Tornar o setor aeronáutico mais sustentável é um desafio que pode ser superado com o desenvolvimento de cadeias de biomassa para produção do combustível renovável de aviação
O Programa Nacional de Bioquerosene pode entrar na agenda de iniciativas brasileiras para redução de emissões de gases do efeito estufa a ser apresentada na convenção sobre o clima, COP 21, que acontece em Paris, em dezembro deste ano. Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul estão trabalhando na construção de plataformas de biocombustíveis de aviação que aliam a produção de biomassa sustentável com energia renovável.
Essas iniciativas regionais podem servir de modelo para outros estados e compor uma plataforma brasileira. Em tramitação no Congresso Nacional, o PLS 506/2013 do ex-senador Eduardo Braga, atual ministro de Minas e Energia, cria o Programa Nacional do Bioquerosene, para incentivar a pesquisa e a produção de energia à base de biomassas que não concorram com a produção de alimentos, voltados para a sustentabilidade da aviação brasileira.
De acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, sigla em inglês) – que engloba 230 companhias e 93% de todo o tráfego aéreo mundial –, as metas para a redução de emissões de poluentes concentram-se na melhoria da eficiência energética, estabilização das emissões de carbono, e redução das emissões em 50% até 2050, com base nos índices de 2005.
Para aprofundar as discussões sobre a agenda de sustentabilidade do setor de aviação no país, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) realizaram, na última segunda-feira (4), o II Workshop de Sustentabilidade do Setor Aeronáutico.
Os representantes das associadas à Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene) Mike Lu (Curcas Diesel) e Pedro Scorza (GOL Linhas Aéreas) participaram do Painel 1, apresentando o cenário brasileiro no desenvolvimento da cadeia produtiva de biocombustível de aviação.
Segundo Mike Lu, o Brasil pode ser um grande fornecedor de biomassa para o mundo. “A produção de biomassa sustentável é o grande desafio. O Brasil tem varias alternativas de biodiversidade regionais que estão sendo agora analisadas para compor um quadro de biomassa sustentável a ser oferecida para a indústria do bioquerosene”.
Durante o workshop também foram apresentadas as iniciativas do setor nos Estados Unidos, por meio da Federal Aviation Adminsitration (FAA/USA), e da União Européia, com a CORE-JetFuel.
O gerente Técnico de Análise Ambiental da ANAC, Alexandre Filizola, explica que os biocombustíveis de aviação são uma tendência e um dos elementos que vai permitir que a aviação continue crescendo sem aumentar suas emissões de CO2, um problema mundial.
“O mundo todo tem trabalhado com várias alternativas e o biocombustível de aviação é uma delas. O Brasil está engajado nisso, mas a gente ainda está começando a debater o assunto e as iniciativas vêm, principalmente, da iniciativa privada”, pontua.
O diretor de Biocombustíveis de Aviação da Ubrabio, Pedro Scorza, explica que a estratégia montada no Brasil para desenvolvimento da cadeia de bioquerosene, além de estar adequada ao propósito de estabelecer uma cadeia de valor, é muito similar às estratégias que estão sendo adotadas na Europa e EUA, respeitando as particularidades locais de cada região. “Isso nos dá certo conforto, porque vemos que está todo mundo na mesma direção”, destaca.
Para Filizola, a troca de experiências com iniciativas de outros países ajuda o governo a se posicionar sobre o assunto. “O governo está começando a criar maturidade sobre o tema, para, possivelmente, se engajar nessa ação de uma maneira mais efetiva. Por isso estamos realizando trabalhos como esse, com especialistas de outros países para discutir e trocar experiências a respeito do tema”, conclui Filizola.
COP 21
De acordo com Mike Lu, a proposta de primeira biomassa sustentável para produção de biocombustível de aviação no Brasil vem da Plataforma Mineira de Bioquerosene, com o desenvolvimento da cadeia produtiva de macaúba.
“O problema do meio ambiente, especialmente dos recursos hídricos é a primeira preocupação da Plataforma Mineira de Bioquerosene, e com a macaúba trazemos a possibilidade de recuperação da capacidade hídrica e, ao mesmo tempo, fornecer biomassa sustentável para inclusão da agricultura familiar e, consequentemente, alimentar uma biorrefinaria com alto grau de eficiência regional”, explica Mike Lu.
Por ser planta nativa brasileira que pode cumprir a função não só de recuperação de APPs – Áreas de Proteção Permanente, reservas legais e pastagens degradadas, contribuindo para a qualidade do meio ambiente, como também de produção de bioquerosene, a macaúba pode representar importante papel na revitalização da Bacia do Rio São Francisco e no desenvolvimento da cadeia de biocombustíveis de aviação no Brasil.
“Nós propusemos a inclusão do programa na pauta da COP 21, ao Ministério do Meio Ambiente, porque como o projeto consorcia geração de energia com recuperação de áreas degradadas, vai ao encontro agenda brasileira para a COP 21”, destaca Scorza.