“A maioria dos veículos movidos a diesel possui garantia expressa para utilizar B20 ou até teores maiores de biodiesel”, afirma o professor PhD e consultor técnico da Ubrabio, Donato Aranda.

Donato Aranda, professor PhD e consultor técnico da Ubrabio

Ubrabio: A utilização obrigatória de biodiesel adicionado ao diesel fóssil no Brasil hoje é de 5%. Como funciona, qual a viabilidade e quem pode utilizar a mistura em quantidades maiores?

Donato Aranda: Empresas que possuam frotas cativas de veículos ou equipamentos industriais (como caldeiras ou geradores) devem solicitar autorização específica à ANP – pela Superintendência de Biocombustíveis e Qualidade de Produtos – para uso específico de teores mais elevados de biodiesel. A ANP já concedeu cerca de 15 autorizações especiais para uso de teores mais elevados de biodiesel.

Há mais de um ano, os valores médios do biodiesel no Brasil são mais baratos que o diesel importado. Em alguns estados como Mato Grosso, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Rio Grande do Sul, o biodiesel é significativamente mais barato que o diesel. Um fato importante é que grandes consumidores de diesel teriam menores custos com combustível se utilizassem teores mais elevados de biodiesel.

U: Qualquer veículo movido a diesel pode ser abastecido com B20 (20% de biodiesel adicionado ao diesel fóssil) ou precisa ser adaptado? Como funciona a garantia de qualidade para a mistura B20?

D: Não há necessidade de adaptação. A maioria dos veículos movidos a diesel possui garantia expressa para utilizar B20 ou até teores maiores de biodiesel. O que se recomenda é que boas práticas de armazenamento sejam adotadas, mas esse procedimento vale também para o diesel S10, combustível de uso obrigatório desde o início deste ano.

U: Em termos ambientais, quais os aspectos mais relevantes da utilização do B20 nos grandes centros do país?

D: O uso de B20 significa uma redução significativa dos gases e partículas poluentes emitidos pela queima dos combustíveis fósseis e tão prejudiciais a saúde. Com a utilização dessa mistura os veículos deixam de emitir 20% de Hidrocarbonetos (inclusive aromáticos cancerígenos), 15% de Material Particulado, que é responsável por inúmeras doenças respiratórias. Há também uma redução de 15% nas emissões de Monóxido de Carbono, um gás letal, e 14% menos de Dióxido de Carbono, que é o CO2 e demais gases de efeito estufa.

U: Em relação ao desempenho e a eficiência dos motores, como a mistura B20 se comporta? Ela pode danificar ou prejudicar de alguma forma o veículo?

D: A experiência de mais de 900 milhões de km rodados por 2 mil veículos da empresa Viação Itaim Paulista (VIP) e Grupo B100 Energy mostram que jamais houve qualquer problema nesses veículos. A Mercedes Benz também declarou em relatório de inspeção dos veículos que usam B20 no Rio de Janeiro, que “nenhum problema que impeça a utilização do B20 foi identificada”. O torque e a potência não se alteram e ainda há economia no consumo de combustível.

U: A matéria-prima utilizada na produção do biodiesel diferencia o aproveitamento/ rendimento do combustível? Nesse sentido, qual o cenário ideal para uso no transporte urbano?

D: Com biodiesel de soja ou mesmo com blends (mistura de duas ou mais substâncias) com baixos teores de sebo, óleo de palma ou óleos de fritura, não existe nenhuma restrição regional ou sazonal. Atualmente, a única restrição quanto à matéria-prima utilizada na produção de biodiesel é quanto ao uso de teores elevados de sebo ou óleo de palma no inverno, sobretudo na Região Sul do Brasil.

Na maioria das regiões metropolitanas do país, o biodiesel é mais barato que o diesel e apresenta o menor custo de quilometragem entre todos os combustíveis. Em São Paulo, por exemplo, com R$ 100,00 gastos com combustíveis conseguiríamos, em veículos iguais, rodar cerca de 535 km com B20, 524 km com B5, apenas 329 km com gasolina e somente 368 km com etanol. O uso de B20 no transporte público das metrópoles brasileiras resultaria numa economia imediata para os cofres públicos de um país como o Brasil, que importa cerca de 1 bilhão de litros de diesel/mês.