A implantação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), em 2005, estimulou a produção de oleaginosas a partir da agricultura familiar e a negociação do biodiesel por leilões, impulsionando o desenvolvimento da indústria do setor no País. Hoje, aproximadamente 80% da produção brasileira de biodiesel advêm da utilização do óleo de soja e 9% a 15% do uso de sebo bovino, cuja participação em 2009 foi quase seis vezes superior à soma do uso da mamona e da palma.

Porém, a gordura bovina ainda é pouco associada à produção de biodiesel, seja pela incipiência de um mercado organizado para o sebo ou pelas poucas informações acerca das transações entre fornecedores e as plantas produtoras.

É o que aponta pesquisa do economista Gabriel Levy, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP), orientada pela professora Márcia Azanha Ferraz Dias de Moraes, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da faculdade. O trabalho envolveu um estudo multi-caso com oito usinas de biodiesel, que utilizam sebo bovino como matéria-prima.

De acordo com o pesquisador, a produção de biodiesel com sebo bovino apresenta problemas na aquisição da matéria-prima, pela falta de coordenação na cadeia produtiva entre frigoríficos/graxarias e usinas de biodiesel.

“A falta de um mercado organizado traz problemas referentes às oscilações do preço deste produto, bem como sobre a qualidade da matéria-prima, constituindo-se um ponto relevante, visto que um material de má qualidade pode implicar na geração de custos adicionais aos produtores de biodiesel, pela necessidade de tratamento do sebo e purificação dos resíduos pelas usinas. A maior consequência do problema referido é a geração de um combustível de má qualidade”, afirma.

Integração
A pesquisa destaca que a integração vertical pode ser considerada a estrutura de governança mais apropriada para a produção de biodiesel a partir de sebo bovino, dada a falta de padronização existente.

Levy explica que o sebo é um ativo com especificidades técnicas e físicas, o que atesta tanto a necessidade de criação de normas técnicas para a padronização da matéria-prima, como também a extensão do selo social ou criação de certificação ambiental para o sebo bovino a fim de melhorar a coordenação entre os agentes das transações por meio de políticas públicas, o que poderia estimular a diversidade de matérias-primas.

“A verticalização representaria um meio de reduzir os riscos associados à baixa qualidade do material, como também diminuir custos vinculados à informação sobre o produto. Neste sentido, a questão relacionada à informação justifica a percepção de que a integração vertical possa ser a configuração mais apropriada, uma vez que internalizaria as transações e reduziria os problemas relativos ao fornecimento. Assim, não apenas traria modificações positivas para ampliação do uso da matéria-prima na produção do biodiesel, como também possibilitaria alterações estruturais nas formas de comercialização do sebo bovino”, conclui.

* Com informações da Esalq