Especialistas debatem papel do biodiesel na transição energética, na segurança alimentar e na reindustrialização verde do país durante o evento Aprimora+

Na noite, de quinta (24), no auditório do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-DF) aconteceu o Aprimora+ evento que traz possibilidades para os profissionais da área. O tema do debate foi: Biodiesel – produção de alimentos, mobilidade e indústria nacional e trouxe grandes especialistas para o centro do debate. Foram eles, o diretor superintendente da União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski; o secretário de economia verde, descarbonização e bioindústria, Rodrigo Rollemberg; o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso; o diretor do departamento de biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia, Marlon Arraes, ao lado do mediador e vice-presidente do CREA-DF, Antonio Barreto.

No debate foi discutido o um papel estratégico na transição energética e no fortalecimento da economia nacional. Cerca de 75% do biodiesel brasileiro é produzido a partir do óleo de soja, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o que cria uma conexão direta entre o agronegócio, a mobilidade sustentável e o desenvolvimento industrial. Essa integração reforça o protagonismo do Brasil na produção de biocombustíveis, como salienta o chefe-geral da Embrapa AgroEnergia, Alexandre Alonso.

“Estamos muito bem posicionados em termos de desenvolvimento de tecnologia, tanto pela questão agrícola, principalmente. Há um grande esforço de inteligência territorial como estratégia. Na parte industrial, temos feito um trabalho de desenvolvimento de tecnologia para permitir maiores taxas de conversão da matéria-prima em biocombustíveis. E, no caso aí, pensando em modelos em que podemos explorar múltiplos bioprodutos, ou seja, produzir vários produtos a partir daquela biomassa.”

Ao contrário do que se imagina, o uso da soja para biodiesel não compromete a produção de alimentos. O processamento do grão gera, além do óleo, o farelo de soja — altamente nutritivo utilizado na alimentação de animais. Dessa forma, o cultivo da soja atende simultaneamente à demanda energética e alimentar, ampliando a eficiência e a sustentabilidade do setor.

“O Brasil possui vantagens comparativas significativas, como uma matriz energética limpa e abundante, que devem ser transformadas em vantagens competitivas para o país liderar a economia verde global,” cita Rodrigo Rollemberg secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria. Ele ainda, ressaltou que a bioeconomia oferece soluções fundamentais para a transição energética, especialmente no contexto dos biocombustíveis, que incluem o biodiesel, defendeu a necessidade de regulamentações claras e incentivos adequados para impulsionar o setor de biocombustíveis para o estímulo da reindustrialização verde do país.

O vice-presidente do CREA-DF, Antonio Barreto fala sobre como o biodiesel se encaixa nos planos de descarbonização e na política industrial verde do país. Ele cita que em áreas degradadas, utilizando o cultivo de plantas que têm um potencial oleaginoso, aquela área que estava em um passivo, passa a ser um ativo de captador de carbono.

“Logo, a política de investimento em recuperação de áreas degradadas, não só com pastagem, mas de plantas oleaginosas, voltado para a produção do biodiesel, é uma situação bastante interessante no programa de descarbonização da economia”, explica.

O crescimento dessa cadeia movimenta a indústria nacional em diversas frentes. Desde os produtores rurais até as usinas de biodiesel e os fabricantes de maquinário agrícola e industrial, milhares de empregos são gerados em todo o território brasileiro.

“A Embrapa acabou de aprovar, dentro do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a criação de um grupo de trabalho que vai tratar de traçar estratégias para diversificação de matérias-primas, mas também, inclusão pequenos produtores, agricultores familiares, de uma maneira mais efetiva, dentro dos programas de descarbonização, baseado em biocombustíveis. Então, a ideia é a gente olhar não somente o componente tecnológico, mas também o componente de desenvolvimento de cadeia produtiva. Muitas vezes, a gente precisa associar, além da tecnologia, o desenvolvimento da cadeia, capacitação e acesso a crédito”, afirma Alexandre Alonso.

No transporte, a presença do biodiesel derivado da soja contribui diretamente para a redução das emissões de poluentes. Com a mistura obrigatória de biodiesel no diesel fóssil — atualmente em 14% e prevista para subir —, o país avança rumo a uma matriz energética mais limpa, com benefícios tanto ambientais quanto econômicos, explana o diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Torkaski. Nesse mesmo tema, Marlon Arraes, diretor do departamento de biocombustíveis do MME, destaca que o biodiesel é o principal vetor para a redução das emissões de veículos pesados, especialmente em segmentos onde a eletrificação enfrenta desafios de viabilidade.

A soja, portanto, passa a ser não apenas um grão estratégico para exportação, mas também um agente de transformação urbana e ambiental. Além disso, o setor estimula investimentos em tecnologia e inovação, consolidando a soja como uma aliada crucial para o futuro sustentável do Brasil.