Autoridades do setor da aviação participaram de voo abastecido com bioquerosene e afirmaram o apoio à entrada deste biocombustível na cadeia produtiva nacional.
A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene – Ubrabio lançou ontem (19), no Rio de Janeiro, dentro da agenda da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, a Plataforma Brasileira do Bioquerosene (PBB). O lançamento ocorreu após a chegada do primeiro voo da Gol abastecido com o biocombustível. A aeronave partiu de São Paulo com autoridades brasileiras e internacionais do setor, parceiros e associados à entidade a bordo. Com a PBB, a Ubrabio pretende afirmar a importância socioeconômica e ambiental da utilização de biocombustíveis, e demonstrar que, a exemplo do transporte terrestre, esta já pode ser uma realidade também para o setor da Aviação. A Plataforma Brasileira do Bioquerosene foi lançada com o apoio da Boeing, Petrobras Distribuidora (BR Aviation), AirBP (unidade de distribuição de combustíveis para aviação da BP), BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e Curcas (empresa especializada no desenvolvimento de projetos de energia renovável).
“Além de contribuir com a cadeia do biodiesel no Brasil, a Ubrabio iniciou uma agenda para trabalhar pelo uso dos biocombustíveis na aviação, lado a lado com a utilização de combustíveis renováveis de uma forma geral”, afirmou o presidente do Conselho Superior da entidade, Juan Diego Ferrés. Ele explicou que o foco da Ubrabio nos combustíveis de fonte renovável considera o potencial da produção nacional dentro da economia global e que existe a possibilidade de atender ao mercado interno e externo. O presidente salientou o valor sustentável do produto: “A ação é uma contribuição adicional ao país no sentido de reduzir a emissão de poluentes atmosféricos e o sequestro de carbono, agente responsável por consequências dramáticas no clima da Terra”, afirmou Ferrés.
Durante o lançamento da PBB, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Fernando Pimentel, afirmou que a iniciativa é importante para o Brasil e para o mundo e que o país tem condições de ofertar, de forma regular e estável, preços competitivos do biocombustível para aviação. “Este é o encontro da aviação com o meio ambiente, um momento simbólico junto a Rio+20 e que representa nossos objetivos para um futuro mais sustentável”, disse o ministro. Pimentel ressaltou a presença do presidente da Ubrabio e ex ministro, Odacir Klein, do presidente do Conselho Superior da entidade, e falou sobre as ações da Ubrabio à frente da cadeia produtiva brasileira do biodiesel e da representação nacional da PBB: “Um trabalho dirigente e ambientalmente compromissado”, declarou.
Ferrés explicou que este é o marco zero do bioquerosene no Brasil. “É o momento de comprovar a viabilidade técnica, principalmente na questão da segurança na aviação, e também comprovando de forma inequívoca todos os benefícios ambientais e a sustentabilidade deste biocombustível. Agora começa a etapa de estruturar a cadeia de produção e comercialização no país”, afirmou. O presidente do Conselho Superior da entidade disse ainda que era uma felicidade o lançamento da PBB acontecer na Rio+20. Ele lembrou que passados 20 anos desde a Rio 92, foi comprovado o desenvolvimento de dois grandes combustíveis líquidos, o etanol e o biodiesel. “Esperamos que nas próximas agendas ambientais tenhamos resultados com o bioquerosene, tão significativos quanto os alcançados por estes biocombustíveis”.
No evento, o vice-presidente técnico da Gol, Adalberto Bigsan, destacou que a empresa pretende contribuir com a participação do bioquerosene no setor. “Nosso objetivo é colaborar, apoiar e incentivar o crescimento da aviação com um serviço de menor impacto ao planeta”, afirmou Adalberto. O diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Helder Queiroz, falou sobre o apoio da Agência à PBB. “A ANP apoia iniciativas como esta, tanto para acelerar os processos de revisão das regulamentações e especificações, quanto na melhoria da qualidade e na direção de novos combustíveis”, afirmou. Segundo Helder, o Brasil está no caminho para consolidar a busca pelo processo de inovação no setor.
O consumo de querosene fóssil no Brasil chegou, em 2011, a de 7 bi litros/ano, dentro de um cenário global de aproximadamente 250 bi litros/ano. Ferrés falou sobre as expectativas do mercado pela oferta dos biocombustíveis. “O mercado espera estruturas compatíveis para substituir os combustíveis fósseis e poluidores da aviação comercial por combustíveis limpos e renováveis.” E reafirmou o papel da entidade na produção e comercialização das energias renováveis produzidas no país: “A Ubrabio representa toda a cadeia produtiva do biodiesel brasileiro. Neste momento, estamos abraçando o universo de agentes, toda a cadeia – produtores, fabricantes de equipamentos, de tecnologia, fornecedores de insumos, pesquisa tecnológica – para fazer o elo das instituições Governo e entidades, como também a indústria da aviação e os transportes aéreos de passageiros e cargas”, concluiu.
Pesquisa, desenvolvimento e inovação representam os novos horizontes para a cadeia do bioquerosene no Brasil. A implementação deste biocombustível é fruto de esforços de atores privados e públicos, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Ministério da Ciência e Tecnologia, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e acadêmicos. Surge no país uma nova cadeia de alto valor agregado, que utiliza o viés social aplicado no Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel (PNPB), responsável pela inserção produtiva de agricultores familiares como um vetor de oleaginosas, como a camelina e o pinhão manso, e óleos residuais como matérias-primas.
Trajeto sustentável
Até a chegada ao Rio de Janeiro, o secretário geral da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) da Organização das Nações Unidas (ONU), o francês Raymond Benjamin, percorreu um trajeto de 11.500km, partindo de Montreal e passando por Toronto, México e São Paulo. Os quatro voos foram abastecidos com combustíveis de fontes renováveis que, juntos, somaram uma economia de 47 toneladas de emissão de CO2. “Uma viagem extraordinária. Foi uma honra poder fazer parte de uma operação tão ambiciosa e que também incluiu passageiros. O que fizemos hoje foi demonstrar o quanto as emissões de CO2 podem ser reduzidas”. E completou: “Os voos globais abastecidos por biocombustíveis são uma realidade e podem surgir de fontes que não concorrem por água ou terra com as culturas de alimentação”, declarou Raymond.