Gerente da Fieto diz que um plano de desenvolvimento atrairia indústrias.
Agroindústria geraria empregos, renda e riqueza, na visão de especialistas

Entre os estados da região norte, o Tocantins é o com maior produção em soja (Foto: Jesana de Jesus/G1)Há décadas o caminho da soja cultivada no Tocantins tem praticamente o mesmo destino. O grão no estado segue inteiro para o porto de Salvador ou de Itaqui, no Maranhão, e de lá é exportado para outros países, principalmente os do continente asiático. Nesta safra, a produção deve chegar a 2.245,9 mil toneladas, 9,1% a mais que na safra passada, quando foram produzidos 2.058,8 mil toneladas. Ao desembarcar rumo a outros países, o grão de maior produção no estado leva também renda, emprego e riqueza, que poderiam ser gerados no estado. Esta visão é compartilhada por gestores e especialistas que veem na agroindústria o caminho para o desenvolvimento no estado.

Entre os estados da região norte, o Tocantins é o que mais produz e o que mais planta o grão. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nesta safra 2014/2015, a área plantada de soja deve chegar a 797 mil hectares. Os números impressionam. Se compararmos com a área plantada em 2000, é possível perceber o crescimento do grão ao longo dos anos. Conforme informações da Secretaria Estadual da Agricultura, naquele ano, quando a soja começou de fato a se desenvolver aqui, foram registrados 105 mil hectares de área plantada. Isso significa que em 14 anos, o crescimento foi de 759%. A produção seguiu o mesmo caminho. Em 2000, o estado produziu 262,5 mil toneladas. Este ano, a produção aumentou para 2.245,9 mil toneladas. Um crescimento de 855%.
Desenvolvimento da soja no Tocantins

 
Área plantada (mil ha) Produção (mil t)
Safra 2000/2001 Safra 2014/2015 Safra 2000/2001 Safra 2014/2015
105 797 262,5 2.245,9
Crescimento: 759% Crescimento: 855%

Mas a que se deve este aumento considerável da produção do grão no estado ao longo dos anos? Além da alta procura por soja, as condições de clima e de solo podem ser apontadas como fatores decisivos para este crescimento. “A demanda crescente por soja no mundo, as condições de clima, de solo, de relevo, favoráveis à produção agrícola. Além disso, a partir de 2000 consideramos o crescimento pois foi quando começamos a utilizar tecnologias mais apropriadas, como o plantio direto”, argumentou o engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura do Tocantins, Genebaldo Queiroz. Ele ainda acrescentou que as áreas disponíveis para cultivo, a localização geográfica e o próprio desenvolvimento do estado também podem ser apontados como facilitadores.

A soja é o grão de maior produção no Tocantins, corresponde a cerca de 70% da área cultivada no estado, conforme o governo. O potencial agrícola é inegável, mas de acordo com o gerente da unidade de defesa dos interesses da indústrias da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto), José Roberto Fernandes, a produção de soja, por si só, não provoca impactos na economia.

Praticamente toda a soja produzida aqui é exportada para a China e a Índia, principalmente. Mas o que mudaria caso a soja fosse industrializada no estado? A visão dos especialistas é quase unânime a respeito da industrialização. Se o grão fosse beneficiado aqui, geraria empregos e riqueza. “Quando você exporta a soja, você exporta um monte de água junto, exporta um monte de emprego junto, se você pudesse elaborar essa soja aqui. A principal vantagem da industrialização é reter os insumos, valorizá-los e exportar os produtos valorizados”, defendeu Fernandes.

A soja corresponde a cerca de 70% da área cultivada no Tocantins (Foto: Ascom/Seagro)Se a soja fosse transformada no Tocantins beneficiaria também os agropecuaristas do estado, na concepção de Queiroz. Ele explicou que hoje, mais de 90% da ração animal é composta por farelo de soja e milho. Como no estado ainda não tem uma indústria de esmagamento de soja em funcionamento, o próprio mercado interno fica prejudicado. Isso porque os criadores de gado, aves e suínos precisam importar o produto. “É contra mão. O custo se torna alto por causa da tributação, do frete. Temos sim que continuar vendendo as commodities, mas temos que industrializar ao máximo para atendermos ao próprio mercado interno tocantinense. A geração de renda pode quase dobrar quando o produto é acabado”, afirmou.

Do outro lado

Ruben com o neto em uma plantação de soja no Tocantins (Foto: Ruben Ritter/Arquivo Pessoal)No estado desde 1983, o presidente da Associação de Produtores de Soja no Tocantins (Aprosoja), Ruben Ritter, acompanhou a evolução da soja. Ele disse que o grão passou por três ciclos. O primeiro na década de 80, o segundo em 1990 e o terceiro em 2000, ano em que a soja começou de fato a ser desenvolvida e continua até os dias atuais. Segundo ele, a sojicultura se consolidou a partir do momento em que a sociedade entendeu a importância dela.

Ritter acredita que o desenvolvimento que a agroindústria pode trazer para o Tocantins deve ser ponderado. “O fundamental é a agricultura, primeira engrenagem deste movimento. A partir dela, que é a matéria-prima, chega a indústria. Tudo é gradual. Mas não acredito neste momento mágico que a indústria iria proporcionar. A agroindústria acontece graças ao primeiro elo. As indústrias aqui serão mais um mercado para nós”.

Área plantada de soja deve chegar a 797 mil hectares na safra 2014/2015 (Foto: Ascom/Seagro)Segundo o presidente, há 650 produtores de soja no Tocantins e a sojicultura, no ano passado, injetou R$ 2 bilhões na economia tocantinense. “O que tem de estimular é o agricultor que é fundamental para o desenvolvimento da economia e viabilizar a exportação, a maior fonte de receitas do país. A agroindústria é um complemento. Não será a indústria um passo milagroso. Tudo é um conjunto, tem as empresas de fertilizantes, defensivos, de transporte, que se justifica pelo volume de soja”.

Na visão de Queiroz, a agroindústria também beneficiaria os produtores. Segundo ele, o Tocantins ainda não tem capacidade de armazenar nem 50% da safra. “Se a gente tiver um problema na exportação de soja. Se por exemplo a China deixar de comprar soja, nós não temos para quem vender e nós não temos como armazenar. As agroindústrias, além de gerar emprego, de gerar divisas, de gerar receita, tanto para o governo quanto para a população, elas fazem esse papel”.

Apesar de possuir potencial agrícola, soja não é beneficiada no Tocantins (Foto: Madson Maranhão/Seagro)A primeira indústria em larga escala

A agroindústria está engatinhando no Tocantins e quem dará o pontapé inicial para o beneficiamento da soja no estado é a Granol, instalada em Porto Nacional, a 66 km de Palmas. A indústria foi instalada em 2013 e ainda está em construção. Segundo o gerente administrativo da unidade, Jordel Souto Brito Machado, a fabricação de óleo de soja está em funcionamento. São produzidos 360 metros cúbicos por dia. O biodiesel produzido abastece os mercados nas regiões norte e nordeste.

A soja usada para a produção do óleo é comprada dos produtores do estado. Segundo Machado, a Granol também vai atuar no recebimento, esmagamento de soja e venda de farelo. Para fazer o armazenamento do grão, foram instaladas cinco unidades em Porto Nacional, Figueirópolis, São Valério da Natividade, Marianópolis do Tocantins e Aguiarnópolis. Estas unidades servirão de pulmão para abastecer as indústrias localizadas em outros estados e principalmente a esmagadora da Granol que deve entrar em funcionamento em abril deste ano.

Quando a esmagadora de soja entrar em funcionamento ela terá uma capacidade de processar 2,5 mil toneladas por dia. Parte da produção abastecerá o mercado interno e a outra parte será exportada. Além disso, está prevista a geração de 350 empregos diretos. “O benefício é para o estado, gera emprego, receita, impulsiona o comércio e incentiva outros empreendimentos no município. Para o produtor vejo também que é bom. Eles terão preços melhores de venda e um local de armazenagem”.

O gerente diz que a Granol foi atraída pela capacidade de produção de soja do Tocantins. “Nós enxergamos o potencial do estado desde 2005”. Segundo Machado, encontrar mão-de-obra especializada é uma das principais dificuldades. Ele contou que no início, teve que importar trabalhadores, mas que a intenção é capacitar as pessoas daqui, principalmente de Porto Nacional, para suprir a demanda da indústria. “Estamos dando treinamento para a mão-de-obra local, além disso vamos estabelecer parcerias com institutos para promover cursos profissionalizantes”.

Soja colhida no Tocantins é levada para os portos de Salvador e do Maranhão para depois ser exportada (Foto: Madson Maranhão/Seagro)Gargalo x Estímulo à capacitação

A mão-de-obra é um gargalo no Tocantins, na concepção da diretora regional do Senai, Márcia Rodrigues de Paula. Entretanto, ela pondera que no estado existe mão de obra e pessoas a serem ocupadas no mercado de trabalho, mas muitas vezes elas não estão preparadas para a inserção no setor em desenvolvimento. “Por vezes essas pessoas não estão com a preparação ou a formação que é exigida para aquela área que está em desenvolvimento ou está sendo disponibilizada naquele momento”, argumentou.

A agroindústria é um destes setores em desenvolvimento no estado e que vai exigir uma mão de obra preparada. Márcia diz que o importante é identificar os tipos de especialização em falta e promover a capacitação. Para isso, o Senai está em contato com as principais empresas que estão estabelecidas e também com os sindicatos. O objetivo é ouvir o setor, o segmento ou as empresas e identificar qual o perfil de profissional que eles necessitarão.

A diretora diz que se reunirá com a Granol na próxima quarta-feira (4) para fazer um diagnóstico e elaborar um plano de ação. A intenção é colher dados para subsidiar a ação do órgão agora, a curto e a longo prazo.

Nesse contexto, vale mencionar a importância da educação para o desenvolvimento da indústria e desta para impulsionar o surgimento de novos cursos. “Nenhum processo de desenvolvimento acontece se não for respaldado pela educação, pela formação e pelo conhecimento. É isso que possibilita o desenvolvimento industrial e econômico. Quanto mais eu tenho uma equipe com conhecimento, que domina aquele processo, aquela tecnologia para produzir, mais eficiente e produtivo eu serei, mais possibilidade de competir no mercado eu terei”, concluiu.

O engenheiro da Secretaria Estadual da Agricultura defende que a industrialização no Tocantins não está atrasada, acontece a seu tempo. “Digamos que hoje nossa produção está consolidada, mas cinco anos atrás não era a ponto de atrair uma grande indústria. É um investimento alto”. Queiroz alega que o Estado faz a parte dele em divulgação, benefícios fiscais, obras de infraestrutura, energia e estradas. “O governo está de portas abertas. Aqui é um local atrativo, mas o investimento é privado e vai da escolha do comando dessas empresas”.

A respeito da distância entre os grandes mercados, principalmente do sul e sudeste, o engenheiro concorda que para que as indústrias se instalem aqui é preciso haver uma compensação. “É necessária essa compensação em relação à distância dos grandes mercados consumidores, mas também nós temos os mercados do norte e nordeste que têm poucas esmagadoras”.

Os setores concordam em um ponto: quando o Tocantins se tornar um mercado atrativo para estas indústrias e impulsionar a vinda delas para cá, os impactos na economia serão inúmeros. “Iria ser dinheiro entrando aqui, dinheiro aquece comércio, hotel. Para os produtores, não iria apenas baratear a produção, mas eles teriam a chance de vender o produto a preços vantajosos. Você teria um mercado comprador de soja e teria condições de negociar preço. Imagine como isso poderia gerar empregos”, concluiu Fernandes, gerente da Fieto.

Clima, solo e relevo do Tocantins são favoráveis à produção de soja (Foto: Jesana de Jesus/G1)Futuro da agroindústria

É consenso entre especialistas que a agroindústria impulsionará o desenvolvimento no Tocantins. Agora resta saber se o estado tem estrutura suficiente para receber as indústrias e como fazer para tornar o território atrativo para a vinda de novos capitais. Na concepção do gerente da Fieto, pouco adiantaria industrializar sem ter condições para distribuir a produção para os grandes mercados. “O que falta é um macro canal viário que me permitisse aportar insumos para industrializar a soja e exportar os produtos. Em logística, chama-se canal de suprimento e distribuição”, explicou.

A ferrovia Norte-Sul resolverá esse ponto, segundo ele, mas não é o suficiente. “Precisa da interferência do Estado. Fazer com que as plataformas industriais se aproximem da ferrovia, captem os insumos, industrializem e exportem”. Resolvida essa questão, o governo deve elaborar um plano de desenvolvimento industrial a fim de atrair os capitais e determinar a melhor localização deles do ponto de vista fiscal e geográfico.

O egenheiro da Secretaria Estadual da Agricultura defende que a industrialização no Tocantins não está atrasada, acontece a seu tempo. “Digamos que hoje nossa produção está consolidada, mas cinco anos atrás não era a ponto de atrair uma grande indústria. É um investimento alto”. Queiroz alega que o Estado faz a parte dele em divulgação, benefícios fiscais, obras de infraestrutura, energia e estradas. “O governo está de portas abertas. Aqui é um local atrativo, mas o investimento é privado e vai da escolha do comando dessas empresas”.

A respeito da distância entre os grandes mercados, principalmente do sul e sudeste, o engenheiro concorda que para que as indústrias se instalem aqui é preciso haver uma compensação. “É necessária essa compensação em relação à distância dos grandes mercados consumidores, mas também nós temos os mercados do norte e nordeste que têm poucas esmagadoras”.

Os setores concordam em um ponto: quando o Tocantins se tornar um mercado atrativo para estas indústrias e impulsionar a vinda delas para cá, os impactos na economia serão inúmeros. “Iria ser dinheiro entrando aqui, dinheiro aquece comércio, hotel. Para os produtores, não iria apenas baratear a produção, mas eles teriam a chance de vender o produto a preços vantajosos. Você teria um mercado comprador de soja e teria condições de negociar preço. Imagine como isso poderia gerar empregos”, concluiu Fernandes, gerente da Fieto.