O site Climate Home News teve acesso e publicou a versão enviada pelo IPCC aos governos do sumário executivo do relatório 1,5°C. O relatório deve ser oficialmente lançado em outubro, depois dos comentários dos governos. Abaixo as principais conclusões do sumário:

– O aquecimento global induzido pela humanidade atingiu, em 2017, aproximadamente 1 ± 0,2°C acima dos níveis pré-industriais, e atualmente está aumentando 0,2 ± 0,1°C por década;

– É improvável que as emissões passadas, sozinhas, elevem a temperatura média global ao nível da superfície (GMST) em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, mas levam a outras mudanças, como a elevação do nível do mar e os impactos associados. Se as emissões continuarem na taxa atual, o aquecimento induzido pelo homem ultrapassará 1,5°C por volta de 2040;

– Os riscos para os sistemas naturais e humanos são menores para um aquecimento global de 1,5°C quando comparados a um aquecimento de 2°C, e dependem da localização geográfica, dos níveis de desenvolvimento, da vulnerabilidade e das escolhas de adaptação e mitigação;

– O desenvolvimento sustentável, a erradicação da pobreza e implicações para a ética e a equidade serão considerações-chave nos esforços de mitigação para a limitação do aquecimento global a 1,5°C e nos esforços para a adaptação ao aquecimento global de 1,5°C;

– Não há uma resposta simples quanto a saber se é viável limitar o aquecimento a 1,5°C e adaptar as populações às suas consequências, porque esta viabilidade tem múltiplas dimensões que precisam ser consideradas simultânea e sistematicamente;

– Em relação a hoje, existem aumentos substanciais nos eventos climáticos extremos num mundo aquecido em 1,5°C, e entre 1,5°C e 2°C, incluindo extremos de temperatura ambiente em todas as regiões habitadas, eventos de precipitação na maioria das regiões e secas extremas em algumas regiões;

– Em terra, os riscos de impactos induzidos pelo clima na biodiversidade e nos ecossistemas, incluindo a perda e a extinção de espécies, são substancialmente menores a 1,5°C do que a 2°C. Limitar o aquecimento global a 1,5°C trará grandes benefícios para os ecossistemas terrestres, para os de zonas úmidas e para a preservação de seus serviços. Um sobreaquecimento, se muito superior a 1,5°C (por exemplo, próximo a 2°C), pode ter impactos irreversíveis em algumas espécies, ecossistemas, suas funções ecológicas e seus serviços prestados aos humanos, mesmo se o aquecimento global se estabilizar em 1,5°C até 2100;

– Devido às diferenças projetadas na temperatura oceânica, nos níveis de acidificação e de oxigenação, limitar o aquecimento a 1,5°C comparado com 2°C reduziria substancialmente os riscos à biodiversidade marinha, aos ecossistemas e suas funções ecológicas e aos serviços prestados aos seres humanos nas áreas costeiras e oceânicas, especialmente nos ecossistemas do mar Ártico e nos recifes de coral de água quente;

– Até 2100, o aumento do nível do mar seria cerca de 0,1 m mais baixo com o aquecimento global limitado a 1,5°C, quando comparado com 2°C. Aumentos da intrusão de água salgada, de inundações e de danos à infraestrutura associados ao aumento do nível do mar são especialmente danosos para ambientes vulneráveis, como pequenas ilhas, zonas costeiras de baixa altitude e deltas;

– Impactos na saúde, nos meios de subsistência, no abastecimento de alimentos e água, na segurança, na infraestrutura e sobre o potencial subjacente de crescimento econômico aumentarão com 1,5°C de aquecimento em comparação com os dias de hoje, e ainda mais com um aquecimento de 2°C em comparação com 1,5°C;

– Limites à adaptação e perdas associadas existem para todos os níveis de aquecimento global com implicações específicas para regiões e populações vulneráveis. É necessária uma adaptação adicional nos setores avaliados de energia, terra e ecossistemas, sistemas urbanos, industriais e de transporte, e dentro de setores transversais como gestão de risco de desastres, saúde e educação; as necessidades de adaptação serão menores com o aquecimento global de 1,5°C, em comparação com 2°C;

– Todas as trajetórias de emissão consistentes com 1,5°C implicam reduções rápidas nas emissões líquidas globais antropogênicas de CO2 para zerar as emissões líquidas até meados do século, junto com reduções rápidas em outras emissões antropogênicas, particularmente de metano. Maiores reduções de emissões até 2030 levam a uma maior chance de limitação do aquecimento global a 1,5°C sem, ou com limitado, superaquecimento (de zero a 0,2°C;

Trajetórias consistentes com 1,5°C podem ter diferentes níveis de remoção de dióxido de carbono (CDR). Algumas limitam o aquecimento global a 1,5°C sem depender da bioenergia com captura e armazenamento de carbono (BECCS). Mudanças comportamentais, ações pelo lado da demanda e reduções de emissões no curto prazo podem limitar a dependência do CDR;

– Limitar o aquecimento global a 1,5°C exigiria transições rápidas e de longo alcance, que ocorreriam durante as próximas duas décadas, em sistemas energéticos, terrestres, urbanos e industriais;

– Mesmo se cumpridas as atuais promessas do Acordo de Paris (NDCs), estas ainda resultarão em um aquecimento global acima de 1,5°C, com riscos associados e desafios de adaptação. As reduções de emissões e a ação para além das NDCs atuais levam a uma redução do sobreaquecimento e a desafios de transição menores após 2030, e podem contribuir para que sejam atingidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS);

– A limitação do aquecimento global a 1,5°C no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza requer um portfólio de ações de mitigação e adaptação que funcione em todos os setores e escalas. Essas ações devem enfrentar as principais barreiras e seriam possibilitadas por mudanças nas finanças, na tecnologia e no comportamento;

– A adaptação pode reduzir a vulnerabilidade ao aquecimento global de 1,5°C e é benéfica, principalmente, para o desenvolvimento sustentável e a redução da pobreza. Também podem haver consequências negativas (trade-offs) com alguns dos ODS da ONU, se as ações não forem específicas para os distintos contextos e gerenciadas com cuidado;

– A mitigação consistente com as trajetórias de aquecimento global de 1,5°C está associada a múltiplas sinergias e trade-offs em uma série de ODS da ONU, dependendo do ritmo e da magnitude das mudanças e do gerenciamento da transição;

– Perseguir caminhos de desenvolvimento resilientes ao clima pode limitar o aquecimento a 1,5°C, ao mesmo tempo em que nos adaptamos às suas consequências e simultaneamente alcançamos o desenvolvimento sustentável;

– A implementação de políticas para limitar com sucesso o aquecimento a 1,5°C, e para adaptar a humanidade a este aquecimento, implica cooperação internacional e fortalecimento da capacidade institucional das autoridades nacionais e subnacionais, da sociedade civil, do setor privado, de cidades, comunidades locais e povos indígenas.

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Fonte: Climainfo