A partir desta segunda-feira (24), uma reunião do Comitê de Proteção ao Ambiente Marítimo da Organização Marítima Internacional (IMO, sigla em inglês) pode decidir os rumos da vida de 200 mil pessoas.

O encontro da organização ligada à ONU acontece em Londres, vai até sexta-feira (28) e se concentra em avaliar uma lei que, se mantida, vai diminuir a partir de 2020 consideravelmente os níveis de enxofre nos combustíveis utilizados no transporte marítimo: de 3,5%, nível atual, para 0,5%.

Embora a redução já tenha sido aprovada em 2008, e um estudo encomendado pela IMO garanta que até 2020 haverá combustível de baixo enxofre disponível para abastecer o mercado, a associação de petróleo e gás IPIECA, bem como de um grupo de empresas de transporte representado pela BIMCO, estão trabalhando para que a mudança só seja colocada em prática em 2025.

Você pode pensar que nem é tanto tempo assim; afinal de contas, cinco anos passam, e a gente nem vê. O impacto do possível adiamento, no entanto, ficou claro após um estudo conduzido por pesquisadores dos EUA e da Finlândia comprovar que o atraso de cinco anos na aplicação da norma pode causar 200 mil mortes decorrentes, principalmente, de câncer no pulmão e problemas cardíacos. Os mais afetados pelo impasse são os moradores de áreas costeiras.

No Brasil, a poluição emitida pelos navios é responsável por 4,1% das mortes causadas por poluição do ar. O número deixa o País em 6º lugar mundial e na primeira posição latinoamericana quando se trata de mortes causadas por poluição do ar provocada por navios. As regras mais duras em relação aos combustíveis, segundo o estudo, podem reduzir em 66,3% as mortes por aqui.

Além dos benefícios no Brasil, a implementação de combustíveis mais limpos em 2020 pode evitar 134.650 mortes prematuras na Ásia, 32.100 na África e 20.800 na América Latina.

O impacto caso a mudança seja adiada para 2025 será, principalmente, nos países mais pobres do mundo. Também seriam fortemente afetados, segundo o Guardian, países como o Egito, o Panamá, o Japão, a Índia, Cingapura, a China e as Filipinas.

“A entrada em vigor dessa medida da IMO em 2020 poderia reduzir a pressão sobre a saúde das comunidades costeiras, particularmente na Ásia, África e América Latina. O inverso também é verdadeiro. O atraso asseguraria que os impactos na saúde oriundos das emissões de enxofre persistirão nas comunidades costeiras que estão expostas, onde o tráfego de navios é mais intenso e onde as comunidades, mais densamente povoadas”, explica o professor James Corbett, da Universidade de Delaware, um dos principais autores do estudo.

Bill Hemmings, diretor de transportes da Transport & Environment, também é severamente contra o prolongamento do prazo. Segundo ele, os setores de transporte marítimo e das refinarias tiveram oito anos para se preparar e ainda contam com mais três anos para fazer eventuais ajustes. “Não há mais desculpas para a inércia mortal.”

Representantes da indústria se defendem alegando que o custo do combustível iria afetar o mercado, uma vez que o combustível com baixo teor de enxofre pode custar até 50% mais do que é usado atualmente.

Corbett argumenta, no entanto, que o custo adicional estimado para a indústria naval, de aproximadamente US$ 30 bilhões por ano, é de cinco a 25 vezes menor do que o efeito positivo sobre os gastos com saúde, que beneficiaria a economia global e que poderia ser diluído, representando aumentos insignificantes (de menos de US$ 0,01) no preço final dos produtos.