Uma safra recorde de soja deve impulsionar a demanda e elevar preços dos fretes rodoviários em Mato Grosso.

“Vamos ter uma inflação muito grande (de frete)”, disse João Birkhan, diretor da corretora Centrogrãos, que mantém um banco de dados com preços e cotações de frete em diversas regiões do país e que tem parceria com a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).

O frete entre Sorriso, município mato-grossense que é o maior produtor de soja do Brasil, e os portos de Paranaguá ou Santos pode subir quase 20 por cento nesta safra, ante os cerca de 220 reais por tonelada no pico do escoamento de produção em 2012, segundo a Centrogrãos.

“Já se fala, este ano, que não vai ser menos 260 reais”, disse Birkhan.

O auge da colheita e do escoamento de soja de Mato Grosso está previsto para entre 20 de fevereiro e 30 de março, segundo Birkhan.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Estado deve colher mais de 24 milhões de toneladas de soja este ano, 10 por cento a mais que no ano passado. No total, a safra brasileira deve crescer quase 25 por cento ante a temporada anterior, atingindo 82,7 milhões de toneladas, segundo a Conab.

Nesta terça-feira o frete de Sorriso para o porto, por tonelada, já era cotado a 240 reais para março e 253,29 reais para maio, com tendência de alta.

“Quem paga todas as contas, em última análise, é o produtor”, lembrou o especialista, ressaltando que embora os fretes entre silos e o porto sejam contratados pelas tradings, o valor é descontado do valor que o agricultor recebe localmente por sua soja.

Pelos cálculos da Centrogrãos, um produtor de soja de Sorriso estaria recebendo hoje 49,98 reais por saca de 60 kg, levando em conta a cotação de cerca de 14,54 dólares por bushel para o vencimento março na bolsa de Chicago. Na mesma época do ano passado, o primeiro contrato era negociado a cerca de 12,20 dólares.

Embora o valor da soja esteja historicamente alto, após uma quebra de safra nos EUA em 2012, um frete mais alto num Estado que escoa a maior parte de sua produção via caminhão tira um pouco o brilho de uma colheita com tamanho histórico.

Birkhan explica que dois fatores acabam motivando o fluxo intenso de soja entre a região produtora e os portos no mês de março, elevando demanda e preço do frete.

“Tem que colher e mandar para o porto”, diz ele, lembrando que falta capacidade de armazenagem em Mato Grosso que permita segurar um grande volume de soja para comercialização posterior.

Outra motivação é aproveitar os preços altos enquanto o mercado não é inundado pela soja colhida, reduzindo preços.

“Os primeiros grãos que chegam vale mais. Eles (vendedores) têm que carregar bem no início de março.”