A Argentina é um dos maiores produtores e exportadores de biodiesel do mundo, tendo principalmente o óleo de soja como principal matéria-prima. Só em 2022, a produção de biodiesel do país avançou 11% em relação ao ano anterior, chegando a 2 milhões de metros cúbicos. No entanto, a indústria argentina de biodiesel enfrenta inúmeros desafios, como a falta de regulamentação da nova lei do biodiesel, ausência de diálogo sólido com a administração pública e o pouco conhecimento da sociedade argentina acerca dos benefícios do biodiesel. A avaliação desses desafios é de Axel Boerr, presidente da Câmara Panamericana de Biocombustíveis Avançados (Capba, na sigla em espanhol) e vice-presidente da Explora S.A, e de Agustina Mendiburu, advogada da Capba.

O país aprovou em julho de 2021 uma nova lei que permite a redução na quantidade de biodiesel à base de soja a ser misturado ao diesel fóssil. Essa lei prevê um uso mínimo de biodiesel de 5%, que pode cair para 3%, ante 10% anteriormente. Segundo Axel, a nova lei, que ainda não foi regulamentada, além de não ajudar o setor como deveria, determina que o preço tem que cobrir o custo de produção. No entanto, ele relembra que os preços ficam fixos em pesos, mas o custo de produção é em dólares – o que causa descasamento na formação dos preços e insegurança jurídica para produtores. Soma-se a isso, segundo o presidente da Capba, o baixo conhecimento da população acerca dos benefícios do biodiesel tanto para o meio ambiente como para a economia.

Em junho de 2022, as transportadoras argentinas solicitaram um aumento da mistura de biodiesel no diesel, que estava em 5%, para solucionar o problema de abastecimento que afetava todo o país. Em agosto de 2021, o governo argentino havia reduzido a mistura de 10% para 5%, podendo chegar a 3%, com o objetivo de aumentar a oferta de óleo de soja para exportação e reduzir os preços internacionais do produto.

Entretanto, em junho de 2022, o governo argentino anunciou que aumentaria a proporção obrigatória de biodiesel utilizado na mistura com combustíveis fósseis para suprir a maior demanda local por diesel, principalmente do setor agroexportador. A medida foi tomada pelo governo diante da escassez de diesel no mercado interno, causada pela baixa produção das refinarias locais e pela dificuldade de importação do produto.

Acerca da relação do setor de biodiesel do país com o poder público, Agustina afirma que a relação é quase inexistente, e que é sempre muito difícil estabelecer um diálogo, seja com o governo atual ou com outros governos que passaram pela Casa Rosada. Segundo Axel, a Secretaria de Energia do país considera que a transição energética deve ser feita pelo gás natural e não pelo biodiesel, isso porque a instituição acredita que o biodiesel gera desmatamento, Axel também afirma que um dos principais problema enfrentados na relação com o poder público é a falta de honestidade para com o setor do biodiesel.

Tanto Axel Boerr como Agustina Mendiburu estiveram presentes na IV Biodiesel Week, evento realizado pela Ubrabio, entre os dias 8 e 11 de agosto de 2023, na sede do Ministério de Agricultura e Pecuária (Mapa) em Brasília, e que contou com a presença de autoridades públicas e importantes nomes do setor do biodiesel no Brasil. Agustina achou a experiência na IV Biodiesel Week “muito boa” e afirmou que gostaria de participar novamente do evento, que para ela apresenta uma solidez que não é comum em eventos do setor no seu país de origem.

Para Axel o evento mostrou como a relação dos atores no Brasil é mais madura do que na Argentina, e ressaltou que a sua presença e de Agustina na IV Biodiesel Week é o “primeiro passo” de algo que está sendo construído em conjunto, afirmou também que conhecer o diretor superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski, foi uma ótima experiência e que a Mesa IV, com o tema Biodiesel e Agricultura Familiar, foi excelente.