Terça-feira, 05 de outubro de 2021.

Durante audiência pública realizada nesta terça-feira (5) na Comissão de Infraestrutura do Senado para tratar da mistura do biodiesel ao diesel de petróleo, o diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, defendeu o banimento do diesel S 500, combustível de origem fóssil que representa 45% do consumo nacional e é responsável por lançar uma grande quantidade de enxofre na atmosfera.

“O Brasil utiliza um diesel que provoca poluição, causa doenças e mata brasileiros. Adversário do biodiesel é adversário da vida”, disse Donizete. E acrescentou: “Essa discussão deve ser travada exatamente para os cidadãos, para as pessoas, e o que nós vimos nessa coalisão que se apresentou antes aqui contra o uso do biodiesel na mistura do biodiesel, foi mais defendendo as máquinas. Nós temos que nos preocupar com o entupimento das veias das pessoas que sofrem com a poluição causada pelos combustíveis fósseis”.

O dirigente da Ubrabio citou a Organização Mundial da Saúde (OMS) que constatou mais de 50 mil mortes em 2018 e milhões de internações por doenças causadas pela poluição veicular, obrigando o ministério da Saúde a gastar R$ 22 bilhões com sua rede hospitalar para tratar pacientes com estas enfermidades. Em todo o mundo morrem precocemente cerca de 7 milhões de pessoas pelas mesmas causas.

Segundo Donizete, além de lançar enxofre na atmosfera, o diesel S 500 também tem elevado teor de água, o que também demonstra a baixa qualidade do produto. “Isto demonstra que os problemas de qualidade no diesel vendido ao consumidor não podem ser atribuídos ao biodiesel. O consumidor utiliza o diesel já misturado e não biodiesel puro”, lembrou Donizete. Ele ressaltou que antes da mistura obrigatória do biodiesel ao diesel de petróleo, o índice de conformidade do combustível era de 10%. Com a entrada do biodiesel no mercado, o índice de conformidade medido pelos órgãos públicos subiu para 97%.

O dirigente da Ubrabio refutou as afirmações feitas por representantes da indústria automobilística, da produção e distribuição de combustíveis fósseis de que o biodiesel provoca problemas mecânicos nos motores com o uso de percentual de mistura acima de 10%. Ele citou o exemplo dos EUA onde, a depender do Estado e da estação do ano, há uma variação entre 5% a 20% de mistura de biodiesel ao diesel fóssil que abastecem os mesmos veículos e equipamentos utilizados no Brasil. “Em Minnesota, que é um estado muito frio, no período de mais frio eles misturam 5% e no período quente a mistura é de 20%”, exemplificou.

Levantamento feito pela Ubrabio revelou que é inócua a justificativa adotada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de reduzir o percentual de mistura para amenizar o impacto do preço do óleo de soja na produção do biocombustível. A variação média de preço do diesel B entre postos de abastecimento do Mato Grosso, por exemplo, chega a 19%, enquanto que o percentual de redução do preço final do diesel com o corte no volume de biodiesel é de menos de um por cento.

“O que vale mais para a sociedade, o impacto de menos de 2% no preço final do diesel ou todos os benefícios que valorizam o cidadão e o emprego. Temos que considerar o valor e não apenas o preço do biodiesel e sua contabilidade sócio, econômica e ambiental”, questionou Donizete. A Ubrabio defende a manutenção da programação da mistura de biodiesel ao diesel fóssil prevista na lei e que deveria ser de 13% este ano, 14% no próximo ano e de 15% em 2023.

INDUSTRIALIZAÇÃO 

Na sessão da comissão presidida pelo senador Welington Fagundes (PL-MT), Donizete enumerou os benefícios de toda a cadeia de produção do biodiesel para a economia, com investimentos acumulados que chegam a R$ 9 bilhões em mais de 50 plantas industriais espalhadas pelo interior do país, geração de emprego e renda, além do envolvimento de 300 mil trabalhadores da agricultura familiar que fornecem matérias primas para a produção do biocombustível.

Na sua palestra, Donizete também abordou os benefícios do biodiesel para a segurança energética, com a oferta de mais uma opção de combustível, e garantia da produção de alimentos com a maior oferta de farelo de soja para alimentação de animais e produção de proteínas, agregando valor a importantes setores do agronegócio. “Estamos tratando aqui de um biocombustível que representa desenvolvimento nacional, saúde e geração de emprego e renda”, disse o dirigente da Ubrabio.

TESTES 

A sessão da comissão também contou com a participação do Coordenador Geral do programa Renovabio, Fábio Vinhado. O assessor do Ministério de Minas e Energia lembrou que foram realizados testes dos motores a diesel com participação de 18 empresas associadas à Anfavea, Abimaq e Sindipeças, sob a coordenação do departamento de Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia.

Segundo ele, os testes foram robustos, extensos e avaliaram a compatibilidade química, partida a frio, dirigibilidade e desempenho, emissões, estabilidade de oxidação, restrição ao fluxo, capacidade de sedimentação, análise do combustível, durabilidade e a contaminação do óleo lubrificante para a evolução percentual da mistura. Vinhado também citou os estudos complementares para avaliar a estabilidade do combustível e a conclusão positiva permitiu que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) definisse a evolução do percentual de mistura até chegar a 15% em 2023.

AGRO 

Presente ao debate, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) lembrou que o biodiesel, além das vantagens como combustível menos poluente, também é muito importante para o fornecimento de farelo de soja para as rações que possibilitam a produção de frango, suíno e leite, por exemplo. “É muito importante que os percentuais de biodiesel no diesel sejam mantidos para que possamos ter a oferta de farelo de soja, gerado em razão da produção de biodiesel, e que beneficia os produtores rurais e as exportações de carne”, argumentou Heinze.

Também participou dos debates na Comissão de Infraestrutura do Senado o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, que ressaltou a importância da utilização do biodiesel na cadeia produtiva agrícola. Segundo ele, o Brasil consome internamente menos de metade da soja que produz e por isso depende da produção do biodiesel para viabilizar o setor.

“Para o setor produtivo de maneira geral, é de grande importância que se mantenha, respeitando as condições técnicas, o uso de biocombustíveis”, disse Cadore.

Também participaram dos debates a diretora da ANP, Symone Araújo, dirigentes de entidades do setor de transportes,

Anfavea, distribuição e revenda de combustíveis e dirigentes de outras entidades do setor de biodiesel.

Assista na íntegra a participação do diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) na Comissão de Infraestrutura do Senado para tratar da mistura do biodiesel ao diesel de petróleo.