, por ser feito pela Aneel, tenha menos interferência do que no passado, quando as próprias distribuidoras coordenavam os contratos. Com a privatização das distribuidoras, os leilões devem ganhar agilidade, beneficiando os planos da BBF.