A qualidade da soja brasileira está melhorando com a trégua das chuvas que interromperam o início da colheita, mas há uma crescente preocupação com as longas filas para exportar o produto pelos congestionados portos do país, disse nesta quarta-feira o presidente da associação nacional de produtos de soja.

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima que pela primeira vez a safra de soja do Brasil será superior à dos EUA, com 83,5 milhões de toneladas, contra 82 milhões de toneladas anteriormente, sobrecarregando a infraestrutura de transportes até seu limite.

As chuvas no início da colheita em janeiro reduziram o escoamento da soja do Mato Grosso e muitos grãos colhidos no começo da safra estão sendo vendidos com desconto por causa dos danos causados pela umidade, segundo Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil.

“O Mato Grosso já está começando a colher grãos de melhor qualidade agora. As chuvas estão diminuindo”, disse Silveira, que participou como convidado do Fórum Global Agrícola da Reuters, um chat online para operadores de grãos.

A empresa brasileira de meteorologia Somar prevê mais chuvas nesta semana no Centro-Oeste, mas no começo de março elas se deslocam para o Sul.

A soja com entrega em março encerrou o pregão desta terça-feira na bolsa de Chicago em baixa de 3,5 centavos, cotada a 14,48 dólares por bushel, pressionada pela perspectiva de uma safra mais abundante no Brasil e na Argentina, terceiro maior produtor mundial.

Embora o clima possa ter melhorado para a colheita, Silveira disse que o mesmo não acontece com a logística, já que a escassez de caminhões e os congestionamentos portuários levam a filas de mais de um mês para o embarque, mesmo antes do auge da safra.

“As filas vão piorar…, os custos para o transporte vão sem dúvida continuar subindo”, disse Silveira, acrescentando que esse custo irá em grande parte recair sobre as tradings. Ele estimou que os produtores já tenham vendido antecipadamente cerca de 70 por cento da safra, garantindo o preço.

“Produtores que ainda não venderam serão afetados, porém”, disse, uma vez que as tradings que enfrentam custos maiores deverão fazer ofertas menores para reduzir o impacto sobre suas margens, que estão apertadas pelo aumento nos custos de produção.

O setor de soja diz que será incapaz de aumentar o fluxo das exportações este ano, que deverão ser as mais caóticas já vistas, com a canalização de uma produção recorde para portos que foram incapazes de acompanhar o aumento da produção.

Novas regras nesta temporada também restringem a jornada diária dos caminhoneiros, o que limita ainda mais a capacidade do transporte rodoviário.

A abertura de um porto fluvial no norte, prevista para 2014, deve garantir algum alívio, mas projetos rodoviários e ferroviários cruciais, no valor de dezenas de bilhões de dólares, devem levar anos para serem construídos.

Intensificando os riscos neste ano, os sindicatos dos estivadores podem retomar suas greves a partir de meados de março, caso não consigam convencer o governo a alterar planos de reforma nos regulamentos portuários, que a categoria vê como uma ameaça a seus empregos e salários.

Silveira disse que os problemas logísticos estão corroendo a vantagem do Brasil sobre os EUA em termos de custos da produção. Ele prevê que os dois países se manterão “cabeça com cabeça” no volume produzido, e que não há certeza de que o Brasil manterá o posto de maior produtor no ano que vem.

“Mas espero que sim!”, acrescentou.