Óleo despejado no ralo é dinheiro jogado fora e dano ambiental grave. Vai se depositando nos canos, provocando entupimentos no sistema de esgoto e exigindo caros reparos. Quando chega ao destino, forma uma película na superfície da água ou no solo, impedindo a passagem da luz e a oxigenação na terra, nos rios e mares, matando plantas e peixes.

E esse é o caminho que a maior parte do óleo usado faz no Brasil: são 700 milhões de litros por ano descartados irregularmente, segundo estimativas da indústria do óleo vegetal. Cada litro de óleo jogado nos cursos d`água tem potencial para contaminar 25 mil litros de água.

O consumo total anual é de 3 bilhões de litros de óleo. De cada 4 litros consumidos, 1 litro é descartado de forma incorreta. Atualmente, são coletados na cidade de São Paulo 1,6 milhão de litros de óleo comestível usado, o que representa 10% do potencial existente, também de acordo com os dados da indústria.

O caminho para atingir os 100% é enorme, mas o índice de reciclagem já colocaria São Paulo como a cidade que mais recicla óleo no mundo, segundo a Ecóleo, Associação Brasileira para Sensibilização, Coleta, Reaproveitamento e Reciclagem de Resíduos de Óleo Comestível.

O óleo reciclado pode ser usado na composição do biodiesel, de tintas, vernizes, lubrificantes, sabões e velas, reduzindo o uso de outros componentes de origem fóssil. A frota de ônibus movida a biodiesel tem 2.000 veículos hoje na capital. Menos gases de efeito estufa na atmosfera da cidade.

No próximo dia 17, Dia Mundial da Reciclagem, será lançado um aplicativo de celular para facilitar a vida de quem dar uma segunda utilidade ao óleo usado em São Paulo, contribuindo para evitar a poluição e a contaminação do ambiente.

O novo aplicativo lista e mapeia empresas recicladoras e aponta as mais próximas para coleta nas regiões do Centro e Oeste de São Paulo. O serviço gratuito de retirada – imediata ou agendada – pode ser solicitado por moradores de casas e condomínios, e também por quem gera quantidades maiores, como bares, restaurantes e escolas. Para as cooperativas recicladoras, o sistema pode aumentar a demanda e organiza os chamados, traçando roteiros mais econômicos para o recolhimento.

O plano é passar das duas primeiras regiões para a cidade toda, com a inclusão de mais empresas de coleta, e depois chegar a outros Estados. Na versão inicial o aplicativo já traz mapa de pontos de entrega voluntária (PEVs) de reciclagem em todo o Brasil.

O app Vitaliv [clique aqui para baixá-lo] foi produzido pela ADM do Brasil (Archer Daniels Midland Company), uma das três principais fabricantes de óleo vegetal e que opera a maior usina de biodiesel no país, e entidades de reciclagem, como a Ecóleo.

A advogada Célia Marcondes, presidente da Ecóleo, é pioneira nesse campo. Célia começou a pesquisar como dar a destinação correta ao óleo usado em sua casa e que empresas poderiam fazer a coleta domiciliar há 15 anos, em 2001.

Foi difundindo a ideia pelo seu bairro, Cerqueira Cesar e, em 2007, nasceu a entidade, que é mantida com trabalho voluntário e faz a ponte entre empresas recicladoras e casas, ecopontos de condomínios, empresas, industrias, restaurantes e bares, com conexões em 14 Estados do Brasil. A Ecóleo dá consultoria para empresas de organizações de vários países, índia, China, Canadá, Argentina e Marrocos entre eles.

Sobre o novo aplicativo, além da vantagem ambiental da reciclagem, Célia ressalta a sua importância na geração de emprego. “No Estado de São Paulo, são 2 mil pessoas vivendo da reciclagem de óleo. Isso pode ser ampliado”, afirma. “A indústria tem de fazer sua parte, como manda a lei brasileira, e dar suporte para essa cadeia de reciclagem”, diz.

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