Em 2009, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) iniciou, em parceria com a Companhia Paranaense de Energia (Copel), um extenso projeto de pesquisa visando conhecer o potencial das microalgas de águas continentais como matéria-prima para a obtenção de biodiesel. As informações obtidas nesse trabalho são agora apresentadas ao público no livro “Microalgas de águas continentais”, que reúne, sob coordenação dos pesquisadores Diva de Souza Andrade e Arnaldo Colozzi Filho, textos de diversos autores.

As algas formam um grupo de organismos bastante heterogêneo do ponto de vista genético e morfológico. Podem ser encontradas em praticamente qualquer ambiente, mas predominam em meio aquático, continental ou marinho. Muitos desses organismos são bem conhecidos por suas propriedades nutricionais e são largamente utilizados na alimentação humana, como ocorre na culinária oriental, por exemplo. Outros campos de aplicação são a indústria farmacêutica, produção de cosméticos e de obtenção de pigmentos e corantes.

Os pesquisadores estimam que existem cerca de dez milhões de espécies de algas, a maior parte delas formada por indivíduos minúsculos, as microalgas, que somente podem ser vistas por intermédio de microscópio (mas é possível detectar facilmente sua presença porque esses microrganismos formam grandes colônias, caso, por exemplo, da água da piscina que fica esverdeada).

Muitas espécies de microalgas são ricas em lipídeos (gorduras) e, por isso, têm grande potencial para a produção de óleo biocombustível. Daí o interesse no estudo desses organismos.

Inventário

A investigação começou pelo levantamento das microalgas de águas continentais no território paranaense. “Não sabíamos o que existia no Estado”, conta Diva. Seis espécies com potencial para fabricação de biodiesel e duas para produção de gás (metano ou hidrogênio) foram identificadas.

Também foram agregados exemplares obtidos por meio de intercâmbio com universidades e outros centros de pesquisa do Brasil e do exterior, trabalho que possibilitou ao Iapar formar uma coleção de 159 espécies de microalgas.

Cultivo

Alta produtividade, menor exigência em área do que os cultivos tradicionais de oleaginosas como a soja e capacidade de absorver nutrientes de resíduos considerados poluentes — como os dejetos da suinocultura, por exemplo — são algumas características favoráveis ao cultivo de microalgas para obtenção de biocombustível. Além disso, a equipe concluiu que as condições climáticas do Paraná permitem o cultivo em todas as regiões do Estado.

Por isso, outra frente de estudos investigou a viabilidade de produzir esses microrganismos nas propriedades rurais. Considerando que a combinação ambiente aberto e meio líquido proporciona a maior taxa de crescimento, os pesquisadores desenvolveram um biorreator (tanque utilizado para o cultivo desses microrganismos) de baixo custo para pequenos produtores familiares. O equipamento passou por vários testes e se mostrou viável, encontrando-se em processo de patenteamento.

Em paralelo, iniciou-se a busca por substâncias alternativas para o fornecimento de nutrientes para “a criação” das microalgas nos tanques, em substituição aos caros reagentes químicos comerciais utilizados para essa finalidade. Estima-se, por exemplo, que são produzidos no Paraná cerca de 1,3 mi de metros cúbicos de dejetos de suínos, uma das possibilidades avaliadas.

No campo do processamento agroindustrial, a vinhaça oriunda da moagem de cana-de-açúcar e o resíduo da indústria de suco de laranja, composto de bagaço e água de lavagem, são materiais abundantes no Estado que podem servir como meio de cultivo de microalgas. Outro resíduo causador de impacto ambiental, e também considerado no estudo, foi o chorume de aterros sanitários, que pode infiltrar no solo e poluir as águas subterrâneas.

“Todos esses resíduos foram avaliados e são fontes viáveis para a nutrição de microalgas” afirma Diva, citando, como vantagens de seu uso a redução do impacto que esses produtos causam ao ambiente e a diminuição dos custos de produção. Ela enfatiza, no entanto, a necessidade de mais estudos sobre a utilização de cada um deles.

Biofertilizante

O estudo também constatou que a biomassa que sobra da extração dos lipídeos das microalgas cultivadas é ainda rica em nutrientes. “Abre-se uma frente de estudos sobre a viabilidade de aproveitamento em rações para animais e fertilizantes para a agricultura”, explica a pesquisadora.

Além disso, algumas espécies de microalgas, denominadas cianobactérias, são capazes de captar e fixar o nitrogênio da atmosfera, o que acena com a possibilidade de seu uso como fertilizante ou melhorador de solos. Há, ainda, “um efeito pouco estudado desses microrganismos sobre o crescimento das plantas”, conclui Diva Andrade.

Aquisição

A obra “Microalgas de águas continentais” é composta por três volumes, que podem ser comprados separadamente — “Potencialidades e desafios do cultivo” (R$ 40); “Produção de biomassa e coprodutos” (R$ 50) e “Coleção IPR de microalgas” (R$ 25). Aquisições aqui.