Localizado no Parque Tecnológico de São José dos Campos, iniciativa coordenará projetos inovadores e sustentáveis

Centro foi inaugurado nesta quarta-feira (14) em São José dos Campos

A Embraer e a Boeing inauguraram nesta quarta-feira (14/1), no Parque Tecnológico da Embraer de São José dos Campos, o Centro de Pesquisa em Biocombustíveis Sustentáveis para a Aviação. A iniciativa focará seus principais esforços na coordenação de projetos com potencial de criar substitutos para os combustíveis fósseis utilizados em transportes aéreos. A ação também é uma resposta da indústria de aviação à Associação de Transporte Aéreo Internacional, que exige das empresas a redução pela metade a emissão de CO2 até 2050, em comparação com 2005. O setor é responsável por 2% das emissões totais de gases de efeito estufa do planeta.

A inauguração do centro dá sequência ao estudo ‘Plano de Voo para Biocombustíveis de Aviação no Brasil’, publicado em 2014 e realizado em parceria com instituições de ensino e pesquisa de todo o país. Na publicação, especialistas mapearam e reuniram em um único documento projetos de biocombustíveis para aviação que envolviam biomassa produzida no Brasil. Segundo a Embraer, “a criação do Centro de Pesquisa significa dar o próximo passo, assim tentando preencher todas as lacunas encontradas durante os anos de estudo e garimpar aquelas alternativas com bom potencial”.

Para Mauro Kern, vice-presidente de engenharia e tecnologia da Embraer, esse é um trabalho que deve ser realizado por empresas líderes de mercado. “Nós temos que nos engajar nessa causa. Tanto na questão climática, ambiental e sustentável vamos usar a força que temos para coordenar e promover os projetos mais interessantes. Esse é um centro com o objetivo de proliferar as possibilidades do Brasil”.

Donna Hrinak, presidente da Boeing Brasil e América Latina, entende que a fusão é capaz de gerar melhores resultados do que se a Embraer e a Boeing tentassem enfrentar os desafios sozinhas. Além disso, Donna vê o país como a “menina dos olhos” na cultura de combustíveis sustentáveis – usando o etanol e o biodiesel como exemplos. “O Brasil é pioneiro na indústria de alternativas ambientais e com certeza será um dos protagonistas nos biocombustíveis aéreos”, conta a presidente.

Cercado de desafios

Os executivos garantem que não será fácil encontrar um substituto para o combustível fóssil. “Temos que encontrar uma biomassa com a mesma característica e produção de energia do fóssil. Basicamente, algo física e quimicamente similar e capaz de produzir a mesma energia. Ou seja, absolutamente equivalente ao combustível mineral”, disse Kern. O estudo também expôs outra dificuldade no processo de substituição. Na aviação, o combustível deve se adaptar ao motor e não ao contrário – como ocorre no caso dos automóveis que utilizam o etanol.

Em termos econômicos, as empresas não divulgaram o quanto pretendem investir nos projetos selecionados pelo novo centro. Mas Julie Felgar, diretora da Boeing, comentou sobre o desafio de criar um centro focado no longo prazo parelho às metas de 2050: “Mesmo sabendo que nós teremos um buraco de tempo por falta de tecnologia, a indústria criou uma maneira de cobrar as empresas aéreas que não cumprirem essa meta. Inclusive, em 2016, a Boeing começará a pagar uma ‘taxa de carbono’ por não possuir biocombustíveis efetivos. Enquanto isso, nós trabalhamos para encontrar novos mecanismos”.

Dentre os exemplos de biomassa que mais dão esperanças às empresas, estão a cana-de-açúcar, o óleo comestível, as algas e o óleo de pinhão-manso. “O Brasil é rico em diversidade e tem capacidade para permitir novas tecnologias de biomassa. Nós consideramos esse um dos nossos melhores problemas: variedade de opções”, disse Kern. Para Felgar, o Brasil é o “Éden da biomassa”.

Quase lá

No mundo e no Brasil, aviões com biocombustíveis já foram testados. Durante a Copa do Mundo de 2014, Donna Hrinak afirmou que 200 aviões da Gol realizaram seus itinerários com o bioquerosene – 10% do biocombustível foi diluído nos 90% do querosene comum. Quem também utilizou desse método foi o Grupo Lufthansa, empresa alemã que fechou contrato para abastecer cinco mil aeronaves com a mistura sustentável a partir do segundo trimestre de 2015.

Apesar de não divulgarem por completo, Embraer e Boeing anunciaram que o primeiro projeto – e aposta inicial – está marcado para ser lançado em março deste ano. “Logo as pessoas poderão conhecer o nosso trabalho promissor”, disse Kern.

Segundo Jerry Allyne, vice-presidente de mercado da Boeing, o Centro de Pesquisa em Biocombustíveis Sustentáveis para a Aviação será capaz de mudar o mundo. “Estou animado em fazer parte disso. O nosso objetivo é ambicioso, mas alcançável”, concluiu o executivo.