04/02/2020 – O Brasil ficou 14% mais eficiente energeticamente entre 2005 e 2018, com destaque para os setores residencial e de transportes. Os dados fazem parte do Atlas da Eficiência Energética 2019, divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) na última semana.

O Altas mostram que, entre 2001 e 2018, o Produto Interno Bruto (PIB) evoluiu a uma taxa média de 2,3% ao ano, acumulando um crescimento de 50%. A oferta interna de energia cresceu no mesmo ritmo da economia (2,3% ao ano), mostrando forte correlação com o PIB.

Contudo, entre 2001 e 2009 o PIB cresceu a uma taxa média superior à da oferta interna de energia, de 3,3% contra 2,8%, respectivamente. O descasamento gerou o racionamento de energia de 2001, que culminou na publicação da Lei de Eficiência Energética (nº 10.295/2001), onde foram determinados índices mínimos de eficiência energética para equipamentos.

A eficiência energética no país é medida pelo ODEX, índice que de conservação de energia que considera a variação de indicadores de consumo e pondera em relação ao peso no consumo.

Indústria

A indústria consome um terço de toda a energia produzida no país para a fabricação de seus produtos. Até 2017 era o setor que mais consumia energia, mas foi superado pelo setor de transporte por conta da crise econômica que abateu o país a partir de 2014. Eletricidade, bagaço de cano, lenha e carvão vegetal são as principais fontes de energia da indústria.

Em 2018 o ODEX da indústria foi de 93, 7% menor que o ODEX em 2005, com redução média de 0,6% ao ano, o que representa ganho médio de eficiência energética. O índice foi impactado pelo período de recessão da indústria entre 2013 e 2017, quando alguns segmentos operavam com capacidade ociosa, fora da sua normalidade. Também ajudou o fechamento de plantas menos ineficientes em alguns setores, como o siderúrgico.

Transporte

O setor de transportes é responsável por 33% do consumo final energético no Brasil, sendo feito prioritariamente por rodovias. A avaliação da EPE mostra que a matriz de transportes poderia priorizar os modais ferroviário e hidroviário, o que poderia reduzir significativamente a demanda por energia e ampliar os ganhos de eficiência sistêmica.

O setor de transporte de passageiros, em geral, não apresentou ganhos de eficiência. As novas demandas da sociedade para o transporte coletivo das grandes cidades – como Rio e São Paulo – têm acrescido demandas nos ônibus que reduzem a eficiência média dos veículos.

Para veículos leves, os dados mostram que a inserção da tecnologia flex fuel repercutiu no aumento da demanda pelo etanol hidratado, que teve sua participação ampliada de 11,8% para 21,5%. A previsão é que a expansão continue já que veículos flexs estão dominando o mercado.

A expansão do GNV, que é utilizado em veículos convertidos, é competitivo principalmente para veículos que percorrem longas distâncias diariamente e que recebem benefícios fiscais locais (descontos no IPVA, por exemplo).

O Atlas indica aumento da eficiência dos veículos flex fuel em 17% entre 2003 e 2009, de 10,3 km/l para 12 km/l, quando consumindo gasolina. Já os veículos a gasolina apresentaram redução de 15% na eficiência no mesmo período, chegando a 9,5 km/l em 2009.

No transporte ferroviário, com novos investimentos em metrôs, trens urbanos, veículos leves sobre trilhos (VLTs) e monotrilhos, o setor ganhou equipamentos mais eficientes.

As futuras necessidades de demanda de energia de transporte do Brasil podem aumentar em mais de um terço até 2040, de acordo com as políticas atuais (IEA, 2018c). Para reduzir emissões e importações, eficiência energética pode ser um fator importante.

Políticas públicas para eficiência energética começaram nos anos 1980

O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE/1984), coordenado pelo Inmetro, foi o pioneiro no Brasil em eficiência energética. Procel, para eletricidade, e Conpet, para petróleo e gás, foram criados em 1985 e 1991, respectivamente, para eficiência energética. Ambos são coordenados pelo Ministério de Minas e Energia.

A EPE aponta que as ações do Procel resultaram em uma economia de 23 TWh, equivalente a 4,87% do consumo total de energia no Brasil.

Mesmo com os ganhos apontados, o estudo mostra que ainda existem barreiras que dificultam a ampliação da eficiência energética o Brasil:

  • baixa priorização dos projetos de eficiência pelas empresas e consumidores
  • falta de conhecimento sobre o potencial e medidas de eficiência
  • carência de informações e dados
  • falta de confiança sobre os reais custos e benefícios das ações de eficiência
  • modelos de negócio para realização de investimentos em eficiência
  • resistência a mudança

Fonte: Diálogos da Transição/epbr