Especialistas em políticas socioambientais e de governança que fizeram palestras e participaram dos debates nesta quinta-feira (12) na II Biodiesel Week, consideraram a produção brasileira de biocombustíveis como exemplo de modelo de negócio que pode permitir ao Brasil assumir um protagonismo mundial nas práticas de sustentabilidade, sociais e de governança.
O diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global da ONU, Carlo Pereira, um dos palestrantes do evento, lembrou que a questão do clima se agrava a ponto de a União Europeia decidir criar um imposto de fronteira sobre produtos com forte pegada de carbono. E que os EUA já discutem taxas parecidas.
“Pra nós do Brasil isso é música. Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo e nossos produtos têm uma pegada de carbono menor”, disse Pereira. Acrescentou que a produção dos biocombustíveis, e especialmente do biodiesel, dá ao Brasil uma vantagem competitiva que o país deve aproveitar diante das exigências mundiais.
O dirigente do Pacto Global da ONU também citou o RenovaBio, programa do governo de incentivo à produção de biocombustíveis, como exemplo de governança já adotado pelo Brasil, e que coloca o país em posição privilegiada em comparação com outras nações.
Pereira enfatizou que o Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis do Mundo, três vezes mais que a Indonésia, e está entre os dez maiores geradores de energia eólica. E relembrou outros programas, como o Proálcool e o próprio biodiesel como bons exemplos.
A gerente de mudanças climáticas da Vale S/A, Vivian MacKnight, outra palestrante da II Biodiesel Week, disse que as práticas de ESG podem reduzir custos e alavancar margens de lucro. Ela deu como exemplo o uso da energia renovável que possibilita uma efetiva redução de custos. No lado do lucro, é preciso que empresas e governos definam como incluir estas externalidades de uma produção ou setor dentro do modelo de cálculo do negócio.
“Estamos vivendo um momento de transformação e as práticas de ESG já fazem parte do negócio. Há uma demanda cada vez maior do lado da sociedade e dos investidores para isto”, alertou a representante da Vale.
Líder de novos negócios na América Latina da Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB), Carolina Grassi também fez palestra no evento e lamentou que o Mundo já tenha ultrapassado os limites da interação saudável entre o homem e a natureza. Sugeriu que, apesar da situação trágica, o momento também representa uma excelente oportunidade para o Brasil.
“O Brasil, e especificamente o setor de biodiesel, tem potencial de liderança neste setor porque já tem conhecimento de como fazer sua nova economia e como torná-la sustentável”, disse a executiva da RSB, empresa associada à Ubrabio.
O debate foi mediado pelo presidente da Comissão Nacional de Bioeconomia do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Igor Tokarski. Ele citou levantamento da Confederação Nacional da Indústria que mostra a criação de 18 milhões de empregos pela bioeconomia e movimentação de 2,3 trilhões de euros em 2015 na União Europeia. O levantamento ainda mostra que, em 2016, o valor das vendas atribuído à bioeconomia brasileira foi de US$ 326 milhões.
“A agenda de 2030 para o desenvolvimento sustentável, da ONU, e o acordo de Paris criam um ambiente favorável ao desenvolvimento de estratégias de bioeconomia para o avanço do tema no mundo”, disse Tokarski. E acrescentou: “Com 20% do total da biodiversidade do planeta, 12% das reservas de água doce, 8,5 milhões de quilômetros quadrados de zona marítima, o Brasil possui vantagens comparativas que permitem se posicionar como líder global em bioeconomia”.
Os debates também contaram com a participação da CEO da Perspectivas, Marina Mattar. Ela salientou que o Brasil tem um super potencial de apresentar ao Mundo uma das soluções para a economia de baixo carbono que são os biocombustíveis, e que esta característica deveria ser explorada em discussões nos fóruns internacionais sobre o tema.
“Investir em economia de baixo carbono é apostar nas profissões do futuro, manter os profissionais no Brasil”, disse Marina, que é coordenadora-executiva da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo. “É importante exportar soja, mas também é importante agregar valor a este produto, gerar renda e emprego no país e exportar o biocombustível, exportar o bioquerosene de aviação”, concluiu.