Suprir a demanda por energia integra hoje uma das maiores preocupações de governos, empresas e especialistas da área. E aumentar a produção energética sem comprometer o meio ambiente e ainda com a intenção de diminuir os custos dessa energia para que as empresas tenham mais competitividade se torna uma meta difícil de ser alcançada. Entretanto, na contramão dessas constatações, se faz necessário obser­var que o Brasil possui a matriz energética mais renovável do mundo industrializado com 45,3% de sua produção proveniente de fontes limpas, segundo dados do governo federal.

Para ideia de comparação, a matriz energética mundial é composta por 13% de fontes renováveis no caso de países indus­trializados, caindo para 6% entre as nações em desenvolvimento. Diante disso, percebe-se que é da terra que vem a resposta quando o assunto é combustível. E o Brasil nesse quesito está à frente de muitos países. Por esta razão, os avanços na produção de etanol e biodiesel colocaram o País na posição de li­derança no cenário internacional, despertan­do o interesse de vários países em conhecer e adotar o uso dos biocombustíveis. Por isso, o Brasil trabalha para fornecer o produto, os serviços e o conhecimento com a ajuda de novas tecnologias de geração para ampliar consideravelmente a produção de biocom­bustíveis no País.

Os biocombustíveis são produzidos a partir de fontes renováveis, como biomassa e produtos agrícolas, entre eles a cana-de-açúcar, plantas oleaginosas e gordura animal. O etanol (álcool etílico hidratado ou anidro), produzido a partir da cana-de-açúcar na ma­triz energética, é utilizado no Brasil desde a década de 1970, quando foi lançado o Proálcool, considerado o maior programa de utilização de combustível renovável im­plantado no mundo, de acordo com a Petro­bras. Já o biodiesel – derivado de plantas e gordura animal para adição ao óleo diesel de origem fóssil – começou a ser desenvolvido mais recentemente. A tecnologia utilizada no desenvolvimento de combustíveis deri­vados permite trabalhar com todos os tipos de plantas oleaginosas, como mamona, soja, amendoim e girassol, entre outras. A Petro­bras enfatiza que os biocombustíveis são renováveis e permitem a diversificação da matriz energética, trazendo mais segurança ao suprimento de energia. Além disso, são ambientalmente mais equilibrados, pois em seu ciclo de produção podem capturar car­bono e em sua queima não liberam enxofre.

Uma das maiores produtoras de bio­diesel e etanol do País é a Petrobras. A em­presa atua no setor por meio da subsidiária Petrobras Biocombustível desde julho de 2008. No etanol, tem participação em 10 usinas, sendo nove no Brasil, por meio de sociedades com as empresas Guarani (SP), Nova Fronteira Bioenergia (GO) e Total Agroindústria Canavieira (MG), além de uma na África, totalizando uma capacidade de produção de 1,3 bilhão de litros de eta­nol. No biodiesel, opera três usinas próprias – Candeias (BA), Quixadá (Ceará) e Montes Claros (MG) – e duas em parceria com a em­presa BSBios: uma em Marialva (PR) e outra em Passo Fundo (RS). Somadas, as unidades apresentam capacidade de 765 milhões de litros por ano.

De acordo com a companhia, a decisão de investir em biocombustíveis, trabalhando com metas de crescimento para o setor, co­meçou em 2008, quando foi criada a Petro­bras Biocombustível, uma nova empresa do sistema voltada à produção de biodiesel e etanol. O plano é investir US$ 3,8 bilhões no segmento de biocombustíveis entre 2013 e 2016. E o montante aprovado para produção é de US$ 2,5 bilhões. A empresa tem como prioridade aumentar a produção de etanol, e só na produção deste biocombustível vai aplicar US$ 1,84 bilhão até 2016, conforme o plano de negócios e gestão da companhia.

Na produção de biodiesel e suprimento agrícola, a Petrobras pretende investir US$ 690 milhões. Esses recursos serão destina­dos para a implantação de dois projetos no Estado do Pará que utilizarão óleo de palma como matéria-prima. O biodiesel resultante será voltado para atender a Região Norte do País e outra unidade em parceria com a Galp Energia que focará a produção de green die­sel em Portugal. A empresa também investe no crescimento vertical da produção de bio­combustíveis. Um dos projetos prioritários é a implantação da usina comercial de etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço de cana, permitindo um aumento de 40% da produção de etanol na mesma área de plantio de cana. A Petrobras iniciou o pro­jeto de engenharia desta usina e tem meta de começar a produção em 2015.

Na visão da Petrobras, o mercado de biocombustíveis está em expansão e o Brasil tem uma posição privilegiada, pois é favore­cido com terras, sol, capacidade de trabalho, tecnologia, capital, mercado, bem como compromissos claros de qualificar a matriz energética. Com a experiência brasileira e as condições naturais do País associadas ao avanço tecnológico no campo e nos proces­sos industriais, o Brasil caminha para uma matriz energética ainda mais limpa, acredita a empresa, que planeja crescer muito como produtora de petróleo e derivados, além de continuar investindo em energia renovável. Novas tecnologias para produção de energia a partir da biomassa estão sendo pesquisa­das e brevemente estarão disponíveis, como a tecnologia para produção do etanol de se­gunda geração, obtido a partir do bagaço de cana e da química verde.

Outra organização brasileira que atua no setor de biocombustíveis é a União da In­dústria de Cana-de-Açúcar (Unica). A fusão de diversas organizações setoriais do Estado de São Paulo, após a desregulamentação do setor no País, deu origem à instituição que trabalha em sintonia com os interesses dos produtores de açúcar, etanol e bioeletrici­dade no Brasil e no mundo. A Unica reúne cerca de 130 companhias associadas que são responsáveis por mais de 50% do etanol e 60% do açúcar produzidos no Brasil. No fi­nal de 2007, a associação abriu seu primeiro escritório internacional nos Estados Unidos e, em 2008, na Europa, com o propósito de prover informações detalhadas e atualizadas sobre as importantes contribuições socioe­conômicas e ambientais do setor de açúcar, etanol e bioeletricidade para os consumido­res, governos, ONGs, empresas e mídia.

O gerente de bioeletricidade da Unica, Zilmar José de Souza, conta que para cada 1 tonelada de cana são obtidos 250 quilos de bagaço e 200 quilos de palhada. Essa biomassa provê a energia a vapor e elétrica. Desde 1987, a Unica vende o excedente para a usina. “Somos autossuficientes na safra de energia elétrica e vendemos para a rede elétrica. Os compradores são empresas for­necedoras de energia como Cemig e Eletro­paulo, através de leilões, correspondendo de 2% a 3% do consumo nacional. A meta é abastecer mais de 15% do consumo nacional até 2020”, explica.

Mas para o setor avançar, Zilmar acredita que deve ser pensada uma política pública setorial mais focada. “Hoje concorremos em leilões, o que não seria o ideal. E outras fontes de energia têm incentivos fiscais que nós não temos”, analisa. Por isso, ele de­fende que o sistema, incluindo governos, empresas e sociedade, deveria incentivar a ideia de traçar uma política de longo prazo para expansão do etanol. Ainda mais se for ponderado que os biocombustíveis também poupam água. Zilmar explica que quando a biomassa é inserida no sistema poupa-se água, pois ela é gerada no período seco. “Quanto mais biomassa eu insiro, vou pre­cisar menos de térmicas convencionais e mais economia terei”, esclarece. Por conta do ciclo da cultura da cana-de-açúcar, quan­to mais biomassa tiver, menos emissões são produzidas. A biomassa da cana poupou 5% da água dos reservatórios em 2012”, desta­ca. Zilmar acrescenta ainda que em 30 anos do Programa Nacional do Álcool foi possível criar uma tecnologia tupiniquim e isso in­dica que a economia dos biocombustíveis engrenando será bom para o País.

O mercado de biodiesel em 2012

A produção de biodiesel em 2012 foi de 2.718.954 m³, ante 2.672.760 m³ produzidos em 2011, o que equivale a um aumento de 1,73% na comparação anual. O estado com maior participação na produção de biodiesel em 2012 foi o Rio Grande do Sul (30%); já em termos regionais, o Centro-Oeste respondeu por 43% da oferta total de biodiesel (1.164.348 m³).

As entregas de biodiesel, referentes aos volumes comercializados diretamente nos leilões organizados pela ANP, totalizaram 2.618.620 m³ em 2012, uma elevação de 2% em relação a 2011 (2.567.704 m³). Este aumento se deveu basicamente à elevação do consumo de diesel Bno País, uma vez que o percentual de mistura obrigatória de biodiesel ao diesel manteve-se no patamar de 5%.

No que tange ao uso de matérias-primas para a produção de biodiesel, o óleo de soja respondeu por 75% do total de biodiesel produzido em 2012. Na sequência, aparecem o sebo bovino (17%) e o óleo de algodão (5%).

Fonte: Empreendedor